A banalização do Direito Penal é uma bomba prestes a estourar
Monaliza Montinegro
A foto era de um carro novo amassado pela pancada com um corpo humano. O sangue vermelho criava rastros na cor preta do automóvel lembrando no luxo a sujeira de um pobre, ladrão, fedido, um corpo morto e, agora sim, sem alma, estraçalhado no chão após uma tentativa de assalto. O título da mensagem que compartilhava aquela foto dizia “meu desejo era ter feito o mesmo com o cara que me assaltou”. A autora da frase, uma advogada pós-graduada, autointitulada “defensora dos animais”. Os comentários lançados abaixo difundiam o ódio contra os direitos humanos, clamavam por mais direito penal e comemoravam o assassinato do ladrão.
Nenhuma lamentação! Ninguém parecia ter dó daquele corpo “sem alma” espatifado no chão. Nem ao menos daquela da senhora que dirigira o veículo “sob o domínio de violenta emoção” após uma tentativa de assalto e que praticou esse bruto ato do qual, talvez, esteja profundamente arrependida. A “desgraça” ali retratada parecia indiferente no meio da vingança comemorada.