Análise do “blog”: a partir de 2014, líderes políticos do RN terão que mudar o grau das lentes dos óculos
Do editor
Os exemplos do primeiro turno e o “andar da carruagem” no segundo turno obrigarão as lideranças políticas do Rio Grande do Norte mudarem os graus das lentes dos óculos para enxergarem melhor a realidade e o anseio popular.
Não é o caso de exaltar a existência de uma “terceira força”, tão ridicularizada e combatida por alguns áulicos do poder.
Por outro lado, não se trata de renovação biológica, com a necessidade de nomes jovens, em substituição aos mais velhos.
Salta aos olhos que o eleitor está cada dia mais exigente, por mais descaso que demonstre durante o processo eleitoral.
Há um misto de decepção e esperança, de parte do eleitorado.
Decepção pelos fatos e notórios que colocam a política como “um mar de lama”.
Esperança pela consciência de que enfraquecer a democracia, que permite a escolha popular, seria optar pela ditadura, que oprime e pune sem defesa.
No ano de 2013 começaram no RN os primeiros ensaios para a formação de chapas, visando a eleição de 2014.
Percebia-se que os “donos de partidos” temiam as “massas” nas ruas e pretendiam montar um grande acordo, em nome da paz pública.
O “boi de piranha” escolhido foi o desgaste do governo Rosalba Ciarlini, com causas diversas, sobretudo, a infidelidade política dos seus aliados e beneficiários diretos do poder estadual.
A estratégia era a reedição moderna da “paz pública” de 1974, liderada pelo então governador Tarcísio Maia, que uniu no estado adversários tradicionais (Alves, Maia e Mariz), com o objetivo de eliminar, a todo custo, a liderança emergente do governador Cortez Pereira, que saia do governo com um saldo de realizações administrativas de grande alcance para o futuro do RN.
Cortez foi considerado “inconveniente” pelos grupos dominantes da época, pelo fato de fazer política a base de ideais e propostas sérias, além de ter aberto inovadoras fronteiras, ainda hoje responsáveis pelo desenvolvimento setorial da economia potiguar.
Cortez Pereira e parte do seu grupo político foram “cassados” pelas lideranças políticas estaduais, e não pela Revolução de Março de 1964.
A Revolução recebeu (e aceitou) o “prato feito” do estelionato político preparado com requintes de perversidade nas alcovas do RN.
Por serem autoritários, os líderes da Revolução conviveram proximamente com as lideranças políticas tradicionais e preservaram o poder de todas elas.
Por essa razão, o AI-5 foi aplicado impiedosamente no estado, “cassando”, sem direito de defesa, Cortez Pereira e alguns aliados.
Dessa forma, a “paz pública”, que contou com o aval dos governos federal e estadual (RN) e a força do autoritarismo revolucionário abriu caminho para em 1970, o então deputado federal Jessé Freire, presidente da poderosa Confederação Nacional do Comercio, montar um “acordo” político com forças heterogêneas e ganhar a eleição para o senado.
Com toda essa força, o empresário Radir Pereira opôs-se a Jessé Freire e lhe fez grande “susto”, Começaram nessa eleição as manifestações de insatisfação do eleitorado potiguar.
À época, o senador Dinarte Mariz reelegeu-se para a outra vaga do senado, através do voto dos deputados estaduais na Assembleia Legislativa (senador biônico).
Passaram-se os anos.
O cenário era sempre o mesmo, alternando-se no poder os grupos Alves e Maia, através dos seus herdeiros.
Em alguns pleitos, as vésperas das eleições ensaiava-se uma “terceira via”, sempre frágil e desestimulada pelo “rolo compressor”.
O povo consolidava nas urnas o “status quo” e poucos foram os sinais de mudança, sobretudo em eleição majoritária.
A surpresa maior nesse período foi a ascensão da senhora Vilma de Faria, que se elegeu prefeita de Natal e governadora.
Vilma se auto intitulou “guerreira” e dizia “guerrear” contra os poderosos.
