21/08/2014 14h33 – Atualizado em 21/08/2014 17h13
‘Ela que vá mandar na Rede dela’, diz dirigente do PSB sobre Marina Silva
Carlos Siqueira, secretário do partido, deixou coordenação da campanha.
Para Marina, saída do ex-coordenador é fruto de um ‘equívoco’.
Um dia após o PSB oficializar a candidatura de Marina Silva para a Presidência, o coordenador-geral da campanha de Eduardo Campos , Carlos Siqueira, anunciou nesta quinta-feira (21) seu desligamento do posto alegando divergências com a ex-senadora. Ao sair de reunião do PSB, Siqueira – que é secretário-geral do partido –, mandou um recado para Marina:“ela que vá mandar na Rede dela”, disse o dirigente, referindo-se ao grupo político da presidenciável, a Rede Sustentabilidade. Tentando evitar polêmicas com a cúpula do PSB, Marina disse que a divergência era motivada por um “mal entendido”.
Quadro histórico do PSB, Siqueira confirmou sua saída da coordenação da campanha na manhã desta quinta, pouco antes de os dirigentes socialistas se reunirem, em Brasília, com os demais partidos da coligação. Indagado por repórteres se estava magoado com a candidata ao Planalto, o secretário-geral criticou o fato de Marina ter feito indicações para cargos-chave da campanha sem consultar o PSB.
“Magoado, eu não estou, não. Não tenho mágoa nenhuma dela. Apenas acho que quando se está numa instituição como hospedeira, como ela [Marina] é, tem que se respeitar a instituição, não se pode querer mandar na instituição. Ela que vá mandar na Rede dela porque no PSB mandamos nós”, disse Siqueira.
O ex-coordenador da campanha disse ainda que Marina não representa o legado de Eduardo Campos e que, por isso, não vai fazer campanha para ela.
“Acho que ela não representa o legado dele [Eduardo Campos] e está muito longe de representar o legado dele. Eu não vou fazer campanha para ela porque eles eram muito diferentes, politicamente, ideologicamente, em todos os sentidos”, afirmou Siqueira.
O ex-coordenador também criticou o fato de, na opinião dele, Marina ter feito alterações na equipe da campanha sem consultar o PSB.
“Ora, ela nomeou o presidente do comitê financeiro da campanha, cuja responsabilidade da prestação de contas é do partido. Ela não perguntou nada ao PSB, ao invés de discutir o assunto com o partido […] Nós não podemos oferecer o partido a uma candidatura que procede dessas maneiras”, disse.
Segundo o Blog do Camarotti, o mal-estar público entre Siqueira e Marina preocupou dirigentes do PSB. A cúpula do partido teme que as críticas do ex-coordenador possam gerar novas baixas na campanha presidencial.
‘Equívoco’
Pouco depois das declarações de Siqueira, Marina deixou a reunião que estava fazendo com os demais partidos da coligação e foi questionada por jornalistas sobre a reação do secretário. Ela classificou a fala como “equívoco” e “incompreensão” e a atribuiu à “gravidade do momento, ao tensionamento”.
“Há que ter compreensão com as sensibilidades das pessoas e essa compreensão, essa capacidade eu tenho. Sempre digo que prefiro sofrer uma injustiça a praticar uma injustiça”, disse. Ela ainda acrescentou que tem “profundo respeito” pelas pessoas. “Ainda mais nesse momento de dor”, disse em referência à morte de Eduardo Campos.
Trocas na campanha
Durante longa reunião dos dirigentes do PSB e da Rede nesta quarta-feira (20), Marina acertou algumas trocas entre os integrantes da coordenação da campanha. Ela deu mais poderes a dois integrantes da Rede que são de sua confiança.
O deputado federal Walter Feldman, que era o porta-voz da Rede, foi colocado como coordenador-geral adjunto para atuar ao lado de Siqueira. Bazileu Margarido, um dos militantes que trabalharam pela fundação da Rede, foi nomeado titular do comitê financeiro da campanha. Ele ocupava o lugar que foi designado a Feldman.
O gesto de Marina foi interpretado por Siqueira como uma demissão, segundo avaliaram pessoas ligadas a candidata. O secretário gostaria de ter sido indicado pessoalmente pela ex-senadora e não gostou do fato de ela ter designado ao PSB a tarefa de escolher seus integrantes na coordenação.
“Ele me disse que foi uma maneira elegante de a Marina o destituir do cargo”, relatou Bazileu Margarido. Durante a reunião, a senadora chegou a pedir desculpas a Siqueira, mas ele não voltou atrás e decidiu romper com a candidata.
Novo coordenador-geral
O presidente do PSB, Roberto Amaral, concedeu entrevista ao lado candidata e reiterou que “não há nenhum ruído entre o PSB e a Rede”. A declaração de Siqueira, segundo Amaral, é um “mal entendido”. “Uma reação puramente pessoal que eu respeito sem nenhum conteúdo político”, concluiu.
Ele também disse que o partido indicará um novo coordenador-geral para a campanha ainda nesta tarde. Ele disse ainda que Siqueira – que é primeiro-secretário da legenda – trabalhará ao seu lado no comando do partido.
Coligação
Após parte dos seis partidos que integram a coligação do PSB reclamar de não ter sido consultado sobre a escolha de Marina e Beto Albuquerque para a disputa presidencial, os dirigentes socialistas se reuniram nesta quinta com as siglas aliadas. Ao final do encontro, as legendas aprovaram a nova chapa. Além do PSB, integram a aliança PPS, PPL, PHS, PRP e PSL.
O PSL foi o único que não deu o aval. O presidente da sigla, Luciano Bivar, não compareceu à reunião na sede nacional do PSB. Nesta quarta, o PSL já havia anunciado que não ficou satisfeito em ter Marina como candidata e advertiu que poderia deixar a coligação.
Ao G1, Bivar disse que se reunirá nesta sexta-feira (22) com Marina Silva, em Recife, para definir o futuro do partido dentro da coligação.