ASSU RN-Atlântida do Sertão’ vira atração no fundo da maior barragem do RN Antiga São Rafael foi inundada pelas águas da Armando Ribeiro há 30 anos. Nível do reservatório chegou a 25% da capacidade, o mais baixo da história
18/09/2015 09h29 – Atualizado em 18/09/2015 11h39
‘Atlântida do Sertão’ vira atração no fundo da maior barragem do RN
Antiga São Rafael foi inundada pelas águas da Armando Ribeiro há 30 anos.
Nível do reservatório chegou a 25% da capacidade, o mais baixo da história.
Ruínas da antiga São Rafael, inundada durante a construção do maior reservatório do Rio Grande do Norte, tornaram-se atrações turísticas. A ‘Atlântida do Sertão’, como foi apelidada a velha cidade, ressurgiu por causa da longa estiagem que atinge o estado. As águas baixaram tanto que revelaram o que restou de alguns dos prédios encobertos há mais de 30 anos pelas águas da barragem. A igreja e o cemitério estão lá. Na época, segundo o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), 730 famílias tiveram quer ser reassentadas em um ponto mais alto do município.
Para ver de perto os efeitos da estiagem no interior potiguar, equipes do G1 e da Inter TV Cabugi percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros durante cinco dias. Foram visitadas 19 cidades no Seridó e Oeste – regiões que mais vêm sofrendo com a escassez. Em colapso no abastecimento d’água estão Acari,Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas,Currais Novos, João Dias, Luís Gomes,Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias.
Já em Apodi, Caicó, Jucurutu, Lucrécia,Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, foi constatado que o nível dos açudes e reservatórios vem baixando rapidamente e que a paisagem está mudando a cada dia, incluindo a barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, que fica em Itajá. Com capacidade para armazenar até 2 bilhões e 400 milhões de metros cúbicos de água, a barragem possui atualmente 25% deste total. É o mais baixo volume dos 30 anos de sua história.
No fundo do reservatório, é possível chegar de carro até a velha igreja da cidade. Ela ainda tem as fundações submersas, mas dá pra subir nos escombros. Já o antigo cemitério, reapareceu por completo, revelando túmulos e cruzes. Casas, lojas e até o que um dia foi um posto de combustíveis também estão aparentes.
O servidor público Luiz Tertuliano, de 59 anos, mora na vizinha cidade de Itajá. Ele foi a São Rafael e desceu até a cidade antiga só para ver as construções. “Estive aqui em 2010. A água batia no teto da igreja e a cúpula ainda estava de pé. O cemitério é novidade para mim”, revelou.
Ruínas do cemitério da antiga cidade também atraem visitantes (Foto: Anderson Barbosa/G1)
‘Atlântida do Sertão’
A nutricionista Elizabeth Noronha, de 35 anos, saiu de Natal bem cedinho só para ir conhecer as ruínas, que ficam a pouco mais de 210 quilômetros da capital. Ela contou que amigos estiveram recentemente em São Rafael e ficaram maravilhados com a ‘Atlântida do Sertão’, apelido que a antiga cidade ganhou em alusão à lendária ilha da antiguidade. Nos contos de Platão, Atlântida teria afundado em algum ponto desconhecido do oceano Atlântico. “Fiquei curiosa. Como não posso ir a Atlântida da mitologia, vim conhecer a Atlântida dos nordestinos”, brincou.
Quem está tirando proveito das ruínas, para não dizer do baixo volume da barragem, é o comerciante Isaías Leopoldino Tavares, de 75 anos. Na nova cidade, ele possui um bar. Contudo, depois que a antiga cidade começou a atrair visitantes, ele montou uma barraca bem pertinho das construções. “A água vai baixando e eu vou junto”, disse ele.
Leopoldino Tavares, de 75 anos
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Na barraca, Isaías vende cerveja, refrigerante, peixe e batatas fritas. “E tem água também”, sorriu. “Nos fins de semana isso aqui fica lotado. Dá pra fazer um dinheirinho”, acrescentou. “Chego a ganhar uns R$ 1 mil”, revelou.
O comerciante contou que morou na antiga cidade, mas que a casa onde cresceu ainda está embaixo d’água. “Era mais lá pro meio”, apontou. “Tivemos que ir embora por causa da obra da barragem. Fui morar em Serra do Melna época. Faz 12 anos que voltei. Prefiro ver o açude cheio, mas sinto saudade quando olho e vejo as casas aparecendo”, destacou.
Emergência
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.
Para decretar a emergência, o governo consultou a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), que previu chuvas abaixo da média histórica para este ano, além de também levar em consideração os R$ 3,8 bilhões de prejuízo causados pela escassez hídrica em 2014.
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