Blog do Levany Júnior

DA MORTE À VIDA – É BOA NOTÍCIA – É RESSURREIÇÃO

EmptyTomb600wHDevagar, lentamente… um condenado, cuja fisionomia humana não podia ser reconhecida mais. Ele carregava às costas um madeiro, instrumento do seu suplício e sabia que tinha pouco tempo de vida. Perante o sol escaldante de sua terra, a língua estava colada ao céu da boca, tamanha a desidratação. Pudera, tendo em vista os tormentos físicos sofridos ininterruptamente desde o seu injusto julgamento. A gosto dos seus torturadores romanos e judeus, articulações e locais delicados não foram poupados.

Injusto como não podia deixar de ser, o Supremo Tribunal de seu país, o Sinédrio, desprovido de autoridade para tomar tão grave decisão naquele momento, pois sem o quorum suficiente e à noite, o condenou à morte, entregando-o à autoridade civil para as medidas cabíveis. Isto bem que agradou aos opositores, pois seu poderio estava ameaçado. Aquela história de que Deus é Pai misericordioso, que acolhe e que perdoa, que cria e salva, já estava na hora de ter um fim. A sentença veio em momento bem oportuno, pois muitos já estavam dando ouvidos àquele “Messias”.

Em todos os momentos, o silêncio foi a sua defesa, ninguém se apresentou para argumentar a seu favor. Como ovelha levada ao matadouro, com a cabeça baixa, aquele homem subia a passos contados o morro do suplício. Em sua cabeça, coroada com espinhos, muitas lembranças vinham à tona: a infância em Nazaré, cidadezinha da Galileia, onde vivia com seu pai e sua mãe, José e Maria; a fala inaugural de seu serviço; o bem feito àqueles que, naquela hora, estavam chicoteando-o; o convite feito aos seus amigos para o seu discipulado; a traição de um deles; a deserção dos demais, exceto um, aquele que amava.

A fraqueza e as quedas pelo peso do tronco amarrado aos braços, a dor dos verdadeiros amigos não fora empecilho para a vagarosa, dolorosa, mas já vitoriosa marcha rumo ao Calvário, o “lugar da caveira”. Enquanto uns escarravam em seu rosto, outros piedosamente acompanhavam com dor a primeira Via Sacra; outros ainda, participantes do sofrimento do condenado, colocavam-se a serviço para enxugar-lhe o rosto, ou ajudar a carregar por um momento a Cruz.

Praticamente exânime, chegando ao lugar, três pregos foram suficientes para cravar um corpo que já não oferecia nenhuma resistência frente ao duro madeiro, árvore da vida. Era meio dia, a hora sexta. Quanto descrédito lhe dirigiram alguns transeuntes… a outros salvou, mas a si é incapaz. Três horas de agonia. Ele resistiu pouco; há condenados que, na cruz, duravam dias em angustiante sofrimento. Quinze horas, a hora nona. O sol se recusou presenciar a morte de Deus; a terra expulsou de seu seio alguns dos defuntos a ela confiados; a cortina do Santuário rasgou-se inexplicavelmente ao meio. Tudo estava consumado.

Consumado estava o pecado, consumada estava a redenção do gênero humano. Nada mais havia que ser feito, a não ser aguardar a tão radiosa manhã do domingo para que ficasse comprovada que a morte já não mais imperava e que o demônio estava vencido. Ressuscitou, Aleluia! Louvado seja o Senhor por tão grande dom àqueles que crêem e àqueles que não crêem, àqueles que confiam e àqueles que estão desesperados, aos que vivem e que aparentemente morrem.

Desde o início, de forma continuada tão grande alegria é anunciada, levada adiante de forma a transformar o mundo desde as suas mais inferiores raízes. A morte foi vencida. Já não somos escravos, mas livres; já não estamos mortos, mas vivos.

Vivos para sempre, desde já no coração de Cristo, que por nós, por nosso amor, sofreu, morreu e ressuscitou. É Páscoa, é passagem para uma vida nova, é Ressurreição.

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Pe. Renato Moreira de Abrantes, mp

Professor de Ética, Liturgia e Catequese nos Cursos de Filosofia e Teologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá – CE), Acadêmico de Direito na Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá – CE)

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