Com 1,3 GW de capacidade, Complexo Solaris é esperança de desenvolvimento para Carnaubais. Arrendatários veem concretização de sonhos com começo da operação.
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A cidade de Carnaubais, na região do Vale do Açu, no Rio Grande do Norte, vive a expectativa de passar o que já passaram centenas de cidades do Nordeste brasileiro e mesmo dezenas de cidades potiguares. Cadastrado pela Pacto Energia para o próximo leilão A-4, que será realizado no próximo mês de junho, o complexo solar Solaris está sediado no município e a sua viabilização pode trazer grandes impactos na região. O empreendimento tem 1.300 MW de capacidade, o que o coloca na linha de frente dos empreendimentos da fonte no país.

O pico da obra deve gerar 32.500 empregos diretos e cem mil indiretos e caso ele seja viabilizado este ano, a construção teria início no segundo semestre de 2020. O valor total do investimento é de R$ 3,2 bilhões. De acordo com Rodrigo Pedroso, presidente da Pacto Energia, o complexo vai ocupar uma área equivalente a 4.300 campos de futebol, o que o faz ter grande importância para o setor fotovoltaico brasileiro. “São quatro milhões de módulos fotovoltaicos que em operação serão suficientes para abastecer mais de um milhão de residências, o equivalente a uma cidade de aproximadamente 4,6 milhões de habitantes, mais de cinco vezes a população de Natal ou ainda mais que toda a população do RN”, explica.

Com a maior parte das usinas do complexo, a pequena cidade de pouco mais de dez mil habitantes tem na agricultura familiar a base da economia da cidade, embora ela também receba da Petrobras royalties por ter poços onshore de petróleo. Carnaubais vem sendo castigada pela forte seca que acomete a região Nordeste há vários anos, o que causou uma perda de milhares de empregos na cidade. Com 55 anos de fundação, o nível de atividade em Carnaubais não é muito diferente dos piores índices do  país.

Eleito em 2016, o prefeito Thiago Meira (PSDB) acredita que a usina da Pacto Energia vai trazer muitas oportunidades para a cidade. Segundo ele, de cada dez pessoas, sete pedem emprego. Meira vê um grande crescimento na área de serviços durante a execução da obra do complexo solar. “O impacto vai ser grande, só tende a trazer melhorias para a cidade”, afirma. Na cidade, 63,2% dos habitantes vive com até um salário mínimo.

A desistência da Petrobras com os poços da região em virtude do pré-sal e a perda de 1.500 empregos por conta da seca pioraram a situação econômica de Carnaubais a cidade. Na porta da prefeitura, pessoas esperam para falar com o prefeito, na esperança que ela conceda cestas básicas ou alguma ajuda financeira. O prefeito quer preparar os comerciantes locais para serem fornecedores. Ele lamenta a situação dos jovens da cidade sem emprego. “De cada 10 pessoas que atendo, cerca de sete perdem emprego”, aponta. A viabilização do projeto vai fazer com que a prefeitura mapeie com o empreendedor as necessidades de contratação.
A instalação de um complexo solar ainda é desconhecida de muitos moradores da cidade. No povoado de Umbuzeiros, Arnaldo Batista Dantas, produtor rural que é um dos moradores mais antigos da cidade, não sabia que a partir do ano que vem Carnaubais pode experimentar um ciclo de crescimento. “Deus prometa que venha para gerar empregos”, diz.  Aposentado rural, ele quer investir na produção de queijos, mas se queixa de dificuldade para conseguir crédito e lamenta o desemprego na cidade. Seu filho, Arnaldo Dantas, de 35 anos, também não sabia da usina em Carnaubais. Há dois meses, ele inaugurou um restaurante na beira de uma estrada feita recentemente que liga Carnaubais a uma cidade vizinha. Com uma boa expectativa para o negócio, ele almeja construir uma pousada.
 Arnaldo e a esposa, que não sabiam da usina: esperança de muitos empregos

