CEARA-CE- PESTE ESTA ESCRITO NA BIBLIA-‘Ainda não deu tempo de processar’, revela familiar de cearense que morreu de Covid-19 aos 45 anos Edson Cândido perdeu o primo Wilmerson Cândido no dia 2 de maio, um dos mais de mil mortos pela doença no Ceará.
Vítima de Covid-19 é sepultada em cemitério de Fortaleza. — Foto: Camila Lima/SVM
Para além dos números, dentro do lar de cada família que perdeu um membro, ou mais, para a Covid-19, a preocupação em relação à doença dá lugar à dor e ao luto. “Ainda não deu tempo de processar o que aconteceu”, revela Edson Cândido, 44, primo do cearense Wilmerson Cândido, vítima da doença aos 45 anos, em Fortaleza.
No Ceará, a quantidade de óbitos causados pelo novo coronavírus chega a 1.094, segundo a Secretaria da Saúde do estado. Devido ao grande número de casos registrados, a capital está sob decreto de lockdown desde o dia 8 de maio, com medidas de restrição rígidas para evitar a circulação de pessoas. O uso de máscaras também se tornou obrigatório na cidade.
“Ele tinha 45 anos, ‘tava’ com pressão alta. Ele estava muito acima do peso e teve muita complicação quando foi ser entubado”, conta. Wilmerson foi atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Fortaleza, onde veio a óbito no dia 2 de maio.
A despedida do primo não garantiu nenhum consolo. O processo, segundo Edson, teve que ser rápido: o familiar chegou à unidade, assinou um documento e reconheceu o corpo de Wilmerson. Pouco tempo depois, já estava no cemitério.
“Era eu, meu primo e o coveiro. Não teve direito a uma vela, uma flor, ligar pra alguém, nada. É muito cruel o sepultamento de uma pessoa que faleceu por conta da Covid-19”, lamentou.
Edson relata que o luto ainda não pôde ser vivido pela família, cujos olhares se voltam a Maria Arlete Cândido, de 77 anos, mãe de Wilmerson, que também esteve internada após receber o diagnóstico de coronavírus.
Ela recebeu alta do Hospital do Coração de Messejana, na capital, na quarta-feira (6), após passar 30 horas à espera de uma vaga para internação. Arlete ainda não foi curada, mas está sendo medicada e se recupera em casa. A idosa ainda não foi informada sobre a morte do filho. A família espera que ela esteja em melhores condições de saúde antes de dar a notícia.
“Ontem eu estava chorando muito. A ficha ‘tá’ caindo aos poucos. Minha tia está ficando boa, graças a Deus, mas aí vem a memória do meu primo. Meus primos também choram, mas escondidos. Agora tem ainda mais essa preocupação, além da saúde, que é como ela vai receber essa notícia”.
Mais de mil mortes no Ceará
O avanço da pandemia do coronavírus no Ceará chegou a um marco preocupante: mais de mil mortes pela Covid-19 foram registradas no estado. Até as 9h30 deste domingo (10), a soma chegava a 1.094 óbitos, conforme os dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Já são 16.064 casos confirmados da doença.
O número elevado de óbitos já estava previsto nas projeções feitas pela Secretaria, de acordo com Magda Almeida, secretária executiva de Vigilância e Regulação do órgão. Segundo ela, a expectativa é de que a doença não chegue a um pico no estado, e sim a um “platô”, mantendo-se dessa forma por algum tempo. Ela afirma, ainda, que as medidas mais rígidas de isolamento adotadas na última semana no Ceará só devem surtir efeito sobre os registros da Covid-19 daqui a 15 dias.
“A gente precisa ver a adesão da população a essas medidas, como isso realmente vai funcionar, e uma coisa que a gente tem que levar em conta no Ceará é que a dinâmica da epidemia é heterogênea. Ela acontece de uma maneira em Fortaleza, mas no Interior está acontecendo de outra, um pouco mais lenta”, avalia.
“Tivemos vários feriados em que a gente sabe que houve aglomeração de pessoas, e isso pode ter desencadeado esse pico agora de internação e de óbitos. A gente espera que não chegue em um pico, esperamos que a gente encontre um platô, e consiga, com isso, não saturar o sistema de saúde no Ceará”, acrescenta a secretária executiva.
Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1
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