A história mostra hoje, que isso nunca aconteceu.
Embora politicamente competente e arrojada, Vilma sempre foi um “braço” eventualmente bem sucedido dos grupos dominantes da política estadual, que à distância tentavam usá-la para os seus objetivos.
E conseguiram.
Na medida em que se fortalecia, Vilma dava sinais de independência política, o que nunca consolidou.
Vilma sofreu do mal que atingiu todos àqueles que chegaram ao governo estadual pós década de sessenta, exceção de Aluízio Alves, Cortez Pereira e de certa forma Garibaldi Alves.
O mal era o temor generalizado dos aliados competentes e inovadores.
A orientação nos “bastidores” era sempre afastá-los com o rótulo de “complicados” (!!!), embora nunca considerados desleais
Sem equipes criativas, que buscassem alternativas avançadas e não o velho “feijão com arroz”, os governantes potiguares se revezaram no poder, com programas assistencialistas, e sem visão estrutural de melhoria do futuro do estado.
Nos últimos governos, Garibaldi Alves e o seu programa das águas deve ser considerada realmente uma exceção.
Chegou-se a 2014.
Para proteger-se das reações populares nas ruas armou-se o sonhado acordo político amplo, total e irrestrito, com a adesão da quase totalidade dos prefeitos, vereadores e lideranças políticas estaduais.
O argumento era o de que o “cavalo passava selado” com a vitória garantida e que não faltariam recursos financeiros e influência no poder federal para ganhar a eleição.
Vilma foi cooptada e entrou nesse acordo como a “joia da coroa”, com base numa “pesquisa” divulgada em dezembro de 2013, que anunciava previamente a sua vitória como candidata ao governo, ou ao senado.
Cabia a ela escolher.
Além de outros interesses, a pesquisa do final de 2013 prestigiou o nome de Vilma e dessa forma “sabotava” e “enfraquecia” subliminarmente possíveis candidaturas de concorrentes que nascessem no DEM-RN.
Tudo planejado e urdido no silêncio do anonimato.
Vilma, “aconselhada por amigos”, optou pelo senado.
Sem dúvida, um erro fatal, que as urnas mostraram.
Para consolidar esse “acordo”, considerado imbatível pelos seus mentores, foi exigida a “cabeça” da governadora Rosalba Ciarlini e alguns amigos em torno dela.
Coube ao seu próprio partido – o DEM-RN – “decapitá-los” cruelmente, negando-lhe legenda para disputar a reeleição, atingindo igualmente quem pretendesse disputar o senado federal, como é o caso do editor deste blog.
Henrique e Vilma exigiram esse compromisso do DEM-RN, sem o que o PMDB e PSB não abririam espaço para o deputado Felipe Maia reeleger-se.
Sem dó, nem piedade, o DEM-RN cumpriu a sua promessa, aliou-se a Henrique e Vilma e os seus líderes chegaram a afirmar que subiriam até em coqueiros para construir a vitória dos dois.
No segundo turno, as lideranças locais dos Democratas publicamente pedem “votos pelo amor de Deus” para eleger Henrique Alves governador.
As urnas ainda não falaram.
Apenas sinais, através de pesquisas, como a de ontem do IBOPE.
Se prevalecerem os prognósticos das pesquisas, o Rio Grande do Norte terá sido um até 2014 e outro de 2015 em diante.
Não se sabe se para melhor, ou pior.
A “grande lição” será a de que para ganhar eleição majoritária a escolha dos candidatos obedece a critérios diferentes das proporcionais.
A eleição majoritária é plebiscitária e exige perfil de credibilidade, competência e experiência para exercer o mandato.
Essa história de “ter voto”, ou não “ter voto” (poder econômico e colégios eleitorais) não funciona na escolha do eleitor.
Será que a lição está sendo aceita e assimilada pelas lideranças do RN?
Somente o futuro dirá.
Aguardemos o final do segundo turno para a continuidade dessa análise do “blog”, com outros detalhes.
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