Economista, filósofo, escritor e, agora mais recentemente, uma figura que ganhou eco na discussão do processo eleitoral do Brasil pela forte ligação com a candidata Marina Silva, com quem trabalha e para quem participou na elaboração do programa de governo. Eduardo Giannetti dispensa apresentações. Como escritor e economista seu nome já ecoava em todo país, o que a política lhe trouxe foi adentrar pelo front de uma disputa eleitoral.
Mas Gianetti confessa que nunca imaginou que poderia na vida se envolver com política. Foi a proximidade com Marina Silva, ainda em 2010, que conduziu por esse caminho. No entanto, o escritor desmistifica qualquer ideia de que poderá exercer cargo público, caso a candidata do PSB seja eleita presidente. “Minha ambição é voltar para o meu estudo, voltar para minha atividade de autor e de pensador. Foi isso para o que me preparei durante 40 anos na vida. Eu me considero um pensador,um estudioso, gosto de ler, de estudar, de escrever, esse é o meu caminho. Os meus temas estão ligadas as vidas das nações, a estudo da economia, da ética e da convivência humana e acho que tenho contribuição de aconselhamento na medida em que ela for demanda e for solicitada. Eu nunca tinha me envolvido em política antes na vida. Não sou filiada a partido e não tenho nenhuma ambição e nem considero que seria correto exercer um cargo público executivo”.
Eduardo Gianetti esteve em Natal para participar do Fórum Econômico Imobiliário promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte em parceria com a TRIBUNA DO NORTE.
Essa entrevista exclusiva não estava agendada, mas ao ser abordado no hall do hotel, o economista não se furtou embora, logo no primeiro contato, tenha dito “vamos fazer rapidinho”. O “rapidinho” denotava o quão pouco parece se sentir a vontade com entrevistas.
Mas Eduardo Gianetti não se furtou a responder nenhuma pergunta. Foi incisivo nas críticas, contundente nas análises e trouxe, como sempre, uma visão apurada de quem fala com muita propriedade.
Confira o 3 por 4 de hoje:
O senhor chegou, nos seus livros, a fazer relação entre ética, economia de mercado e desenvolvimento econômico. Como se estabelece esse tripé hoje no Brasil?
O ponto nevrálgico hoje é o atraso da política brasileira em relação as nossas necessidades de desenvolvimento. A política brasileira está padecendo de completa falta de ética e transparência quando o Governo se dispõe a lotear pedaços inteiros do Executivo e autarquias, agências reguladoras e de empresas estatais importantes como a Petrobras simplesmente para obter uma base espúria de sustentação no Congresso. Não podemos compactuar com isso mais. Chegou a hora de atualizar a política e ter uma nova forma de governabilidade que permita ao Brasil estabelecer padrões de competência e seriedade na gestão pública que deixam muito a desejar hoje.
Qual o seu posicionamento sobre o regime de preços relacionado ao desenvolvimento sustentável?
É reconhecido hoje por todos os economistas no mundo inteiro que o sistema de preços têm uma deficiência porque não reflete o impacto ambiental das nossas escolhas. Esse é um problema que não é do Brasil. É um problema do sistema de preços e muito amplo. Está se buscando um modo de corrigir no mundo inteiro. Para nós caminharmos para uma economia verdadeiramente sustentável no mundo o sistema de preço terá que ser corrigido. O preço de viajar de avião precisa refletir o custo do CO2 que é emitido durante o trajeto e ele (o preço) não reflete e esse é um custo para humanidade. Isso está colocando as gerações futuras em perigo. Mas eu não estou discutindo política econômica do Brasil no curto prazo e nem nos próximos anos. Eu estou discutindo um problema da humanidade relativa a uma falha no funcionamento do sistema de preço, que é uma discussão que a teoria econômica inteira está fazendo.
Essa revisão desse contexto de aliar preço dos produtos com os efeitos para o meio ambiente pode ocorrer a médio prazo?
Isso não vai ocorrer em um país isoladamente. Isso tem que ser feito de maneira integrada internacionalmente. As coisas que são muito onerosas do ponto de vista ambiental terão que refletir nos preços essa realidade. Mas isso não será feito por um país isoladamente.
Desenvolvimento e sustentabilidade continua sendo utopia ou está mais próximo da realidade?
É um imperativo para humanidade. Estamos em uma trajetória que vai levar um aquecimento global hoje de 3 a 4 graus Celsius até o final do século com enormes conseqüências para o meio ambiente e humanidade. E os países que mais vão sofrer nesse cenário são os que menos têm condição de se adaptarem e se defenderem dessas mudanças. É imperativo para humanidade encontrar caminho de desenvolvimento que não seja tão temerário como esse.
Qual a relação que o senhor faz da ética com o modelo político econômico do Brasil hoje. Nosso problema está no modelo ou na ética?
