15/06/2014 19h37 – Atualizado em 15/06/2014 19h42
‘Apavorada’, diz moradora de prédio evacuado após deslizamento em Natal
Dois condomínios foram desocupados em Areia Preta, na Zona Leste.
Deslizamento em Mãe Luíza atingiu área que fica entre os dois prédios.
“Fiquei apavorada. É lamentável e um sofrimento, pricipalmente para as pessoas de Mãe Luíza que perderam as casas. Ninguém esperava uma situação dessa”. O relato é da empresária Rose Grace Araújo Barros, moradora do condomínio Aldebaran, um dos prédios que foi evacuado após um deslizamento de terra na noite deste sábado (14) que atingiu a praia de Areia Preta. A empresária não estava em Recife e voltou assim que soube da evacuação. Os moradores ainda não sabem quando poderão voltar aos seus apartamentos. No bairro Mãe Luíza, onde começou o deslizamento, dezenas de famílias tiveram de deixar suas casas.
O desmoronamento aconteceu na rua Guanabara, no bairro de Mãe Luíza, em uma área que fica exatamente entre os condomínios Aldebaran e Infinity. Uma cratera se abriu no meio da pista por causa da chuva, fazendo parte do asfalto ceder e deslizar barranco abaixo. Calçadas de casas, pedras e muita terra caíram na Via Costeira, principal acesso à rede hoteleira e avenida onde estão os dois condomínios.
No condomínio Aldebaran, a areia cobriu metade do portão de entrada. De acordo com o engenheiro Marino Eugênio, síndico do prédio, os moradores deixaram seus apartamentos apenas com a roupa do corpo durante a noite. “Fizemos uma reunião e decidimos que o melhor a se fazer era sair do prédio”, diz. O síndico fez um apelo para que sejam colocadas lonas de proteção na lateral do condomínio de forma a evitar danos à estrutura em caso de novos deslizamentos. O prédio teve 19 apartamentos desocupados após o desmoronamento.
(Foto: Everaldo Costa/Inter TV Cabugi)
Presente na hora do deslizamento, a moradora Michele Araújo conta que sete pessoas estavam no apartamento. “Estávamos tranquilos e até depois do jogo ficou tudo bem. Meu marido até queria ficar, mas decidimos sair porque ficaríamos ilhados”, diz. Ela foi ao prédio na manhã deste domingo e fez críticas à falta de policiamento no local. “Está tudo abandonado. Não tinha polícia. Se não fosse a empresa de segurança do prédio não sei o que seria”, explica.
Recém construído, o condomínio Infinity só precisou evacuar dois apartamentos que estavam ocuopados. Já em Mãe Luíza, casas da rua Guanabara, além de uma travessa que leva à rua Atiláia foram evacuadas. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, algumas casas que tiveram a estrutura comprometida terão que ser demolidas.
No início da tarde da sexta-feira (13), quando a terra deslizou pelo barranco, a areia invadiu a Via Costeira e arrastou cinco carros e uma motocicleta. Ninguém se feriu, mas deixou a avenida interditada até a manhã do sábado, quando um novo deslizamento fez a Defesa Civil interditar novamente a pista. À noite, a situação se agravou e a terra voltou a descer morro abaixo (veja vídeo ao lado).
A jornalista Carolina Souza fez a filmagem e conta que ficou apreensiva no momento em que ocorreu o incidente. “Tinham pessoas lá embaixo, fiquei nervosa. Tive medo de o muro cair sobre as pessoas”, lembra. No vídeo, Carolina grita para alertar sobre o risco de desabamento.
da cidade, atingiu cinco carros e uma motocicleta
(Foto: Léo Carioca/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Alerta
De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), a chuva foi contínua em praticamente 48 horas, com um acúmulo no período de 285 milímetros de água sobre a cidade. “Choveu nestes dois dias o equivalente a média histórica de todo o mês de junho”, afirma o meteorologista Gilmar Bristot. Ainda na noite do sábado, a Prefeitura de Natal emitiu umsinal de alerta e determinou que todas as Secretarias Municipais com equipes, material e veículos permaneçam de sobreaviso enquanto o tempo não melhorar.
Ao G1, Bristot explicou que três fatores estão causando a permanência de nuvens carregadas sobre a cidade. “Ventos fracos, água quente no litoral e umidade alta. Estas três situações, juntas, fazem com que as chuvas não dissipem”, disse. “Para a capital potiguar, o mês de junho, historicamente, é o mês mais chuvoso do ano”, acrescentou o meteorologista.
