No dia em que foi morto, o menino Bernardo Boldrini foi levado pela madrasta Graciele Ugulini aFrederico Westphalen, na Região Norte do Rio Grande do Sul, com o pretexto de que buscariam um aquário. A informação foi divulgada pela Polícia Civil nesta terça-feira (13) (veja a entrevista coletiva no vídeo acima). Além da madrasta, o pai do menino, Leandro Boldrini, e a assistente social Edelvania Wirganovicz foram indiciados por homicídio qualificado.
Três Passos, RS (Foto: Jonas Campos/RBS TV)
O corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova no dia 14 de abril, dez dias depois do crime. De acordo com as investigações, ele foi morto com uma injeção letal após viajar deTrês Passos, no Noroeste do estado, onde morava, para Frederico Westphalen, a 80 km de distância.
A delegada Caroline Bamberg explica que todas as pessoas próximas de Bernardo afirmam que ele estava empolgado em ter um aquário e feliz com a possibilidade do presente. A viagem, porém, teria sido usada como pretexto para levar o menino, matá-lo e, posteriormente, ocultar o cadáver. Uma prova pericial reforça a versão. Através do auto de necropsia, a polícia identificou a presença do medicamento Midazolam no corpo da vítima.
Em sua apresentação, a delegada afirmou ainda que todas as pessoas que conheciam o menino afirmam que ele não teria viajado espontaneamente Graciele, já que eles declaradamente não gostavam um do outro e não se falavam. No dia do assassinato, entretanto, a investigação apontou que a criança foi ‘bajulada’ na família.
“Tivemos a afirmação de uma pessoa que Leandro e Graciele bajularam o Bernardo no meio-dia do dia 4. Inclusive, a Graciele deixou o menino brincar com a meia-irmã Maria Valentina, coisa que ela nunca deixava. Era um dos pedidos do Bernardo, que ele queria brincar com a irmã. Aquele clima de tranquilidade que pairou no dia 4 era anormal na casa, nunca acontecia”, declarou Caroline. A delegada explicou que todas as pessoas próximas de Bernardo afirmam que ele estava empolgado em ter um aquário.
Já Evandro Wirganovicz, irmão da assistente social preso no sábado, cujo carro foi visto próximo ao local onde o corpo foi enterrado um dia antes do assassinato, não foi apontado pela polícia como autor do crime. Conforme a polícia, seguem as investigações para esclarecimento da sua participação.
cada suspeito (Foto: Estêvão Pires/G1)
De acordo com a polícia, Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolam em comprimidos, fornecendo a receita azul. Segundo os delegados, Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune.
As provas documentais, segundo a polícia, comprovam a aquisição de notas fiscais e receituais do remédio Midazolam, da soda cáustica, além do testemunho da compra das ferramentas. Ao todo, foram colhidos mais de 100 depoimentos, sendo que, conforme a polícia, informa a desarmonia familiar e o descaso do pai e da madrasta com Bernardo.
Além disso, o inquérito apresenta interceptações telefônicas indicando acerto entre os autores para que Leandro fosse inocentado, já após a prisão. Outra prova destacada pela polícia é a gravação de um vídeo que captou imagens das autoras com a vítima no dia do fato. As imagens mostram o retorno delas de Frederico Westphalen, sem Bernardo, e na sequência o descarte de objetos relacionados ao crime.
A polícia divulgou que, entre as qualificadoras do homicídio, está o fato de que Edelvania recebeu dinheiro para colaborar na empreitada criminosa, bem como teria ajuda financeira para quitar as parcelas do seu apartamento. Outra qualificadora, segundo a polícia, é que a motivação que desencadeou a ação criminosa foi a desarmonia de relacionamento familiar estabelecida, ou seja, o fato de Bernardo “atrapalhar” a vida do casal Leandro e Graciele.
Além disso, a dissimulação impossibilitou a defesa da vítima, já que, para convencer Bernardo a acompanhar Graciele, o casal informou que ele buscaria o aquário. Também consta como qualificadora o meio utilizado para cometer o homicídio, com a aplicação de uma injeção letal, sendo dito para a vítima que era para se ‘benzer’.
O inquérito que investiga o assassinato foi finalizado com 11 volumes e mais de duas mil páginas, e levado por agentes da Polícia Civil do município ao Fórum durante a manhã.
