ALTO DO RODRIGUES RN-“O Estado só sairá da crise se houver um pacto”


169956Entrevista » Amaro Sales
Presidente da Federação da Indústria do Rio Grande do Norte

Nadjara Martins

Repórter

Com as perspectivas em baixa para as festas de final do ano, projeções de encolhimento do PIB e um ajuste fiscal ainda em disputa entre a Presidência e o Congresso Nacional, a visão os industriais para 2016 não é nada otimista. Mesmo com a alta do dólar – feita mais à revelia do mercado do que por uma política federal –, a retomada da indústria, em baixa há quase quatro anos ainda depende de outras medidas de estímulo à competitividade. No RN, o saldo de despensas da indústria somente em 2015 chega a 4 mil vagas. Para o presidente da  Fiern, Amaro Sales, a recuperação da economia só acontecerá em 2017, com a consolidação das medidas de ajuste fiscal e a diminuição do peso do funcionalismo. A crise brasileira será debatida na próxima edição do seminário Motores do Desenvolvimento, cujo tema é “Brasil, vamos para a frente”, que acontece no dia 9 de novembro, na Casa da Indústria. Eis a entrevista:

Magnus NascimentoAmaro Sales - Presidente da Federação da Indústria do Rio Grande do NorteAmaro Sales – Presidente da Federação da Indústria do Rio Grande do Norte


Quais as perspectivas para o final deste ano?
Eu considero que as evoluções para 2015 serão muito pequenas, a 60 dias do encerramento do ano, cada um dentro do seu orçamento vai tentar sobreviver. Mesmo  a contratação temporária, diante da economia desaquecida, acredito que não acontecerá. Há industriais falando que não mais vai contratar as horas extras, e sim que vai dar as férias coletivas. Como as medidas do governo não saíram, o pacote fiscal também não teve a negociação finalizada no Congresso Nacional. Nós estamos preocupados é porque estas medidas deveriam acontecer agora para surtir efeito em 2016. As falas do ministro Levy, onde ele ainda insiste com a questão da CPMF, eu não acredito que vá ser finalizada ainda este ano. O governo também não mostra sinais de diminuir seus custos. O grande empecilho que existe hoje é a negociação da Presidência com a Câmara e isso nos preocupa, porque o direcionamento para 2016 ainda não está dado.

Para a retomada do setor, então, é preciso investir na melhoria da infraestrutura e logística.
Este é o grande papel dos governos. O país precisa ser mais agressivo em política externa, mas o que me preocupa são as indefinições e inseguranças do mercado interno. O governo disse que o crescimento seria de 1% neste ano, e agora será um decrescimento de -3%. Diante desta insegurança da política econômica do governo o investidor dificilmente vai aplicar o seus recursos.

Retomada da economia somente em 2017, então?
Eu acredito que a retomada dependem destas medidas de ajuste do governo em 2016, além de corte de gastos e melhoria da eficiência. Em âmbito estadual, o governo nos informou que está fazendo uma auditoria na folha – o que já deveria ter sido feito há muitos anos – mas acho que é preciso ir mais além. Trazer um pacto com os Poderes, governo e sociedade civil organizada. O Estado só sairá da crise se houver este pacto – do contrário, serão pequenas ações que não vão corrigir os erros que estão acontecendo.

O Governo do Estado defendeu que a economia deverá dar uma resposta em 2016. É possível?
O governo faz um ajuste de 3% nos impostos, mas quem vai dizer é o consumidor se vai topar pagar ou não. E se ele não topar? Se a economia, ao invés de crescer, diminuir? A gente vai pagar para ver, estamos apostando que não haverá esta queda do consumo. Porque o seguinte: o governo pode aumentar o encargo e diminuir o consumo, o que implica em redução da economia e na arrecadação.

