Meus queridos irmãos, vamos ler Hebreus 12:1-3
1 Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, 2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. 3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.
No texto que acabamos de ler, o escritor sagrado começa assim: “Portanto, também nós…”, e desta maneira une o que vai nos dizer ao que acabara de falar no capítulo 11, onde temos aquela célebre descrição do que significa ter uma vida de fé em Deus.
No capítulo 11 ele nos faz lembrar, e desta maneira honra, aquela imensa série de homens e mulheres dos quais Deus se agradou, pois a despeito de todas as dificuldades que experimentaram, confiaram em Deus, enfrentaram perigos, alcançaram promessas, sofreram, mas permaneceram firmes, como quem vê aquele que é invisível.
Mas, que coisa maravilhosa a nosso respeito: ele diz que sem nós, os antigos heróis da fé ainda não estavam completados.
E começa o capítulo 12 dizendo: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos a tão grande nuvem de testemunho dos antigos…”, e desta forma nos ensina que nós, os que somos da fé no tempo presente, somos herdeiros, e continuadores daquela antiga e honrosa linhagem de gente das quais o mundo não era digno.
Gente de Deus que vive neste mundo, mas não é deste mundo, mas aqui está apenas de passagem, peregrinando, que está destinada a morar na Jerusalém celestial.
Nós, os que cremos em Jesus, entendemos a grandeza do amor de Deus para conosco, a grandeza de sua misericórdia demonstrada no fato de que ele, Deus, entregou seu próprio Filho, o Senhor Jesus, para ser o sacrifício em favor de nossos pecados, de tal modo que agora já não somos mais considerados culpados diante de Deus, mas pelo sangue de Jesus, nossa consciência, coração e vida foram completamente lavados, purificados, e já não há mais, diante de Deus, nenhuma condenação pesando contra nós[1].
Temos certeza de nossa salvação, temos consciência de que, neste mundo, estamos apenas de passagem, que a nossa pátria está nos céus, que lá é o nosso destino, lá está o nosso tesouro e o nosso coração.
Mas irmãos, enquanto estamos aqui, em nossa peregrinação, caminhando para o céu, estamos como que em “território inimigo”:
A cada dia de nossa vida, somos cercados de todos os lados, por toda a sorte de forças espirituais do mal que tentam cercear a nossa caminhada rumo ao céu[2].
O pecado tenazmente nos assedia, se insinua.
Tentações surgem do lado de fora, através de circunstâncias difíceis, de relacionamentos conflituosos, de injustiças que sofremos, de propostas indecentes.
Tentações surgem do lado de dentro, pois embora o espírito esteja pronto, a carne é fraca, e o querer fazer o bem, ainda que esteja dentro de nós, muitas vezes está caminhando lado a lado com o não querer fazer o bem[3].
Muitas vezes pensamos, entendemos o que é certo, compreendemos qual é a vontade de Deus, determinamos dentro de nossa mente que na próxima vez, na próxima ocasião, o pecado não terá domínio sobre nós, pois não estamos debaixo da lei, e sim debaixo da graça.
Determinamos que na próxima oportunidade, custe o que custar, faremos o que é certo, que vamos nos negar a nós mesmos, colocar o velho homem na cruz, mas só para depois perceber tristes que ele ainda está lá, não muito profundo, que basta alguma contrariedade para ele vir à superfície na forma de ira, inveja, ciúme.
De todos os lados, de dentro, de fora, o pecado nos assedia, querendo impedir o nosso avanço para o céu, o nosso crescimento em santificação, de modo que muitas vezes bate o desânimo, a vontade de parar, desistir, de largar mão.
Pois uma coisa é clara em nossa mente: vida de quem vai morar no céu, vida de quem conhece a Deus, vida santa, e pecado, não combinam.
E nestas horas esta palavra dada pelo Espírito precisa ser relembrada, precisa ser meditada, porque o Espírito, que nos conhece, e nos assiste em nossas fraquezas, no-la deu justamente para isto, para nos consolar, para nos animar; através dela ele como que nos toma pela mão, vai à nossa frente e nos conduz, de modo que se já não continuaríamos mais caminhando, agora o fazemos porque ele nos toma pela mão e caminha à frente.
E o que nos diz aqui o Espírito?
Ele diz: “Quando você estiver desanimado, se sentir cercado pelo mal, quando você estiver com vontade de desistir, persevere”.
“Olhe para Jesus, aquele que é a fonte de sua fé”.
“Pense nele, pois ele, em troca da alegria que lhe estava proposta, em troca da alegria de fazer a vontade do Pai, de alcançar a salvação dos homens, de ser recebido de novo na glória do céu, ele não fez caso das humilhações, da oposição dos homens, das tentações; ele suportou tudo até o fim”.
“Olhe para Jesus”.
Precisamos olhar para Jesus porque nele temos perdão para os nossos pecados, e porque nele temos o socorro para vencer o pecado que tenazmente nos assedia.
Precisamos olhar para Jesus a cada instante de nossa carreira em direção ao céu.
Jesus é a nossa luz, e então olhar para Jesus é fonte de iluminação para a nossa alma.
Jesus é a nossa força, a nossa justiça, a nossa santificação, a nossa redenção, o nosso tudo.
Então olhemos para Jesus.
- Olhar para Jesus é fonte de consolação para os que sofrem tentações
Existem muitas coisas que podem fazer com que soframos, e quando olhamos para a palavra de Deus, vemos que nosso Senhor, por amor a nós, tornou-se homem como nós, e sentiu em sua própria carne, e em seu próprio coração, as mesmas dores, as mesmas aflições, as mesmas lutas
Como disse Isaías a respeito de Jesus, ele é homem de dores e que sabe o que é padecer.
Jesus se fez homem, mas não um homem rico:
Um homem pobre que viveu no meio de gente pobre…
Que dormia, como os de sua classe social, numa cama que era apenas um pouco de pano espalhado no chão, e enrolado assim que amanhecia para ter mais espaço na casa…
Que se colocasse a “mão no bolso”, não teria dinheiro para pagar o imposto…
Que não tinha sequer uma montaria própria para seus deslocamentos de um lugar para outro.
Um homem com todas as limitações que temos, que sentiu fome, cansaço, sede.
Um homem que amou profundamente as pessoas à sua volta (amou profundamente? Ele é a própria encarnação do amor!), mas que, voltando a Isaías, era o mais desprezado, o mais rejeitado de entre os homens.
Um homem que sentiu em si mesmo quão difícil é a nossa luta contra o pecado, pois ele mesmo, à nossa semelhança, foi tentado em tudo, de todos os modos.
Mas eu quero, com os irmãos, olhar para Jesus naquele momento que é a maior de todas as suas tentações, quando o grande desejo dele, como ser humano perfeito, era o de se desviar daquela horrível morte na cruz.
Mas ele sabia que se não fosse por sua morte você e eu não teríamos vida, e então ao mesmo tempo ele queria morrer na cruz, cumprindo assim a sua própria justiça divina e nos trazendo salvação.
Então, nesta hora terrível, de desejos contraditórios, de muita luta dentro de si, ele se apega ao Pai, com todo o seu ser, e busca forças para não desistir.
Mc 14:33-36
33 E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. 34 E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. 35 E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. 36 E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.
Quando eu olho para Jesus aqui, eu sou não apenas consolado ao ver seu conflito interior, a sua luta, mas sou ensinado, fortalecido e encorajado a fazer como ele.
Ele se apega a Deus com todo o seu ser, e de uma forma inteiramente inusitada para o judeu piedoso do Antigo Testamento, pois ele não usa uma expressão comum (“Pater”, de onde vem a nossa palavra “pai”), para se dirigir a Deus.
Ele usa uma palavra aramaica própria das crianças, “Aba”, “papai, paizinho”.
Mais tarde, Paulo escrevendo sobre o Espírito de Deus habitando em nós, diz que não recebemos o espírito de escravidão, para vivermos atemorizados, mas recebemos o espírito de adoção, o espírito que faz com que nos sintamos filhos de Deus, e pelo qual clamamos: “Aba, Pai”[4], “Papai”.
Sim, meu irmãozinho querido, minha irmãzinha querida, nas suas lutas diárias, você pode olhar para Jesus, que entende a sua milícia, e com ele aprender que Deus, o Altíssimo, habita num alto e sublime trono, mas também habita com o abatido e contrito de espírito, e assim como você respeita o seu pai da terra, mas ao mesmo tempo gosta de sentar no colo dele e dizer papai querido, assim com o Pai do céu que, como diz Isaías, carrega você nos braços desde que você nasceu, e que vai carregar até você morrer[5].
Então, nos seus sofrimentos, nas suas lidas, nas suas tentações, olhe para Jesus: veja como ele também sofreu, por você, e veja também como ele lidou com o sofrimento, apegando-se ao Pai celestial.
- Ao olharmos para Jesus também somos consolados com o grande amor que ele tem por nós
A Bíblia nos ensina que Jesus se encarnou, sofreu, foi humilhado, rejeitado, morreu na cruz.
Ensina também o porquê – Jesus fez tudo isto, e suportou tudo isto, por amor a nós.
Jesus nos diz que “Deus amou ao mundo com tanta intensidade que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” [6].
Você, de todo o seu coração, crê em Jesus? Então você pode ler assim: “Deus me amou de tal maneira que deu seu filho unigênito para que eu não pereça, mas tenha a salvação eterna”.
É por isto que o apóstolo Paulo escreveu: “o Filho de Deus me amou, e a si mesmo se entregou por mim” [7].
Eu gostaria, dentro deste contexto, de olhar para Jesus, quando colocado na cruz, e ali contemplar a intensidade do seu amor por nós.
Is 53:3,7
3 Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.
7 Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
Jesus foi torturado fisicamente, foi morto, mas acho que o que mais doeu foi o ser rejeitado, o ser desprezado, o ser humilhado.
Pelo mundo que ele criou, e que tanto amou, ele foi odiado.
Mas existe uma coisa pior do que sentir-se abandonado pelos homens.
Mt 27:45,46
45 Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. 46Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Logo que amanheceu naquele dia Jesus foi entregue para ser açoitado e crucificado.
