CARNAUBAIS RN-Novo pacote é recebido com cautela
André Borges, João Villaverde, Lu Aiko Otta e Adriana Fernandes
Da Agência Estado
Brasília – Na tentativa de criar uma agenda econômica positiva e deixar para trás os efeitos traumáticos do ajuste fiscal, a presidente Dilma Rousseff lançou nesta semana seu novo pacote de concessões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. A segunda fase do Programa de Investimento em Logística (PIL) – que não contempla o Rio Grande do Norte – soma R$ 198,4 bilhões em projetos e promessas. Dilma fez questão de pontuar que o anúncio não se reduz a um punhado de “grandes números e projetos ambiciosos”, mas sim um planejamento com base em dados e ações concretas. Em parte.
Do total de investimentos previstos para os novos empreendimentos, pelo menos R$ 56,5 bilhões em projetos enfrentam uma grande dificuldade de se viabilizar. Paralelamente, os números vultuosos dos projetos carregam certa miragem quanto a seus efeitos práticos no cenário econômico. Mesmo os empreendimentos considerados mais viáveis terão efeito mínimo sobre a economia neste ano, como reconheceu o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A maior parte dos leilões está desenhada para ocorrer a partir de 2016. Muitos ainda dependem de estudos de viabilidade que costumam levar de 6 meses a um ano para ficarem prontos.
Detalhes
No mercado, o anúncio foi recebido com cautela pelos empresários. Apesar de todos sinalizarem que o aceno feito pelo governo é positivo, falta explicar detalhes cruciais, como as taxas de retorno aos concessionários que serão definidas durante os estudos de viabilidade. A reação de investidores também foi conservadora: o valor das ações de várias empresas e concessionárias que podem assumir os empreendimentos caíram depois do anúncio.
O exemplo mais emblemático dos projetos considerados complexos e duvidosos pela iniciativa privada é a Ferrovia Bioceânica, que já chegou a ser chamada de Transcontinental ou ainda Transoceânica. Seja qual for o nome, o fato é que, até agora, somente o governo brasileiro e os chineses conseguiram enxergar a viabilidade de se construir uma estrada de ferro que ligue os litorais do Peru e do Brasil, com custo de nada menos que R$ 40 bilhões apenas em território brasileiro. Entre empresários, o empreendimento já é encarado como um novo “trem-bala”, que nunca saiu do papel.
Outros dois empreendimentos destinados a melhorar as condições de escoamento da indústria e da agropecuária do Centro-Oeste competem entre si. Os produtores do Mato Grosso e a ministra da Agricultura, Katia Abreu, conseguiram convencer o governo de incluir no pacote um trecho de 1.140 km de ferrovia, para ligar Lucas do Rio Verde (MT) ao porto de Miritituba, no Pará.
Trata-se de um projeto caro, estimado em R$ 9,9 bilhões. Ocorre que, paralelamente, o governo também conta a concessão, ainda neste ano, da BR-163, estrada que corre praticamente ao lado do traçado dessa ferrovia. Os 976 km de extensão da BR-163 entre Sinop (MT) e Miritituba custariam outros R$ 6,6 bilhões. Um dos principais interlocutores do agronegócio, o senador Blairo Maggi (PR-MT) afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que fazer as duas concessões se mostra economicamente inviável.
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