ALTO DO RODRIGUES RN-Keynesianismo, neoliberalismo e a economia nem-nem do usurpador, por Fábio de O. Ribeiro


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por Fábio de Oliveira Ribeiro

A maior tragédia atual, creio, é a incapacidade de alguns economistas, especialmente aqueles que dominam a cena na imprensa brasileira, de admitir que o neoliberalismo se afogou no poço de lama que ele mesmo criou. À crise ética (fraudes praticadas pelos administradores da ERON, ADELPHIA, WORLDCOM, DYNEGY, HARKEN e outras) seguiu-se a crise financeira de 2008 que foi em grande medida o resultado da ausência de regulamentação bancária e da cumplicidade das agências de risco norte-americanas, mas os teólogos do neoliberalismo continuam divulgando seus dogmas.

Durante doze anos eles criticaram os sucessos econômicos de Lula e Dilma. Nos últimos meses eles aplaudem as medidas neoliberalizantes adotadas pelo usurpador Michel Temer como se ainda fosse válido o mantra “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Não se pode dizer que o neoliberalismo tenha feito bem aos norte-americanos, cujas cidades foram transformadas em favelas de barracas povoadas por milhões de crianças que não fazem 3 refeições decentes por dia.

O neoliberalismo foi imaginado como uma saída para o atoleiro inflacionário dos anos 1970 início dos anos 1980. Para entender a crise do modelo neoliberal vale a pena recuperar o que era discutido quando da crise do modelo keynesiano.

“A renovação da crise econômica na década de 1970 obrigou Paul Samuelson e outros keynesianos a engolir suas próprias palavras. Ela tornou possível a argumentação de que o êxito do keynesianismo no pós-guerra era muito menos a causa do que simplesmente o efeito da expansão econômica daquela fase, e da democracia política. Essa expansão seguira-se à estagnação anterior  no curso normal de ondas desiguais de acumulação de capital e foi, no devido tempo, seguido por um outro longo período de estagnação e, aparentemente, de um renovado movimento no sentido do conservadorismo político.

Essa renovada crise de estagnação da acumulação de capital começou em meados da década de 1960, tornando-se universalmente visível na recessão de 1973-1975. Os economistas que sofrem de um retardamento teórico reconheceram, finalmente a crise durante a malsucedida recuperação de 1975-1979 e a atual recessão de pós-1979. A crise econômica manifestou-se através da estagnação do investimento e do crescimento, do consequente desemprego e inflação combinados na estagflação, numa economia cada vez mais monopolista e a bancarrota generalizada das firmas industriais e de algumas instituições financeiras. O desenvolvimento dessa nova crise econômica mundial também criou a crise e em seguida a falência do keynesianismo, e sua substituição pela nova ortodoxia do monetarismo clássico e da economia neoclássica da oferta. Essa modificação neoconservadora na teoria e na política econômicas foi o componente mais importante da oscilação para a direita, sob as bandeiras do reaganismo, ou da reagonomia, nos Estados Unidos, e do thatcherismo na Grã-Bretanha.” (Reflexões sobre a Crise Econômica Mundial, Andre Gunder Frank, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1983, p. 171/172).

O neoliberalismo produziu um descolamento total entre a economia real e a economia financeira. A circulação mundial de capitais financeiros especulativos que excedem várias vezes o PIB mundial é uma prova deste fenômeno. A era da especulação desregulada também produziu o endividamento dos Estados, pois os governantes renunciaram aos tributos que poderiam arrecadar das atividades bancárias e das fortunas privadas. A crença generalizada num mundo em que todos poderiam consumir sempre mais, também acarretou um crescimento do endividamento privado. Quando a bolha neoliberal explodiu os norte-americanos perderam os empregos e as casas que não podiam mais pagar.

A crise financeira de 2008, porém, não atingiu todos da mesma forma. Salvo algumas exceções, nos EUA os ativos financeiros das pessoas mais ricas não desapareceram como em 1929. Isto ocorreu porque o tesouro norte-americano salvou o sistema bancário de um colapso certo que tinha tudo para socializar a miséria. O neoliberalismo foi salvo pelo Estado (inimigo natural da economia capitalista segundo os economistas que apoiam Michel Temer), mas o abismo entre ricos e pobres, que já era grande, aumentou assustadoramente https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-vida-nos-tuneis-nos-eua-da-ficcao-para-realidade-por-fabio-de-oliveira-ribeiro.

Felizmente eu não sou economista. Portanto, não estou em condições de discutir com profundidade os méritos do keynesianismo e os deméritos do neoliberalismo. A única coisa que eu posso fazer é ver as evidências históricas e meditar com base nelas.

A classe média norte-americana, imensa, culta e muito mais rica que as classes médias dos outros países, foi construída pelo keynesianismo. O resultado do neoliberalismo é a pobreza endêmica que já assola várias cidades dos EUA. Os norte-americanos mais ricos já fogem destas cidades como se o problema deixasse de existir após a fuga delas. As feridas, porém, continuam abertas e tendem a crescer por falta de cuidado.

Quando o keynesianismo entrou em crise, o neoliberalismo prometeu um mundo sem inflação em que a abundância estaria ao alcance da maioria da população. Nos EUA (e, depois, nos outros países em que o neoliberalismo deitou raízes) a classe média encolheu, a intranquilidade econômica aumentou e, após 2008, a abundância ilusoriamente produzida pelo endividamento crescente desapareceu. E para piorar as coisas, os Estados endividados cuidam apenas dos interesses dos banqueiros e dos especuladores.

Os governos neoliberais que servem de modelo para Michel Temer não atendem e não querem atender as necessidades de centenas de milhões de operários, aposentados e desempregados empobrecidos no momento em que eles estão mais fragilizados. A vitória de Donald Trump sem dúvida alguma ocorreu porque o Partido Democrata não foi capaz de perceber o ressentimento provocado pelo neoliberalismo defendido por Hillary Clinton. Todavia, Trump já anunciou cortes de impostos para os norte-americanos mais ricos, se mostrando mais inclinado a remendar o neoliberalismo do que a adotar políticas keynesianas.

No Brasil atual estamos fadados à uma economia nem-nem. Nem keynesiana, porque Michel Temer rejeita qualquer medida que vise fortalecer a participação do salário no PIB para alavancar o consumo interno. Nem neoliberal, porque o Estado brasileiro continuará a distribuir bondades (apenas para os ricos, juízes e militares como fazia no princípio do século XX). O aumento assustador dos gastos estatais com propaganda, primeira medida econômica do usurpador após cortar investimentos sociais, é uma prova satisfatória de que o neoliberalismo brasileiro é uma falácia. Mas os teólogos da exclusão social continuarão a recitar sua liturgia nos jornais e telejornais até que a barbárie se expanda o suficiente para produzir uma revolução à francesa.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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