Argentina cumpre o trato
O maior público da curta história do Itaquerão – 63.267 pessoas- viveu ontem uma tarde de muita provocação entre os torcedores, bastante chuva, um frio de 16 graus Celsius que se fez notar, sobretudo porque o jogo avançou noite adentro na sétima prorrogação desta Copa, após o primeiro 0 a 0 do estádio.
Batidas do lado onde havia maior concentração da torcida argentina, as cobranças consagraram o goleiro Romero, que pegou duas cobranças. O técnico da Holanda, Louis van Gaal, apostou contra os pênaltis, ao contrário do que fizera nas quartas. Gastou suas três substituições para colocar o time no ataque, em vez de guardar uma para Krul, o goleiro que defendeu duas cobranças da Costa Rica. Vlaar, provavelmente o melhor do lado da Holanda, errou a cobrança que abriu a série, e Sneijder também perdeu. Foi a senha para os argentinos explodirem numa gritaria sem fim no Itaquerão. Ou melhor, continuar, porque até ali, dentro e fora do estádio, eles só tinham parado de gritar para impulsionar Messi e seus companheiros quando dedicavam o tempo a provocar os brasileiros por causa da goleada diante da Alemanha, quando a Holanda tinha alguma chance de gol e no minuto de silêncio em respeito a Di Stefano, um dos maiores nomes do futebol do país, morto nesta semana.
Foi um jogo bem diferente do da véspera, como prova o zero a zero dos 90 minutos. Quando o jogo avançou ultrapassou a primeira meia hora, a Fifa achou por bem lembrar, em sua narrativa ao vivo: “24 horas atrás, nesse mesmo horário, estava 5 a 0 para a Alemanha sobre o Brasil”.
Se o Mineirão consagrou Klose como o maior artilheiro das Copas, o que houve no Itaquerão foi um jogo dos defensores. Vlaar, do lado holandês, e Mascherno, do Argentino, se mostravam intransponíveis – sendo que Vlaar depois perderia um pênalti.
Foi um jogo duro. Bruno Indi enfiou a mão no peito de Messi quando ia ser driblado. Mascherano foi ao chão, zonzo, depois de disputar uma bola no alto com Wijnaldum. Demichelis acertou um chute direto na canela de Sneijder. Janmaat foi ao chão após saltar com Rojo. Vlaar chegou a se deitar no chão, de frente, para tirar uma bola de Higuaín (o auxiliar apontou falta).
Foi um jogo de provocação também dentro de campo. Higuaín passou a mão de maneira não exatamente carinhosa na cabeça de Vlaar quando o holandês cortou um cruzamento que chegaria para o argentino marcar. Agüero entrou na frente do goleiro Cillessen quando ele tentava armar um contra-ataque.
Um dos gestos, por sinal, lembrou o que a Argentina fez na única vitória sobre a Holanda, na final da Copa de 1978. Na volta do intervalo, deixou os holandeses sozinhos no campo, algo não usual na Copa (e que não tem mais como acontecer no início do jogo porque a Fifa agora obriga as equipe a entrarem juntas). Talvez porque mal tivesse tocado na bola até então, Robben aproveitou. Ficou tocando-a com seu companheiros e driblando sozinho.
Foi um jogo de gato e rato. O técnico da Argentina, Alejandro Sabella, viu que nas partidas anteriores a lateral esquerda dos holandeses havia sido um caminho mais fácil até o gol, e seu time atacou pra cima de Blind. No intervalo, o treinador da Holanda, Louis van Gaal, disparou um dominó para fechar a porta: colocou o lateral direito Janmaat no lugar de Bruno Indi, puxou Blind para a zaga e mandou Kuyt para o outro lado do campo, na lateral esquerda.
Foi um jogo de montanha-russa. Se a Argentina foi melhor no primeiro tempo, a Holanda equilibrou no segundo.
Foi um jogo em que a Holanda manteve sua tradição de jogar como nunca e perder como sempre.a decisão de pênaltis. Nenhuma seleção chegou tantas vezes à semifinal sem jamais ter erguido a taça.
Foi também um jogo em que a Argentina manteve o tabu de nunca ter perdido uma semifinal de Copa. Vai jogar sua quarta decisão -acumula duas vitórias e duas derrotas.
Ficha técnica
Holanda (0): Cillessen; De Vrij, Vlaar e Martins Indi (Janmaat); Kuyt, De Jong (Clasie), Wijnaldum, Sneijder e Blind; Robben e Van Persie (Huntelaar) . Técnico: Van Gaal
Argentina (0): Romero; Zabaleta, Demichelis, Garay e Rojo; Mascherano e Biglia; Pérez (Palacio), Messi e Lavezzi (Maxi Rodríguez);
Higuaín (Aguero). Técnico: Alejandro Sabella
Local: Estádio de Itaquera/São Paulo
Árbitro: Cuneyt Cakir (Turquia)
Penalidades: Robben e Kuyt converteram para a Holanda; Vlaar e Sneijder desperdiçaram Messi, Garay, Aguero e Maxi Rodríguez converteram para a Argentina
Em alta
Romero
Goleiro da Argentina fez uma bela partida e ainda por cima defendeu duas penalidades.
Em baixa
Snejder
Estrela da Holanda teve uma atuação apagada e ainda perdeu uma das penalidades.
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