Mas o empresário não pode repassar tudo…
Você já ouviu falar na briga entre o mar e o rochedo? Quem se esfacela é o caranguejo, e nós estamos de caranguejo. Os empresários que trazem a empregabilidade, que precisam ser visto de forma produtiva, vão pagar. O empresário provoca o crescimento e faz parte da economia. Não adianta que todos os dias sejam criadas obrigações que o empresário não tem como cumprir.

O Governo Federal lançou o Plano de Proteção ao Emprego. Não é uma alternativa?
Muito bonito para inglês ver, queria que você me mostrasse qual foi a empresa que contratou dentro do programa do governo e qual empregado foi beneficiado com isso? Quando o programa foi lançado, a Fiern se posicionou contra porque havia um programa de desoneração feita pelo governo Federal há três anos, funcionando muito bem, trazendo a competitividade, mas o Governo resolveu retirar o jogo e prejudicar o planejamento das empresas pelos próximos três ou quatro anos. A desoneração ia no pé do problema. Neste, há vários parâmetros que criam uma burocracia. Imagina a Guararapes: quantas pessoas ela precisará procurar para regular este novo moderno? Não há como. A própria Guararapes, a Coteminas, a Hering disseram que não tinha interesse. Precisamos é melhorar as relações de trabalho, o diálogo entre patrão e trabalhador, gerando uma conversa entre quem gera emprego e quem trabalha. Os sindicatos são autônomos para fazer estas negociações. Mas no Brasil, como há certas diferenças, às vezes até Justiça desconhece os acordos coletivos.

O senhor falou que o Pró-Sertão ainda enfrenta amarras para crescer. Quais?
Por parte dos órgãos fiscalizadores. O Senai, o Sebrae, o Governo do Estado e o pequeno empresário e o grupo Guararapes são todos parceiros. Isso, em qualquer lugar do mundo, tem que sofrer aplauso. O que passamos muito são fiscalizações com relação a empregabilidade. Não queremos a precarização do trabalho, mas o que precisamos é apoiar o empresário para que, em vez de 20 empregos, ele gere 40. Por exemplo, você pega uma região como a do Seridó, que tem uma temperatura de quase 40º e exige que uma pequena facção tenha ar-condicionado, isso é uma amarra. Quando o que você precisa, na verdade, é oferecer condições para que o trabalhador se sinta confortável. Não queremos que desapareça a fiscalização, mas que o empregador tenha direito a dupla visita, orientação e corrigir as situações. Tem fiscal que chega e na primeira vez já faz um auto, qual a empresa que vai aguentar? Eu entendo que o órgão fiscalizador precisa fazer uma orientação, mas não de primeira querer fechar a empresa.

A política industrial deve ir além dos benefícios fiscais, como Proadi e Progás?
No RN, realmente temos dois suportes que, bem orientados, são um diferencial de qualquer lugar do Brasil. São dois incentivos que facilitam a atração de indústrias para o nosso estado. Mas o Proadi tem 20 anos, precisava de um ajuste, o qual o Governo do Estado encaminhou para a Assembleia Legislativa. As pessoas contestam a necessidade um incentivo fiscal, mas quando ele é dado é para que ela se torne mais competitiva, não para que ela seja mais rica, mas para que traga mais desenvolvimento para o Estado. Uma empresa como a Guararapes, por exemplo, que garante 18 mil empregos diretos, em qualquer lugar do mundo ela é interessante. Agora, ela precisa ter algumas estruturas desamarradas em um país que cada dia cria mais obrigações para as empresas. O Proadi e o Progás são belíssimos, mas precisavam de ajustes. Se você é incentivado, vai ficar ad eternum aqui, mas se você não ficar tem que pagar 10 anos de multa, isso é impossível. Também precisávamos incentivar a micro e pequena empresa, que tem mais de 50% da empregabilidade garantida. Só que ela precisa de um olhar diferenciado. Não adianta ser uma empresa pequena com as obrigações de uma empresa grande.

Rate this post

Descubra mais sobre Blog do Levany Júnior

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.



Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

Comentários com Facebook




Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Descubra mais sobre Blog do Levany Júnior

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading