Com as perspectivas em baixa para as festas de final do ano, projeções de encolhimento do PIB e um ajuste fiscal ainda em disputa entre a Presidência e o Congresso Nacional, a visão os industriais para 2016 não é nada otimista. Mesmo com a alta do dólar – feita mais à revelia do mercado do que por uma política federal –, a retomada da indústria, em baixa há quase quatro anos ainda depende de outras medidas de estímulo à competitividade. No RN, o saldo de despensas da indústria somente em 2015 chega a 4 mil vagas. Para o presidente da Fiern, Amaro Sales, a recuperação da economia só acontecerá em 2017, com a consolidação das medidas de ajuste fiscal e a diminuição do peso do funcionalismo. A crise brasileira será debatida na próxima edição do seminário Motores do Desenvolvimento, cujo tema é “Brasil, vamos para a frente”, que acontece no dia 9 de novembro, na Casa da Indústria. Eis a entrevista:
Para a retomada do setor, então, é preciso investir na melhoria da infraestrutura e logística.
Este é o grande papel dos governos. O país precisa ser mais agressivo em política externa, mas o que me preocupa são as indefinições e inseguranças do mercado interno. O governo disse que o crescimento seria de 1% neste ano, e agora será um decrescimento de -3%. Diante desta insegurança da política econômica do governo o investidor dificilmente vai aplicar o seus recursos.
Retomada da economia somente em 2017, então?
Eu acredito que a retomada dependem destas medidas de ajuste do governo em 2016, além de corte de gastos e melhoria da eficiência. Em âmbito estadual, o governo nos informou que está fazendo uma auditoria na folha – o que já deveria ter sido feito há muitos anos – mas acho que é preciso ir mais além. Trazer um pacto com os Poderes, governo e sociedade civil organizada. O Estado só sairá da crise se houver este pacto – do contrário, serão pequenas ações que não vão corrigir os erros que estão acontecendo.
O Governo do Estado defendeu que a economia deverá dar uma resposta em 2016. É possível?
O governo faz um ajuste de 3% nos impostos, mas quem vai dizer é o consumidor se vai topar pagar ou não. E se ele não topar? Se a economia, ao invés de crescer, diminuir? A gente vai pagar para ver, estamos apostando que não haverá esta queda do consumo. Porque o seguinte: o governo pode aumentar o encargo e diminuir o consumo, o que implica em redução da economia e na arrecadação.
Mas o empresário não pode repassar tudo…
Você já ouviu falar na briga entre o mar e o rochedo? Quem se esfacela é o caranguejo, e nós estamos de caranguejo. Os empresários que trazem a empregabilidade, que precisam ser visto de forma produtiva, vão pagar. O empresário provoca o crescimento e faz parte da economia. Não adianta que todos os dias sejam criadas obrigações que o empresário não tem como cumprir.
O Governo Federal lançou o Plano de Proteção ao Emprego. Não é uma alternativa?
Muito bonito para inglês ver, queria que você me mostrasse qual foi a empresa que contratou dentro do programa do governo e qual empregado foi beneficiado com isso? Quando o programa foi lançado, a Fiern se posicionou contra porque havia um programa de desoneração feita pelo governo Federal há três anos, funcionando muito bem, trazendo a competitividade, mas o Governo resolveu retirar o jogo e prejudicar o planejamento das empresas pelos próximos três ou quatro anos. A desoneração ia no pé do problema. Neste, há vários parâmetros que criam uma burocracia. Imagina a Guararapes: quantas pessoas ela precisará procurar para regular este novo moderno? Não há como. A própria Guararapes, a Coteminas, a Hering disseram que não tinha interesse. Precisamos é melhorar as relações de trabalho, o diálogo entre patrão e trabalhador, gerando uma conversa entre quem gera emprego e quem trabalha. Os sindicatos são autônomos para fazer estas negociações. Mas no Brasil, como há certas diferenças, às vezes até Justiça desconhece os acordos coletivos.
O senhor falou que o Pró-Sertão ainda enfrenta amarras para crescer. Quais?
Por parte dos órgãos fiscalizadores. O Senai, o Sebrae, o Governo do Estado e o pequeno empresário e o grupo Guararapes são todos parceiros. Isso, em qualquer lugar do mundo, tem que sofrer aplauso. O que passamos muito são fiscalizações com relação a empregabilidade. Não queremos a precarização do trabalho, mas o que precisamos é apoiar o empresário para que, em vez de 20 empregos, ele gere 40. Por exemplo, você pega uma região como a do Seridó, que tem uma temperatura de quase 40º e exige que uma pequena facção tenha ar-condicionado, isso é uma amarra. Quando o que você precisa, na verdade, é oferecer condições para que o trabalhador se sinta confortável. Não queremos que desapareça a fiscalização, mas que o empregador tenha direito a dupla visita, orientação e corrigir as situações. Tem fiscal que chega e na primeira vez já faz um auto, qual a empresa que vai aguentar? Eu entendo que o órgão fiscalizador precisa fazer uma orientação, mas não de primeira querer fechar a empresa.
A política industrial deve ir além dos benefícios fiscais, como Proadi e Progás?
No RN, realmente temos dois suportes que, bem orientados, são um diferencial de qualquer lugar do Brasil. São dois incentivos que facilitam a atração de indústrias para o nosso estado. Mas o Proadi tem 20 anos, precisava de um ajuste, o qual o Governo do Estado encaminhou para a Assembleia Legislativa. As pessoas contestam a necessidade um incentivo fiscal, mas quando ele é dado é para que ela se torne mais competitiva, não para que ela seja mais rica, mas para que traga mais desenvolvimento para o Estado. Uma empresa como a Guararapes, por exemplo, que garante 18 mil empregos diretos, em qualquer lugar do mundo ela é interessante. Agora, ela precisa ter algumas estruturas desamarradas em um país que cada dia cria mais obrigações para as empresas. O Proadi e o Progás são belíssimos, mas precisavam de ajustes. Se você é incentivado, vai ficar ad eternum aqui, mas se você não ficar tem que pagar 10 anos de multa, isso é impossível. Também precisávamos incentivar a micro e pequena empresa, que tem mais de 50% da empregabilidade garantida. Só que ela precisa de um olhar diferenciado. Não adianta ser uma empresa pequena com as obrigações de uma empresa grande.