Ao meio dia ele já havia sido chicoteado, carregara a cruz pelas cidades de Jerusalém, debaixo da zombaria de muitos, seus pés e mãos estava dilacerados de dor e ele pendia pregado naquelas duas estacas de madeira.
Então vieram as trevas.
Uma imensa escuridão, um silêncio tenebroso que durou cerca de três horas.
E ali, naquelas três longas horas todo o castigo que era nosso, estava sendo descarregado sobre ele: as nossas idolatrias, as nossas infidelidades, as nossas mentiras, as nossas hipocrisias, as nossas inimizades.
Então ele clama, citando o Salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste”?
Mas ele não fez esta citação apenas de modo retórico. Foi o intenso clamor de sua alma, a expressão daquilo que ele estava experimentando de verdade.
Isto é que é pior que ser rejeitado pelos homens. É ser desamparado por Deus. A coisa mais dolorosa do mundo é você ser rejeitado por quem você mais ama, era assim que ele estava se sentindo.
Meu irmão, minha irmã, não é possível olhar para Jesus na cruz, sem compreender quão grande é o seu amor por nós.
Se grande é o seu amor, grande é o seu perdão. Se você crê no amor de Jesus, então saiba também disto: você é um homem perdoado, uma mulher perdoada; nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Agora, ao olhar para Jesus em sua humilhação na cruz, eu quero também lembrar de como ele agiu, mesmo quando se sentiu desamparado por Deus.
Lc 23:44-46
44 Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45 E rasgou-se pelo meio o véu do santuário. 46 Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.
Ele não deixou de esperar em Deus, de entregar-se a Deus.
E nisto aprendemos com ele: mesmo quando a escuridão for total, mesmo quando não houver nenhuma luz[8], mesmo quando me sentir sozinho, ainda que ele me mate, em Deus esperarei[9].
- Eu também quero, com meus irmãos, olhar para Jesus na sua ressurreição
Sim, porque segundo a própria Palavra de Deus, de nada adiantaria Jesus ter morrido por nós, se ele não triunfasse sobre a morte[10]. De nada nos adiantaria um Salvador morto, um “deus morto”.
Mas ele por nós não somente morreu: ele também ressuscitou, subiu aos céus, e está assentado à mão direita do Pai.
Hb 1:3
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas
Agora, quando olhamos para Jesus em sua ressurreição, o Espírito Santo nos ensina três verdades às quais devemos nos apegar com toda a firmeza
Primeira: no seu estado ressurreto, o Senhor Jesus está à direita do trono de Deus, para ali, diante do Pai, interceder incessantemente por nós[11].
Segunda: no seu estado ressurreto, o Senhor Jesus está espiritualmente entre nós, nos fortalecendo, nos encorajando, nos livrando, nos abençoando de todas as formas.
Ele prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos.
O Apóstolo Paulo também escreveu que ele habita em nossos corações, quando diz: “agora já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”[12].
E aqui na carta aos Hebreus está escrito que ele se faz presente no meio da igreja reunida[13].
Também podemos citar sua promessa de que onde estão dois ou três reunidos em seu nome, ele está no meio deles[14].
A terceira verdade relacionada à ressurreição de Jesus diz respeito à sua vinda:
No dia em que Jesus subiu para o céu, os discípulos ficaram olhando para ele enquanto subia entre as nuvens.
De repente apareceram dois anjos no meio deles, perguntando: “Porque vocês estão assim tão admirados? Este mesmo Jesus que vocês viram subir, da mesma maneira voltará dos céus”[15].
E esta se tornou então a grande esperança de todo o crente: no seu estado ressurreto, Jesus voltará do céu, e o veremos pessoalmente, face a face.
Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele. Se agora com ele sofremos, então, com ele seremos glorificados[16].
Nunca mais seremos entristecidos. Nunca mais seremos tentados. Nunca mais seremos tenazmente assediados pelo pecado.
Conclusão e aplicação
Tal como Abraão e Sara, tal como Moisés, e Ana, e Raabe, e Samuel, e Rute, e Noemi, e José, e toda aquela imensa galeria de santos do Antigo Testamento, nós somos peregrinos na terra.
A nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Senhor Jesus.
Satanás, o mundo e a carne tentam impedir a nossa carreira. O pecado tenazmente nos assedia. Mas não estamos correndo sem rumo. Temos alguém para nos fortalecer, a nos ajudar, a nos socorrer,em todo o tempo: o Senhor Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador.
Você está sendo tentado? Olhe para ele.
Olhe como ele enfrentou as tentações, e agarre-se ao Pai, como ele fez.
Olhe também como ele sofreu o castigo pelos teus pecados: e tenha fé que o sofrimento dele não foi em vão. Se acontecer de você pecar, não esmoreça. Confesse a Deus, confie no seu perdão, e busque novas forças, para lutar e não pecar mais.
Quantas vezes for preciso, confesse, mas não desista. Confie naquele que está à direita de Deus intercedendo por você, para que tua fé não desvaneça.
E “olhe pro céu”. Pois assim como Jesus subiu ao céu e está à direita de Deus, assim também ele voltará, e então estaremos para sempre com ele.