O problema do Brasil está em práticas políticas que são completamente inadequadas para o tipo de convivência e vida que o Brasil precisa alcançar. Os exemplos que são dados pelos nossos governantes, pelo nosso patronato político, é o pior desserviço que se pode ter para construir um país que respeite a lei, que respeite os valores e que seja mais solidário. Quando nós vemos o que se passou na Petrobras nos últimos anos, de 2007 para cá, isso é o pior exemplo que se pode imaginar para população em termos do comportamento daqueles que deveriam estar gerindo o patrimônio público. Isso é o que de pior vem acontecendo no Brasil. Eu tenho certeza que a população brasileira está perplexa como todos nós de que um governo de perfil estatizante conseguiu destruir, não por completo, mas prejudicar muito as nossas principais empresas estatais. Alias o Governo Dilma é o Governo dos paradoxos. Ela se elegeu em nome da aceleração do crescimento e vai entregar o menor crescimento desde o governo Floriano Peixoto e Collor de Mello. É o pior crescimento da era republicana. Para um governo que se elegeu prometendo acelerar o crescimento e ela (Dilma) era a mãe do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) o resultado é exatamente o contrário do que foi proposto. Esse governo tinha na redução dos juros sua principal bandeira e ele será o primeiro governo desde 1998 e entregar no final do mandato com juros maior do que recebeu. O maior juro do planeta hoje é do governo Dilma. Inclusive muitas dúvidas sobre autonomia do Banco Central porque ela forçou uma queda de juros prematura e obrigou o banco depois a aumentar muito mais os juros como nós temos agora do que seria preciso.
Nos seus livros, o senhor chegou a dizer que um dia o Brasil estaria dividido entre as pessoas que não comem e não dormem. E hoje qual a divisão do Brasil?
Isso eu disse no início dos anos 90 no período da hiperinflação. Hoje o problema é que o país conquistou a estabilidade econômica, mas está comprometida e sobre sério risco nesse governo Dilma. O Brasil conquistou uma importante inclusão social, mas parou de avançar durante o Governo Dilma e o grande desafio hoje a bandeira que vai marcar um novo governo caso o Brasil continue a avançar é a bandeira da cidadania. Isso significa serviços públicos de qualidade, educação com qualidade, saúde pública com qualidade e principalmente o respeito do cidadão. O cidadão precisa saber que no governo estão pessoas que existem para servi-lo e não o contrário. Porque o patronato político brasileiro, inclusive o que se tornou o PT, continua agindo como se a sociedade que existe para servi-lo e não o contrário.
Mas o brasileiro sabe ser cidadão?
Ele não teve a chance de mostrar que sabe porque ele é tratado de maneira completamente inadequada e ele não é respeitado nos seus direitos mais elementares. 45% das crianças brasileiras até 14 anos não tem coleta de esgoto no domicílio. Nosso ensino fundamental é de péssima qualidade, é muito precário. Nossa saúde pública é um desastre. O transporte coletivo as pessoas perdem três horas para se deslocar ao trabalho. Essa é a cidadania que está precisando ser construída no Brasil. A dignidade e o respeito do cidadão nos seus direitos mais elementares.
E qual a ética desse cidadão? Desde os vereadores dos menores municípios até os detentores de cargos mais altos tem casos de corrupção.
Por isso que precisa renovar e depurar as práticas políticas brasileiras. A experiência mostra que quando o cidadão comum é respeitado ele também respeita. A atitude das pessoas reflete muito que elas estão vendo ao seu redor. Quando as pessoas se sentem dignas, respeitadas, valorizadas, elas (as pessoas) também tratam os outros com respeito, dignidade e valorização.
É sonhar demais em um Brasil sem corrupção?
Eliminar 100% a corrupção nenhum país do mundo consegue. Mas nós podemos reduzir em muito essas práticas absurdas que ainda prevalecem na vida pública brasileira. Por exemplo, recuperando nas esferas de governo o princípio de que os ministros são pessoas da área competentes, com formação técnica, não são projetos políticos pessoais, de que nas nossas estatais não vamos empregar apadrinhados de partidos políticos fisiológicos, de que nossas agências reguladoras serão ocupadas por pessoas competentes, com melhor padrão técnico que é possível encontrar no Brasil. Ou seja, recuperando o sentindo de cidadania dentro do próprio estado.
Com a chegada de Marina Silva como candidata, o seu nome ganhou uma repercussão muito grande na imprensa nacional e o senhor foi alçado a um novo estatus. De alguma forma isso incomoda?
Não me incomoda, mas eu nunca imaginei me envolver em política, como acabei me envolvendo. Não era meu projeto de vida. Uma circunstância inesperada e essa aproximação que eu tive com a Marina em 2010 porque eu acho que uma líder como ela é raro em qualquer lugar do mundo acabou criando essa circunstância. Mas eu sempre digo e é uma realidade: eu não vou ter cargo Executivo. Eu não me preparei para isso na vida, eu não tenho perfil para isso, não tenho ambição disso. O que eu quero é poder contribuir com aconselhamento e eventualmente, se for o caso, ajudando a escolher os melhores porque a democracia brasileira merece que os melhores estejam no governo e não o que nós acabamos tendo atualmente.
Então qual a sua ambição?
Minha ambição é voltar para o meu estudo, voltar para minha atividade de autor e de pensador. Foi isso para o que me preparei durante 40 anos na vida. Eu me considero um pensador,um estudioso, gosto de ler, de estudar, de escrever, esse é o meu caminho. Os meus temas estão ligadas as vidas das nações, a estudo da economia, da ética e da convivência humana e acho que tenho contribuição de aconselhamento na medida em que ela for demanda e for solicitada. Eu nunca tinha me envolvido em política antes na vida. Não sou filiada a partido e não tenho nenhuma ambição e nem considero que seria correto exercer um cargo público executivo.