Após o início da operação da usina, começa a ter destaque um personagem que também já é conhecido dos projetos eólicos: os arrendatários das terras em que vão ficar o complexo solar. No acerto com os empreendedores, eles recebem um percentual sobre a energia que está sendo gerada nas suas terras com base no preço em que a usina foi negociada no certame. Os arrendamentos fizeram com que o poder aquisitivo de muitas cidades do Nordeste aumentasse, proporcionando um novo padrão de vida e novas oportunidades.
Esse é o caso de Francisco de Souza, 70 anos. Nas terras de seu pai, ele morava com os cinco filhos e a esposa Maria Ediesse e cultivava algodão, milho e feijão, além de criar gado e bode. A distância da escola fez com que a família se mudasse para a cidade de Assú no meio da década de 1980, mas não largasse a casa onde os filhos nasceram. A forte seca dos últimos anos na região inviabilizou o cultivo nas terras. Francisco ainda visita a casa, feita de taipa, mas em bom estado de conservação. Ele sonha com o dinheiro do arrendamento das terras poder fazer melhorias na casa e se a toda a terra não for usada, poder criar em parte das terras. A figura do avô, que tinha morava na casa ao lado de Souza, ainda é muito forte para os filhos de Souza, que passaram a infância no local.
Edson (ao centro) e a família, em frente a casa: filhos querem velhice confortável para os pais com receita de arrendamento
O arrendatário acreditava que a terra poderia ter petróleo, por ela já ter sido demarcada como algumas da região, mas  acreditava que ela pudesse ter outro destino diferente. Os filhos José Valterlange e Maria Vera, já estabelecidos em Assu, pretendem proporcionar uma velhice mais tranquila para os pais. “Queremos dar uma velhice confortável para eles, pensamos muitos nos dois, que trabalharam muito”, conta Maria Vera. Recentemente, os pais fizeram uma viagem para São Paulo e Rio de Janeiro, que inclui passagem por santuários em Goiás e Bahia. Com a receita do arredamento, eles querem repetir a dose.
A tenacidade de um tradicional comerciante de Mossoró traz outro personagem entre os arrendatários do complexo solar da Pacto Energia. Hugo Freire Pinto, dono da Casa Pinto, que existe desde 1912 na cidade. Freire Pinto havia comprado as terras há muitos anos, mas nunca quis se desfazer delas, pensando em algo melhor que poderia vir. Seu filho, Carlos Henrique Pinto, lembra que o pai já tinha uma fazenda em Baraúnas antes de comprar as terras na região da Serra do Mel. Segundo ele, o pai sempre vislumbrava que o terreno iria lhe render algo em algum momento. “Ele já dizia que no futuro isso iria lhe dar alguma renda “, comenta.
O próprio Hugo Pinto, falecido em 2017, tomou a frente nas negociações de arrendamento com a Pacto em 2014. O terreno de cerca de 300 hectares, que foi comprado na década de 1990 por Cr$ 600 mil. O filho, que trabalhou com o pai por mais de 30 anos, ressalta que ele dificilmente se desfazia de algo tinha comprado, o que reforça o tino comercial do patriarca. Apesar de ver as usinas sendo construídas nas cidades vizinhas, não pensava que seria um arrendatário. “Víamos construindo, mas não sabia que um dia ia chegar no nosso terreno”, relata. A esposa de Hugo Freire ainda é viva e deve receber a receita referente a geração de energia no terreno.
Carlos Pinto com a foto do Pai: perseverança do pai no futuro do terreno

Carnaubais é vizinha de Serra do Mel, que já abriga as eólicas da Voltalia e Echoeonergia e já experimentou o ciclo de desenvolvimento que a implantação de um empreendimento energético traz. A cidade de certa forma também será impactada pelo Solaris, devido à proximidade com Carnaubais e por já ter sediado obras. O prefeito Josivan Bibiano de Azevedo (PR) lembra que houve um aumento de cerca de R$ 500 mil por mês no rateio do ICMS, além do crescimento de arrecadação do ISS.
Segundo ele, esse aumento na arrecadação possibilitou ao município segurança no pagamento dos funcionários, a contratação de médicos e equipes de saúde da família, além de melhorias executadas  em prédios públicos e hospitais. Bibiano elogia a criação dos empregos que as obras na cidade vizinha vão trazer. “Com certeza é um impacto positivo”, comemora. O alcaide cita a criação de uma lei municipal que reduz impostos em empreendimentos eólicos e solares. O desemprego na cidade fica entre 18% e 24%, mas caiu com a implantação de usinas.
Na cidade, o casal Everton e Michele Santos testemunha o que aconteceu. Donos de um restaurante, eles viram o movimento crescer após a vinda das eólicas. Muitos funcionários da construção almoçam no local. Michele antes fazia quentinhas e junto com o marido decidiram reformar a casa para virar um restaurante, que hoje atende 120 pessoas por dia. “Hoje muita gente trabalha dentro da cidade, o dinheiro circula aqui”, conta ela. O casal espera que o município receba mais pessoas por conta da construção na cidade vizinha.
O prefeito Bibiano também viu crescer o poder aquisitivo em Serra de Mel. A seca dos últimos anos castigou a região, matando cerca de 70% dos cajueiros, principal produção da cidade. Ele vê a cidade mais preparada hoje para receber novos projetos, dando como exemplo a lei de redução de ISS, que acaba influenciando no lance do leilão, além da própria infraestrutura da cidade, como a construção de pousada e casas que servem de moradia na época da construção.
O casal Everton e Michele, na porta do seu restauraste em Serra do Mel: dinheiro circulando na cidade


O prefeito de Carnaubais tem conversado com os prefeitos de cidades vizinhas, como Serra do Mel e Areia Branca –  que já sediam usinas eólicas  – para saber como foi a experiência e não incorrer em eventuais erros. “Temos conversado bastante”, diz. O maior conselho é para a abertura imediata do diálogo com o empreendedor. Ele almeja ter as mesmas melhoras no aumento de empregos, no ISS e no Fundo de Participação de Municípios que os outros municípios tiveram.
*O repórter viajou a convite da Pacto Energia

Crédito: Canal Energia 

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