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BRASILIA-DF-BRASIL-Era ‘impossível’ identificar corrupção na Petrobras, diz Gabrielli na CPI

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12/03/2015 15h14 – Atualizado em 12/03/2015 17h21

Era ‘impossível’ identificar corrupção na Petrobras, diz Gabrielli na CPI

Para ex-presidente da estatal, atos eram praticados por ‘agentes individuais’.
‘É impossível se identificar esse tipo de comportamento internamente’, disse.

Nathalia Passarinho e Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli (dir), ao lado do relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (esq.), durante depoimento à CPI da Petrobras na Câmara (Foto: Lúcio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados)

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou nesta quinta-feira (12), em depoimento à CPI da Câmara dos Deputados que investiga a estatal, que era “impossível” detectar atos de corrupção dentro da empresa.

Segundo ele, as negociações de propina eram feitas por “um ou outro” funcionário com representantes de construtoras, e não tinham relação com os “processos internos” da Petrobras.

“É impossível se identificar esse tipo de comportamento internamente. Isso é um caso de polícia e, como tal, vai ser descoberto por investigação policial que vem de outras fontes, como é o caso da Operação Lava Jato, que começa por investigações sobre utilização de dinheiro ilícito. Portanto, é impossível se pensar que era possível identificar na Petrobras, no funcionamento normal da empresa, esse tipo de comportamento”, afirmou.

Gabrielli presidiu a Petrobras entre 2005 e 2010, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com delatores, o esquema de pagamento de propina por empresas que mantinham contratos com a estatal operou principalmente entre 2003 e 2012.

Gabrielli disse que o ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, que admitiu ter recebido dinheiro do esquema, atuou por quase 20 anos na estatal. “O sr. Barusco, por exemplo, confessa que fazia isso há 18 anos e não foi pego, porque é impossível, no comportamento normal, se pegar esse comportamento”, declarou.

Segundo Gabrielli, o volume de operações da Petrobras é “gigantesco”, o que dificulta a identificação de atos de corrupção como os confessados nas delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

“Eles [Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef] confessam crimes, confessam atividades corruptas, confessam ter se apropriado privadamente de recursos e que esse processo de aquisição e de apropriação privada desses recursos respeitou as regras internas da Petrobras.  Os processos de compra e os processos de contratação são gigantescos e são crescentes, em volume muito grandes”, afirmou.

“Como é que, num procedimento normal de uma empresa que tem esse volume de atividade, vai se identificar esse tipo de comportamento?”, questionou Gabrielli.

Gabrielli, em depoimento na CPI da Petrobras (Foto:
Laycer Tomaz/ Câmara dos Deputados)

Segundo o ex-presidente da estatal, as regras internas de licitação foram respeitadas, e os preços propostos pelas empreiteiras nas concorrências estavam dentro dos limites previstos nos editais.

“Esses resultados e esses processos internos permitiam uma negociação sobre as margens e sobre as despesas indiretas. Todos esses números estão dentro dos parâmetros aceitos pela Petrobras, portanto, são impossíveis de serem percebidos como ato de corrupção.”

Gabrielli disse ainda que a presidência da Petrobras não tem contato direto e frequente com as diretorias de Serviço e Abastecimento, comandadas por Renato Duque e Paulo Roberto Costa. Os dois são acusados pelo Ministério Público Federal de receber propina para viabilizar contratos de empreiteiras com a estatal.

“[Essas diretorias] Não têm atividades operacionais relacionadas com a presidência. A presidência tem uma relação com o jurídico, a comunicação, ou seja, com as gerências corporativas”, disse.

Abreu e Lima
No depoimento à CPI, Gabrielli reconheceu que os custos da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, ficaram fora “dos padrões internacionais”. A obra teve seu custo inicial elevado de US$ 2 bilhões para US$ 18,8 bilhões.

Segundo o ex-presidente da Petrobras, a alta nos valores se deve a fatores como a variação cambial. Ele explicou que, no caso do refino, a maioria dos desembolsos é feita em real e, como houve, segundo ele, uma valorização do real, o valor da refinaria subiu. Ele também justificou o aumento no custo da montagem da refinaria dizendo que “houve um aperfeiçoamento do escopo do projeto”.

As obras da refinaria de Abreu e Lima são um dos focos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Desde 2008, o Tribunal de Contas da União faz auditorias na refinaria e já concluiu que houve superfaturamento em alguns contratos. A ex-presidente da Petrobras Graça Foster já classificou publicamente os gastos com a refinaria como uma história a não ser repetida.

 

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