
“Ainda temos um mês de chuva pela frente. A regularidade delas aqui depende dos oceanos, que estão favoráveis. Mesmo assim está chovendo pouco. Dizer se vai ter recarga desses açudes é difícil e as autoridades precisam estar preparadas para enfrentar o resto do ano”, coloca. Para Bristot, seriam necessárias chuvas mais constantes e fortes para que o nível das barragens subisse. Nestes próximos dias, a previsão é de chuva, segundo a Emparn. Elas podem ser fortalecidas dependendo do comportamento de uma frente fria que está sobre o Estado de Minas Gerais, no Sudeste.
Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca (Sape), Tarcísio Bezerra afirmou que já tem conhecimento dessa perspectiva, porém o Governo deve manter o mesmo trabalho realizado nos últimos anos, durante a maior estiagem dos últimos 50 anos, com ações paliativas como distribuição de carros-pipa. Ele também preside a Comissão Estadual de Combate à Seca. “Enquanto não existir uma solução definitiva, vamos manter a operação de carros-pipa e a construção de poços. Não paramos isso, mesmo agora durante as chuvas. Alguns municípios deixaram de usar os carros-pipa porque os açudes menores encheram, mas são muito poucas cidades assim”, coloca.
A reportagem tentou entrar em contato com a Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte (Semarh) para questionar sobre a construção de adutoras, a situação dos reservatórios e o abastecimento dos municípios potiguares, mas não foi atendida. Nesta quinta, não havia ninguém trabalhando na Semarh e as ligações, mesmo para celulares, não foram atendidas. Ontem (18), o expediente era facultativo.
Os açudes de grande porte ainda estão em situação crítica. De acordo com os dados atualizados pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Denocs), a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Açu, está com 40,15% da sua capacidade total, que é de 2,4 bilhões de metros cúbicos. Isso é bem mais que os 34,47¨% que o reservatório apresentava há pouco mais de 15 dias. Porém, no ano passado, em plena estiagem, o volume de água alcançava quase 47% da capacidade no mês de Abril.
Em Caicó, o açude Itans está pior. Embora o volume de água do reservatório, nos 15 primeiros dias do mês, tenha passado de 8,3 milhões para 12.7 milhões de metros cúbicos, isso só representa 15,6% da capacidade do reservatório, que pode armazenar até 81.75 milhões de metros cúbicos de água.
Entre os reservatórios monitorados pelo Dnocs, o único que está cheio é o pequeno Açude Riacho da Cruz II, no Alto Oeste, cuja capacidade não alcança dos 10 milhões de metros cúbicos. A sangria foi na última semana e tem atraído até turismo.
Meteorologia
Apesar de já ter chovido mais de 400 milímetros em 25 municípios potiguares, entre janeiro e abril, o quadro é ainda é preocupante. Em 128, choveu tão pouco que eles permanecem na classificação “muito seco”. Em 12 a situação é de “seco”, e em apenas um aparece com normal; é Portalegre, no Alto Oeste, com 686,7 milímetros.
Porém, para a segunda quinzena deste mês, é aguardada uma nova “janela de chuvas” trazida pelo fenômeno Oscilação 30-60 dias, que é a propagação de uma onda atmosférica ao longo da globo terrestre e no Equador, causando formação de nuvens.
Aos poucos, depois de passar pela maior estiagem dos últimos 50 anos, os agricultores e pecuaristas retomam a produção, ainda cheios de preocupação. No ramo de fruticultura irrigada, a situação é bem melhor que a registrada nos dois últimos anos, mas os produtores ressaltam que ainda há um quadro de incertezas.
O volume de chuvas está acima dos registros em igual período de 2013, mas ainda são insuficientes para garantir as condições para uma boa safra. O pasto voltou a surgir e os pecuaristas se animam para recompor seus rebanhos. Porém os criadores têm preocupação com o nível dos reservatórios, o crédito e a assistência técnica no campo. Se as reservas não forem suficientes para os próximos meses, há risco de se perder os animais.