A Procuradoria Geral do Município também foi alertada e deve elaborar um decreto de estado de calamidade pública ou de emergência a fim de que sejam tomadas medidas necessárias para a recuperação das áreas atingidas pelo temporal.
Ainda segundo a Prefeitura de Natal, desde o início das chuvas, ainda na manhã da sexta-feira, vários bairros da cidade vêm enfrentando problemas de alagamento pelo excesso de água – sobrecarregando o sistema de lagoas de captação do município.
transbordou com as chuvas que caem em Natal
(Foto: Pedro Rodrigues/G1)
Prejuízos
Além da cratera aberta em Mãe Luiza e do risco iminente de desmoranamento de casas, as chuvas também causaram prejuízos a moradores de outros bairros da cidade. Em Lagoa Nova, na Zona Sul, moradores das proximidades da avenida Capitão-mor Gouveia com a rua Mandacaru tiveram as casas invadidas pela água. O tabelião Acácio Costa mora na região e conta que já é a segunda vez que tem a residência alagada. “Pelo menos seis casas aqui estão sofrendo com os alagamentos. A água está danificando móveis e outros objetos”, relatou.
A lagoa de captação de São Conrado, que fica na avenida Lima e Silva, na Zona Oeste de Natal, também não suportou o volume de água acumulada e transbordou. Residências vizinhas alagaram e alguns moradores foram retirados de casa com a ajuda de botes do Corpo de Bombeiros. Carros foram inundados.
Na rua Luiz Cúrcio Cabral, no bairro Dix-Sept Rosado, os moradores tentam fazer barricadas para evitar maiores danos. A dona de uma das casas, Edilene Castro, disse que mora com o pai e o marido. “Não temos condições de sair de casa. Estamos fazendo barreiras, mas as casas da rua estão todas alagadas. Alguns vizinhos estão tentando tirar a água de dentro de casa com rodos e baldes”, disse ela.
(Foto: Reprodução/Felipe Gibson/G1)
Durante a madrugada deste domingo, a queda de uma árvore na Rua da Bronzita, no conjunto Potilândia, na Zona Sul da cidade, deixou um carro danificado e parte das casas sem energia. A rua fica nas imediações da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Moradores relataram que a árvore desabou por volta das 3h30. Os galhos afetaram a fiação de postes e deixou o local sem energia até o início da manhã, quando uma empresa terceirizada da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) chegou à rua para restabelecer o fornecimento.
ao Morro do Careca (Foto: Fernanda Zauli/G1)
Ainda pela madrugada, um deslizamento de terra destruiu a piscina de uma pousada que fica ao lado do Morro do Careca – duna de 107 metros margeada por vegetação – cartão-postal da praia de Ponta Negra, a mais famosa de Natal. Segundo o Corpo de Bombeiros, o terreno cedeu em razão das chuvas que caem na cidade desde as primeiras horas da sexta-feira (13). Um poste também tombou e atingiu o telhado de um restaurante que fica vizinho à duna. A área de lazer da pousada foi interditada e não houve feridos.
Quando o dia amanheceu, parte do muro de uma residência cedeu e desabou sobre um carro na rua Passo da Pátria, no bairro de Cidade Alta, na Zona Leste da cidade. Ninguém ficou machucado.
Sinal de alerta
Ainda na noite de sábado (14) o prefeito Carlos Eduardo determinou que todas as Secretarias Municipais com equipes, material e veículos permanecessem de sobreaviso enquanto durar as chuvas. A Procuradoria Geral do Município também foi acionada para elaborar um decreto de estado de calamidade pública ou emergência a fim de que sejam tomadas as medidas necessárias para a recuperação das áreas atingidas pelo temporal.
Ainda no início da noite do sábado foi preciso criar uma força-tarefa para discutir um plano de ações. Este grupo é composto pela Prefeitura, Corpo de Bombeiros e Exército.
O telefone da Defesa Civil do Município está em regime de plantão. Os casos de urgência e necessidade de atendimento devem ser relatados no (84) 3232-2525. A Defesa Civil está recebendo doações para os desabrigados na Escola Municipal Santos Reis, próximo ao Mercado do Peixe, nas Rocas.