O dissulfiram é uma droga bastante utilizada no tratamento do alcoolismo, mas suas propriedades estão se mostrando fundamentais no combate ao HIV. Testes clínicos conduzidos por pesquisadores dos institutos Peter Doherty para Infecção e Imunidade e The Alfred, na Austrália, em parceria com a Universidade da Califórnia, nos EUA, demonstraram que o medicamento é capaz de ativar cepas do vírus escondidos no organismo, feito considerado essencial na busca de uma cura para a Aids. O estudo foi publicado nesta terça-feira, na revista científica “The Lancet HIV”.
— O teste demonstrou claramente que o dissulfiram não é seguro para o uso e não tóxico, e pode ser a virada no jogo que nós precisávamos — disse Sharon Lewin, professora da Universidade de Melbourne e líder das pesquisas. — A dosagem de dissulfiram que usamos provocou mais uma “cócega” que um “chute” no vírus, mas isso deve ser suficiente. Apesar de a droga ter sido ministrada por apenas três dias, nós vimos um aumento da presença do vírus no plasma, é que é muito animador.
Participaram dos testes 30 pacientes com HIV positivo. Eles receberam o dissulfiram junto com a terapia antirretroviral, em doses crescentes, pelo período de três dias. Quando a maior quantidade foi aplicada, percebeu-se evidências que o HIV dormente foi ativado, mas sem efeitos colaterais.
O estado de latência é considerado uma das principais barreiras na busca por uma cura do HIV. A terapia antirretroviral consegue fazer com que células infectadas parem de replicar o vírus, mas assim que o paciente para com os medicamentos, a infecção reaparece. Por isso, pesquisadores apostam na estratégia “chutar e matar”, que consiste em “acordar” o vírus durante o tratamento.
— O próximo passo é fazer essas células morrerem. Acordar o vírus é apenas o primeiro passo para eliminá-lo — disse Julian Elliot, diretor do departamento de doenças infecciosas no The Alfred. — É um passo muito importante termos demonstrado que podemos acordar o vírus dormente com medicamentos seguros que são fáceis de ingerir uma vez por dia. Agora, nós temos que trabalhar em como acabar com a célula infectada. Um empurrãozinho no sistema imunológico deve ajudar. Nós temos muito a aprender sobre como erradicar esse vírus muito esperto.
Estimativas apontam que 34 milhões pessoas já foram vítimas de doenças relacionadas ao HIV. No fim do ano passado, existiam cerca de 36,9 milhões de infectados em todo o mundo.
O Globo
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