EXTREMOZ RN-As usinas, o etanol e o Sindicato de Ladrões, por Rui Daher


na CartaCapital

As usinas, o etanol e o Sindicato de Ladrões

por Rui Daher

Más línguas, que boas são raras nas folhas e telas cotidianas, dizem que dezenas de usinas, as principais incluídas, estão processando a União, se é que alguma temos. Só a praticamos na forma de Federação de Corporações “dá o meu aqui que eu estou pouco me lixando com o seu aí”.

Aludem supostas perdas provocadas pela política de controle de preços da gasolina entre 2011 e 2014, governo de Dilma Rousseff, presidente eleita com 54 milhões de votos e deposta por um golpe jurídico, midiático e congressual.

Coisa de “Sindicato de Ladrões”, o magistral filme de 1954, realizado pelo cineasta greco-americano Elia Kazan.

Elas se acham no direito, querem o que perderam no período, pois a regrinha de três do livre mercado brasileiro diz que não importam custos, condições de produção, clima, cotação no mercado internacional do petróleo, ela é soberana.

Estando melhor ou não o mercado para o açúcar, o álcool deverá navegar conforme faz vigorar a continha: preço do etanol hidratado igual a 70% do preço da gasolina.

E quem deve respeitar a lei?

A União, claro, mesmo em meio a tanta desunião, exceção aos R$ 2,0 bilhões liberados a emendas de parlamentares em troca de apoio no Congresso à permanência de Temer.

A continha etanol-gasolina foi estabelecida há décadas e nunca revista, apesar das mudanças tecnológicas nos veículos, a diversidade de modelos, as leis ambientais, a renovação de frotas, as taxas para importação, ela até hoje vigora. Sempre achei que, mais do que métodos técnico-científicos e dinâmicos, procuraram um indicador médio que fosse fácil para a aritmética do consumidor.

De qualquer forma, assim foi, realmente, no período indicado. Governo e Petrobras não observaram a relação e o setor sucroalcooleiro não se beneficiou da continha.

Não que, frequentemente, eu deixe de perguntar ao amigo Pires, o raso, se a indústria sucroalcooleira queria mesmo vender mais etanol no mercado interno, diante dos preços de exportação do açúcar na época.

Daí a pedir ressarcimento de nós, a União, a distância é longa demais. Nessas horas, o que se faz? As entidades de classe, ou mesmo as grandes empresas, encomendam estudos às consultorias especializadas. Fizeram e deu o que se queria: perderam cerca de R$ 24 bilhões. Cacetada a sair da União, ou seja, nós escoteiros.

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Não deve ter sido difícil chegar no resultado: bastava pôr a queda no consumo dentro da regrinha de três. As consultorias, se honestas, nem deveriam ter cobrado para isso.

Que dinheiro da União, que nada.

Quer dizer que se a cenoura deu uma baita produção e o chuchu não, devemos manter a relação da nossa salada em 70%?

São poucos os segmentos da agropecuária que têm a flexibilidade do setor sucroalcooleiro de operar os mercados interno e externo, com a vantagem de dançar conforme a música – açúcar no baião, etanol no maxixe.

Recentemente, para segurar a dancinha do etanol de cana andamos importando etanol de milho, aquele que, no passado, dizíamos, ele sim, ser prejudicial à produção de alimentos.

Aliás, na semana passada, festejamos a inauguração de uma usina de etanol de milho, no Mato Grosso. Ô União Europeia, ô Zé Graziano, não prejudica mais a produção de alimentos?

A produção de cana, em toneladas, cresceu 2,5% ao ano, entre 2011 e 2017. A de açúcar permaneceu, praticamente, estável. A de etanol, em bilhões de litros, foi de 23,43 para 27,81, um crescimento de 3,5% ao ano, com pico na safra 2015/16, o que representou um volume 25% acima da média dos demais anos.

É justamente aí que surge a contestação das usinas.

A Federação de Corporações, como assim reconhecida, tem dessas. Apoia as privatizações quando se sabe na marca do pênalti e que a compensação da União será caldo de galinha para manter a riqueza de várias gerações dos antigos donos. Quando o mercado, na voz do lúgubre Paulo Skaf, pede liberdade, e esta vai contra seus resultados, pedem-nos ressarcimento.

Da União? Não se iludam. De nós. De tirarem dos meus, teus, nossos bolsos.

O ressarcimento usineiro, por culpa de Dilma e da Petrobras, deve-se a um período em que, segundo o Index da FAO para commodities, o açúcar estava 57% acima da cotação atual.

Você faria o quê? Bateria panelas, pediria o impeachment, acharia em Temer e Meirelles a solução. Se lê CartaCapital acho que não. De minha parte, confesso. Ajoelhar-me-ei aos pés da cama e rezarei para que alguma AK-47 surja para acabar com todos “vocês sabem quem”.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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