ALTO DO RODRIGUES RN-‘Empreender é uma solução, mas não é tão fácil’


170165Sara Vasconcelos
Repórter

Implementar inovação e empreendedorismo passa pela mudança do pensamento. Esta é a proposta da escritora e empresária Bel Pesce que após conseguir entrar para o MIT e desenvolver uma startup no Vale do Silício, de volta  para o Brasil, montou uma escola – a FAZ Inova – cujo currículo trabalha  as habilidades comportamentais e de empreendedorismo pra fazer acontecer. “Não adianta ter estruturas incríveis se a pessoa estiver travada. Criar algo novo trava, mas errar faz parte do processo. Precisa errar, consertar e continuar melhorando”, disse. Bel Pesce esteve em Natal em outubro, para uma palestra para estudantes e empresários, dentro do projeto Tour da Bel em parceria com o IEL-RN. Com 21 projetos, quatro livros publicados e uma empresa de inovação, aos 26 anos a empresária é  considerada uma dos “30 jovens mais promissores do Brasil”, pela Revista Forbes, e está na lista dos “10 líderes mais admirados pelos jovens” segundo a Cia. de Talentos. Confira a entrevista.

Adriano AbreuEmpresária e escritora Bel Pesce fala sobre inovação, empreendedorismo, as vantagens e dificuldades nesse caminhoEmpresária e escritora Bel Pesce fala sobre inovação, empreendedorismo, as vantagens e dificuldades nesse caminho

Em um momento de recessão econômica com demissões em massa, empreender pode ser considerado uma solução pra sair da crise?
Há tempos que existe o termo empreender por necessidade, muitos empreendem porque não têm outra  opção para sobreviver. E sem dúvida empreender é uma solução, mas não é tão fácil. Quando alguém resolve começar um negócio, ou ser autônomo, precisa entender o quanto é difícil. Não é só uma maravilha por não ter chefe e horários. Não tem chefe, mas tem cliente que é bem mais rígido. Não tem horário, pois vai ser tempo integral. E o lance de fazer muito dinheiro, claro, que não é uma realidade. Há a probabilidade de algumas empresas estourarem, mas à base de muito trabalho, muita resiliência e esforço. Não apenas em momentos de recessão, mas a qualquer tempo o empreendedorismo é uma solução. Mas dependendo da forma como você estruturar isso pode levar a perder mais, na crise ou fora dela.

Na sua avaliação, qualquer pessoa pode empreender?
Se considerarmos empreender como abrir um negócio, é preciso entender o quão difícil é, o que engloba a ação, o quanto vai exigir de tempo, de olhar criticamente para o negócio, o quanto é complicado lidar com pessoas e que precisa amar o que faz. Se empreender é no sentido de protagonismo, de tomar as rédeas dos próprios projetos e  crescer, dentro da sua ou outra empresa,  todos podem empreender. Além do conhecimento técnico é necessário ter habilidades comportamentais bem desenvolvidos de relacionamento, liderança, iniciativa, autoconhecimento, conseguir resolver os problemas com os recursos que se tem a mão.

Como é promover inovação e empreendedorismo no Brasil em relação a outros países? Quais as diferenças de cenário para startups aqui e no Vale do Silício?
Quando penso em inovação e empreendedorismo, eu vejo os dois lados da moeda. Um é mais estrutural, o que temos em um país que favorece ou bloqueia a inovação ou empreendedorismo? São vários os pontos: leis antiquadas, burocracia. No outro lado, vem o modo de pensar. Não adianta ter estruturas incríveis se a pessoa estiver travada. Como a pessoa quer criar algo novo em um mundo em que o cara cria, erra e depois não pode ir lá consertar, continuar melhorando? Ser for visto como perdedor, ele não vai mais tentar. E, claro, que inovação é algo que trava e que errar é normal. Promover inovação e empreendedorismo passa pela questão do eu  posso mudar no modo de pensar e ou nas estruturas.  Meu papel, hoje,  é o de tentar mudar a forma de pensar. A diferença para uma startup lá  no Vale e outros países é a estrutura que eles têm e que, às vezes, levam as pessoas aqui no Brasil a ter crenças limitantes sobre o que elas são capazes de fazer. Lá, o cara não tem medo de errar, entende um pouco melhor o que é empreender, sem romantismo, tem mais estrutura. Aqui a burocracia demora mais,  levantar capital demora mais, as leis são diferentes.

Quais os desafios para implementar a inovação no mercado?
Muitos. Um deles é essa questão do erro, que aqui no Brasil é considerado perdedor. Se você está fazendo algo novo pela primeira vez, você precisa aprender a testar de forma melhor para tentar consertar e conseguir o resultado positivo. Então, precisa de estruturas que permitam esse cara errar, testar, se erguer e acertar grande. E no caso de empresas já consolidadas que precisam mudar o coração do negócio para sobreviver, como é o caso da Xerox que matou a fotocópia e hoje faz outras coisas, também é complicado. Fazer algo bem por 20, 30 ou 40 anos e precisar mudar  causa medo.