Leandro Boldrini, Graciele Ugulini e Edelvania Wirganovicz foram presos na noite de 14 de abril, quando o corpo foi encontrado em uma cova em Frederico Westphalen, no norte do estado, a 80 km de Três Passos. Já a prisão de Evandro Wirganovicz ocorreu no último sábado (10), sendo o último fato novo após a investigação. O carro dele foi visto próximo ao local onde o corpo foi enterrado um dia antes do assassinato.
Caso Bernardo (Foto: Reprodução/RBS TV)
Além dos documentos, foi entregue também à Justiça a bicicleta de Bernardo e uma caixa com pertences, entre eles uma faca. Durante as investigações, houve suspeita de que o menino estava com o objeto quando desapareceu, no entanto a bicicleta foi encontrada na escola. Com o inquérito em mãos, a Justiça deve dar vistas para o Ministério Público (MP) receber a documentação e, posteriormente, definir se vai oferecer denúncia contra os indiciados.
Através da assessoria de imprensa, o MP informou que o órgão deve oferecer denúncias contra os indiciados até sexta-feira (16), antes do prazo legal estabelecido de cinco dias. Na ocasião, a promotora Dinamárcia Maciel vai detalhar o caso em uma entrevista coletiva. O acompanhamento direto da promotora junto à Polícia Civil agilizou os procedimentos da investigação.
Indiciamentos
O pai, a madrasta e a assistente social foram indiciados pelos crimes de homicídio qualificado, com os qualificadores “mediante paga ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima”, conforme a polícia, e ocultação de cadáver.
Leandro Boldrini: atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolan em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune.
Graciele Ugulini: mentora e executadora do delito de homicídio, bem como da ocultação do cadáver.
Edelvânia Wirganovicz: executora do delito de homicídio e da ocultação do cadáver.
Passos (Foto: Estêvão Pires/G1)
Contradições reafirmam versão de que casal planejou crime, diz polícia
O menino Bernardo Boldrini foi registrado como desaparecido na polícia de Três Passos no domingo, 6 de abril. Segundo a delegada Cristiane de Moura da Silva Bauss, depois de receber o registro do desaparecimento de Bernardo, chamou a atenção da polícia a ida de Graciele para Frederico Westphalen, além de algumas contradições sobre a visita à cidade, colhidas durante os três depoimentos dos, então, suspeitos.
Durante o depoimento, Graciele contou que deu medicamentos a Bernanrdo. “Ela [Graciele] teria dito que havia dado um comprimidinho para que ele [Bernardo] não passasse mal no caminho e que lá [em Frederico Westphalen], eles iriam para uma benzedeira onde ele ia levar um ‘piquezinho'”, contou a delegada Cristiane, durante a coletiva.
Nas investigações, uma amiga de Graciele afirmou à polícia que a enfermeira contou que Leandro e ela queriam matar o menino. Segundo o delegado Volino, a mulher teria começado a planejar o assassinato. “Durante as buscas pelo menino, eles [Leandro e Graciele] tentaram passar uma impressão de harmonia entre o casal e que Bernardo era bem tratado em casa”, apontou Volino.
A delegada Caroline apontou mais indícios que apontam que o casal planejou o assassinato. “Temos uma testemunha que é amiga de Graciele, informando que final de janeiro foi procurada por ela que relatou que ela e Leandro queriam matar Bernardo. Ela teria dito que ele só não matou o menino porque não tinha um poço”, disse Caroline.
“Eles mataram o menino na sexta-feira e disseram que se deram conta somente no domingo. Foram três dias. Como essa amiga referiu a ideia da morte do Bernanrdo, se apavorando com a situação de que o pai queria matar o menino, a Graciele não fez nenhuma proposta para ela. Isso foi há quatro meses”, completou a mulher.
Outra contradição é o depoimento de três testemunhas diferentes que relataram que Leandro disse que Bernardo não havia levado o telefone celular. “Quando Leandro procurou por Bernardo nas casas e efetuou ligações no domingo à noite, ele disse ‘como eu vou achar esse guri se ele não levou o telefone?’, sendo que ele disse em depoimento que ligou para o filho”, concluiu Caroline.
Para a delegada, o casal nunca se mostrou preocupado com o desaparecimento. “Desde o início, Leandro se mostrava sereno e, em todos os momentos, demonstrava estar tranquilo quanto ao desaparecimento de Bernardo. Era essa a impressão que ele nos passava. O casal parecia até satisfeito com o sumiço do menino”, salientou.
(Foto: Reprodução/RBSTV)
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
“O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada”, relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.