Blog do Levany Júnior

EXTREMOZ RN-Enquanto isso, nada sobre a propina Serra/Temer, por Armando Coelho Neto

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Enquanto isso, nada sobre a propina Serra/Temer

por Armando Rodrigues Coelho Neto

A Polícia Federal tem como centro de formação profissional a Academia Nacional de Polícia, localizada em Brasília/DF. É considerada a maior e melhor do gênero na América do Sul e, mundialmente, fica atrás de poucas instaladas em grandes países. É lá que técnicas inspiradas nas polícias do Canadá e Reino Unido são ensinadas e até valores nobres, aprendidos ou não… (pronto, colegas, já elogiei). É de lá também que saem os bons policiais e os capitães de mato, estes últimos grandes referências no golpe de estado em curso.

Durante muito tempo, aquela unidade foi dirigida por um delegado federal sem qualquer compromisso com o social, forte identidade com a ditadura militar, que mais tentou uma frustrada candidatura à Direção-Geral da PF. Mas, esse mesmo servidor teve uma excelente ideia, quando tentou criar uma forma equilibrada de punir os policiais infratores. Para ele, um servidor de bons antecedentes, por exemplo, não poderia ser punido de forma diferente de um estado para outro, quando em iguais ou similares condições. Desse modo, tentou algo chamado referenciais de “dosimetria”, deixo dessa conversa com o leitor do GGN.

E por que o faço? Pelo estado de golpe e por ter tomado conhecimento de que um delegado federal recebeu uma pesada pena, por haver tratado um colega de forma desairosa, em um grupo fechado numa rede social. A grave infração praticada por ele foi ter chamado um colega de “sujeito”. Assim como no processo do golpe Temer/Cunha/Serra/Obama, não adiantou se explicar, defender, recorrer, coisa e tal, porque o processo aberto contra ele foi feito para punir e não para aferir coisa alguma. E, ao que consta, “de cima” teria vindo um recadinho: “é só para ele saber quem manda”.

Pois bem senhores, não fujam, leiam mais um pouco. Retomo o tema não apenas pelo golpe, mas sim porque o policial que fez tiro ao alvo no rosto da Presidenta Dilma Rousseff pegou apenas três dias de suspensão. Ainda assim, tentaram uma manobra para dizer que o assunto estava prescrito, alegação logo derrubada, pois afinal a instituição ainda tem alguns bons observadores. De todo modo, esperaram o servidor ser promovido, posto que se punido antes, não poderia receber o prêmio legal pelos bons serviços prestados à nação, ao escorraçar publicamente a maior Autoridade do País.

O servidor que chamou o colega de “sujeito” num âmbito restrito e interno teve uma pena maior do que a do policial que, publicamente, afrontou a Presidenta da República. Pior, sua pena foi aplicada rapidamente para perder o direito de ser promovido, e, de quebra, ainda teria recebido o “recadinho” transcrito lá em cima. Como misturo alhos com bugalhos, lembrei do recadinho de um empresário sobre o golpe: “Tem crime não. A questão é econômica, é só para o PT saber quem manda nessa m….”

Claro que muitos policiais já sentem saudade daquele ex-diretor da Academia Nacional de Polícia, mas, pior sorte teve Protógenes Queiroz – o delegado federal que ousou prender um bandido de estimação dos jornalões. Falo do mesmo Protógenes que também prendeu Daniel Dantas (solto duas vezes por um certo Gilmar Mendes) e que foi punido com a perda de cargo público. Seu crime? O mesmo cometido durante quase todos os dias o dia todo, por oficiantes da Operação Farsa Jato. Leia-se, tornar público, em nome do interesse público (sabe-se lá que público), aquilo que deveria ser mantido em sigilo. Resumindo, violação, quebra de sigilo, etc, etc.

Faz pouco tempo, em editorial, o jornal The New York Times criticou a postura dos parlamentares golpistas brasileiros. Embora não tenha tratado o assunto como farsa jurídica, nem de golpe da maconha intrujada da forma como o fazemos, aquele jornal, que merece tanta credibilidade dos golpistas, considerou desproporcional eventual pena que se pretendem impor à Presidenta Dilma Rousseff. Como costume de casa vai à praça, já dizia vovó, a Polícia Federal que é useira e vezeira da desproporcionalidade ao punir seus servidores, levou sua experiência para o arsenal do golpe de estado.

Do golpe ao Protógenes, anomalias corrigíveis pelo Poder Judiciário. Desde que ainda existam juízes em Berlim. Enquanto isso…

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

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