Carnaubais RN; Professor da UFRJ condenado por terrorismo diz que França “fabricou” acusação
O professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Adlène Hicheur, escreveu uma carta destinada a seus colegas na qual nega ter planejado atentados terroristas na França, seu país natal. Em 2009, acusado de tramar ataques, ele foi preso e condenado a cinco anos de detenção. Após ganhar liberdade condicional, veio para o Brasil em 2013 onde se tornou professor visitante na UFRJ. Na edição do último final de semana, ÉPOCA publicou o conteúdo de e-mails trocados por Hicheur com um interlocutor identificado pelo governo francês como membro da organização terrorista al-Qaeda. O conjunto de 35 e-mails motivou a sua prisão. A reportagem também revelou que a Polícia Federal investiga os passos de Hicheur no Brasil.
“Eu fui preso pela polícia francesa no fim de 2009 e a única justificativa foram minhas visitas aos chamados websites islâmicos subversivos”, escreveu Hicheur. O professor diz que as autoridades francesas não apresentaram prova da identidade do homem com o quem conversou no site. Essa pessoa apelidada de Phenix Shadow (fênix da sombra) seria Mustapha Debchi, integrante de organização terrorista. “A acusação não conseguiu apresentar nenhuma prova material para sustentar seus argumentos. O caso foi fabricado usando-se partes pinçadas de uma conversa virtual”, afirmou Hicheur na carta. “Eu tenho constantemente dito que sou inocente e denunciei a minha custódia abusiva e as acusações feitas contra mim”. Hicheur atribuiu a “uma pressão do lado francês” a proibição de ele entrar na Suíça, onde trabalhava com pesquisador. “Tratou-se de uma decisão administrativa (do governo suíço) e não judicial”, afirmou.
Na sua carta, porém, Hicheur não nega ter trocado e-mails e nem trata de seus conteúdos. Em um mensagem, no dia 12 de junho de 2009, Hicheur sugere a Phenix Shadow possíveis alvos na França: “precisamos trabalhar para acelerar a recessão econômica, ou seja, atingir indústrias vitais do inimigo e as grandes empresas, como Total, British Petroleum, Suez”. Depois fala em alvos militares e políticos para punir os governos europeus e acrescenta: “executar assassinatos com objetivos em estudados: personalidades europeias ou personalidades bem definidas que pertençam aos regimes incrédulos”.
Hicheur diz que “a Polícia Federal no Brasil não tem nada” contra ele. A PF fez busca e apreensão na casa do professor e no seu laboratório na UFRJ. A investigação começou no ano passado devido a um incidente na Mesquita da Luz, na Zona Norte do Rio. Logo após o atentado contra jornalistas do Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, o imã da mesquita fez um sermão condenando o ataque terrorista. Era uma sexta-feira, dia em que ocorre a oração principal. “Queríamos mostrar para todo mundo que a gente não concorda com o terrorismo”, disse a ÉPOCA Mohamed Zeinhom Abdien, de 60 anos, presidente da Associação Beneficente Muçulmana.
Ao final da oração, um homem que nunca comparecera ao culto protestou em árabe que a comunidade deixava jornalistas falarem mal do profeta Maomé. Em seguida tirou a camisa e a que estava por baixo tinha o emblema do Estado Islâmico. Quando saia do templo, já próximo à porta, o manifestante desconhecido afirmou em inglês que não tinha medo de ninguém. “Falou até o seu nome: Mohamed Ali Hamawy. Deduzi que era sírio porque seu sobrenome é de uma cidade da Síria, mas disse que morava na Suécia. Foi embora e nunca mais apareceu”, disse Abdien, que pediu uma investigação da Polícia Federal. Atrás do homem suspeito, a PF começou a investigar Hicheur, um dos frequentadores da mesquita.
“Não tenho nada a ver com o que aconteceu. Eu não estava nem no Brasil naquele dia. Estava na Europa de férias, visitando a minha família”, disse o professor na carta. Ele afirma que entrou no Brasil de “forma totalmente oficial, como cientista, após um estudo minucioso sobre as acusações contra mim na França”. A carta do professor foi endereçada ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.
O coordenador de Física Experimental de Altas Energias do CBPF, Ignácio Bediaga, também escreveu uma carta na qual detalha a vinda de Hicheur ao Brasil. Ele disse que a equipe precisava de reforço numa de suas pesquisas. Um professor da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (Cern) sugeriu Hicheur. Bediaga conta que o CBPF sabia da condenação na França e consultou um embaixador brasileiro que não viu problemas legais, pois o pesquisador tinha cumprido a pena. “Podemos atestar, que durante estes quase dois anos de trabalho conjunto, Hicheur, além de realizar um trabalho excepcional, mostrou um comportamento moral e ético exemplar. Em nenhum momento houve da nossa parte, alguma percepção de desvio de conduta da sua parte”, escreveu Bediaga.
Época
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