Blog do Levany Júnior

ALTO DO RODRIGUES RN-‘Principal prevenção é a fotoproteção’

172716Entrevista – Leonardo Ribeiro
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Norte

Com estimativa de 175 mil novos casos de câncer de pele em 2016, a doença é uma das que mais preocupa especialistas, sobretudo por ser um tipo de câncer que pode ser prevenido se a população seguir as orientações e os cuidados no dia a dia. Para orientar a população, a  Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Norte alerta sobre riscos e a melhor de se proteger. “A principal prevenção é a fotoproteção, usar óculos, chapéus, ficar mais tempo na sombra, ficar atento aos horários e usar filtro solar. Profissionais que estão expostos todos os dias precisam de um controle ainda maior para evitar um câncer de pele”, alerta o dermatologista e presidente da Sociedade, Leonardo Ribeiro. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o especialista fala sobre os riscos, prevenção, dificuldades de diagnóstico na rede pública do SUS. Eis a entrevista.

Alex RégisLeonardo Ribeiro – Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Norte

É alta a incidência de casos de câncer de pele no Estado?
A incidência do número de casos câncer de pele é crescente. No Rio Grande do Norte, a estimativa é de 3 mil novos casos por ano. E, no Brasil, segundo dados do levantamento do INCA, são 175 mil novos casos a cada ano, o não melanoma – o tipo mais comum de câncer de pele.  No total, o câncer de pele corresponde a 25%, um quarto de todos os tipos de câncer.

Esse crescimento se deve a maior incidência solar?
Na verdade, ocorre pelo aumento da população e também com a facilidade de diagnóstico, mas casos estão sendo notificados. Esse crescimento se deve também a isso. É um número crescente porque antes não tinha o diagnóstico e, agora há mais e se tratando mais também.

Existem quantos tipos de câncer de pele?
Normalmente, o câncer de pele é dividido em três subtipos: o melanoma, o não melanoma carcinoma basocelular e o não melanoma espinocelular. O melanoma é o mais grave, agressivo, perigoso, que corresponde a 5% de todos os tipos de câncer de pele e tem alta taxa de mortalidade 70%. Ele começa com um sinal escuro, que cresce, com borda assimétrica. O não melanoma carcinoma basocelular representa 70% dos caos de câncer de pele, mas se consegue curar com cirurgia simples, mesmo que fique alguma sequelas. E o não melanoma espinocelular responde por cerca de 25%, é menos agressivo também e tem baixa taxa de mortalidade. Fora esses, há outros dez subtipos que representam, juntos, menos de 1% dos casos.

É um câncer que mata muito no Brasil?
Dados do INCA, mostram que, no Brasil, são cerca de  1.8 mil casos de morte pelo não melanoma, ao ano, e 1.6 mil casos pelo melanoma. Este último, o mais agressivo, corresponde a apenas 5% dos casos, mais raro.

O acesso ao diagnóstico é fácil, se consegue na rede SUS?
O diagnóstico é feito por exame clínico por meio da dermatoscopia, por equipamento com uma lente potente que traz mais detalhes da lesão, e confirmado que é, fazemos a biópsia para identificar o subtipo. Diferente de outros casos de câncer em órgãos internos, o diagnóstico por estar em área externa é mais fácil de no exame clínico perceber alguma deformação ou lesão na pele que possa ser suspeita de câncer e fazer a biopsia. Não é um exame caro, complexo, como em outros tipos de câncer é exame físico e a biopsia. Mas não é encontrado na rede pública conveniada ao SUS, é bem limitado assim como muito outros exames e especialidades médicas. O acesso do SUS ao especialista deixa muito dever.

Essa deficiência na rede se reflete em mais números de casos ou mesmo em diagnóstico tardio?
Acaba que ou se perde o diagnóstico ou ele vem a ser identificado em estágio avançado, mais grave, o que vai demandar cirurgias maiores e abordagens mais agressivas. Por isso, a necessidade de diagnóstico precoce.

E a prevenção, como alertar?
Procurando os primeiros sinais para se prevenir. Olhar sinais que não tinham antes, que tinha algum machucado, ferimento que não cicatriza, alguns sinais escuros que crescem de forma assimétrica, com bordas irregulares. São sinais para levar as pessoas a uma consulta para diagnóstico. Porque há outros sinais que se assemelham a uma lesão de câncer de pele, mas não o são. Ao longo do ano, fizemos aqui duas campanhas de atendimento de câncer de pele, em outubro e novembro, com mais de 1.5 mil atendimentos, com 300 casos diagnosticados e encaminhados para tratamento. E a Dezembro Laranja teve esse caráter mais informativo e preventivo.

O senhor falou que há casos que se assemelham, mas não são câncer de pele. Como fazer essa distinção, só por meio de exame?
É bem difícil. Não há como distinguir a olho nu. Até para um médico clínico é complicado, pode identificar algumas lesões, mas não fechar o diagnóstico. Por isso a importância de procurar um especialista, um médico dermatologista, vinculado a Sociedade Brasileira de Dermatologia, para ser examinado.

Há grupo de risco mais suscetível a desenvolver a doença?
Não há grupos de riscos, mas quanto mais velho maior a incidência e risco de caso, devido o dano solar ser cumulativo, mas pode ocorrer em peles brancas, morenas, negras, entre gêneros também é semelhante a ocorrência.

Nas últimas semanas tivemos um pico do índice de radiação solar.  Como o RN está posicionado em relação a radiação e como isso eleva os riscos do câncer de pele?
Natal está entre as cidades que possui os mais altos índices de exposição aos raios ultravioletas [causadores de câncer de pele]. De acordo com informações do INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), a capital potiguar já chegou a ter o maior índice de raios UV do Brasil. E nas últimas semanas o índice médio em Natal, que oscila entre 10 e 11, numa escala de 0 a 16, chegou a 13, que ultrapassa o nível “muito alto” e chega ao “extremo”. A partir de 11 é recomendado o uso de proteção solar, especialmente para evitar câncer de pele. Como sabemos a causa é a radiação ultravioleta, a principal prevenção é a fotoproteção, usar óculos, chapéus, ficar mais tempo na sombra, ficar atento aos horários e usar filtro solar. Profissionais que estão expostos todos os dias como vendedor ambulante, na praia, agricultor, pescador, precisam de um controle ainda maior para evitar um câncer de pele.

Há pesquisas no Reino Unido com o vírus da herpes geneticamente modificado sendo usados para a cura. Em que fase estão essas pesquisas, já podem ser usadas no Brasil?
Desconheço, pode ser algum tipo de vírus que causa a herpes usado em algum tratamento de câncer de pele especifico, mas não tenho informações. Não é algo que se pratica. Só se for, uma lesão específica e não se aplica aqui, no meio cientifico.

Hoje, o tratamento é a cirurgia?
Isso, cirurgia. E para as lesões pré-malignas, aquelas que podem vir a ser um câncer de pele, podemos tratar com medicação.

CÂNCER DE PELE
Aumento dos casos
Cerca de 175 mil novos casos de câncer da pele não melanoma devem surgir em 2016, no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA).

Sinais e sintomas
– Uma lesão na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, avermelhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente;
– Uma pinta preta ou castanha que muda sua cor, textura, torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho;
– Uma mancha ou ferida que não cicatriza, que continua a crescer apresentando coceira, crostas, erosões ou sangramento.

Como se proteger
– Usar chapéus, camisetas e protetores solares
– Evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre 10 e 16h
– Na praia ou na piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta.
– Usar filtros solares diariamente, e não somente em horários de lazer ou diversão, com proteção contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo.
– Observar regularmente a própria pele, à procura de pintas ou manchas suspeitas
– Consultar um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo.
– Manter bebês e crianças protegidos do sol. Filtros solares podem ser usados a partir dos seis meses.

Fonte: SBD

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