Esses são dois pontos (empreendedorismo e inovação) que  não integram o currículo escolar. Como você avalia o modelo de educação brasileiro? E o que uma educação ideal deve contemplar para que as gerações se preparem para o futuro?
Eu acho que a gente acaba fazendo olho grosso para diversas inteligências que são muito importantes. Temos um currículo escolar que engloba muita coisa que precisamos, todo mundo precisa aprender português, matemática, o básico de diversas outras coisas. E artes? E comunicação? E negócios? E habilidades comportamentais? Também são extremamente importantes. A razão número 1 de demissões são problemas comportamentais. Pessoas com  problema de relacionamento, que não tem pressa e prazo para entregar, que não sabem se comunicar. É raro se mandar alguém embora por falta de conhecimento técnico. Na maioria dos casos é por falta de relacionamento, por falta de noção, por falta de visão, de conseguir querer tocar uma equipe.  E eu acho que isso deveria estar dentro do modelo de educação brasileiro. Precisamos de um modelo de educação que não seja pós-revolução industrial para pessoas que iam para uma fábrica fazer movimentos repetitivos. O diferencial é o humano. É o saber pensar, saber ter iniciativa.

Como surgiu a escola Faz INOVA e o que se pretende com ela?
A Faz Inova surgiu porque eu achava que as pessoas estavam desvalorizando a educação e se  propõe a ensinar as habilidades comportamentais e em empreendedorismo pra fazer acontecer. E educação é a única coisa que pode fazer você chegar mais perto dos seus sonhos, a coisa mais poderosa desse mundo. Eu quis linkar educação com alcançar sonhos. Criamos um currículo comportamental com muita execução, muitas ferramentas e entramos com inovação e empreendedorismo que linka com o sonho dessas pessoas.

Você está sempre conectada e faz uso maciço de redes sociais. Esse é o novo caminho para empresas, investir em marketing digital? Qual o impacto desse uso das redes sociais para os negócios?
Na verdade, eu invisto meu tempo em marketing digital. Nunca investi dinheiro. Não que eu não ache certo, estou começando a fazer isso. Mas acho que qualquer pessoa que queira fazer a sua mensagem chegar ao maior número de gente precisa encontrar os olhinhos e os ouvidinhos dessas pessoas, que antes estavam em mídias tradicionais, como rádio e TV. Mas hoje, esses olhinhos e ouvidinhos estão na internet. E as redes sociais buscam autenticidade. E, no meu caso, é bem interessante porque eu sendo eu mesma vai gerando algo maior. No meu mundo, usar o marketing digital é mostrar o que eu sou e porque eu acredito tanto no que eu prego e, as redes, dão um sustento muito forte, porque aquilo com que as pessoas se sentem representadas é muito poderoso. Eu divulgo mais coisas gratuitas, mas é um potencial de distribuição do negócio, com mais gente sabendo.

Qual a importância dos relacionamentos e do networking para conseguir sucesso no empreendimento?
Ninguém faz nada sozinho. O relacionamento com o cliente, com o chefe, com o colega, com o funcionário é importante e razão de uma empresa quebrar ou não. Em termos de networking, abre a cabeça, vai entender  melhor o que o mercado precisa, consegue validar ideias, reduzir custos, conseguir clientes.

Percebe-se um grande crescimento de start-ups, mas  também do fechamento delas. Na sua avaliação, isso ocorre por uma preocupação maior em criar algo, colocar no mercado e ganhar dinheiro, do que em, de fato, resolver os problemas a que estas start-ups se propõem?
Este é sim um fator, mas  que o buraco é mais embaixo. Em todos os lugares do mundo, existe um alto número de empresas que morrem. Algumas empresas novas estão tendo a ousadia de tentar algo pela primeira vez. E não tem dados factuais do que dá certo e do que não dá, eles estão sendo audaciosos. Outro ponto, há muito marinheiro de primeira viagem que desiste fácil, que gasta muito no começo que quer investir em  marketing ao invés de em feedback de cliente, então, acho que como você citou aqui, quem foca em resolver as necessidades dos outros sai na frente.

Com relação a investimentos locais, há oportunidades reais para os empreendedores brasileiros?
Sempre há. Dinheiro tem bastante, claro, as pessoas a estão mais receosas e você precisa provar a capacidade de execução, que sua equipe vai pegar uma ideia transformar em um negócio e ter a capacidade de se virar se der errado, porque a probabilidade é grande.

Você conseguiu um alto financiamento por meio da estratégia de palestras financiadas coletivamente. É a forma mais viável, se aplica a qualquer caso?
Não, cada empresa demanda diferentes modelos. Todas as empresas tem a chance de tentar fazer sozinho. Todas as empresas tem a chance de você tentar vender produtos, em vez de perder uma porcentagem do negocio para o investidor, ou oferecer em troca. E o financiamento coletivo tem essa natureza você não está dando um parte da sua empresa, mas está pré-vendendo um produto.

Você tem percorrido o país para divulgar estratégias de inovação. O que tem chamado atenção na formação de jovens que tem encontrado?
O Tour da Bel é um programa que eu criei e esse ano chamei o IEL para ser parceiro. E as pessoas querem mudar, há uma massa crítica do bem, de pessoas que se esforçam para não ter essa energia perdida.

Você é considerada uma dos “30 jovens mais promissores do Brasil”, pela Revista Forbes, e está na lista dos “10 líderes mais admirados pelos jovens” segundo a Cia. de Talentos. A que atribui esse reconhecimento e como é lidar com essa responsabilidade?
Para mim, isso é muito louco. Sou muito jovem, muita vontade de fazer muita coisa e tem muito o que fazer. Mas o principal é que eu represento  as pessoas, eu sou muito igual a todo mundo, mas fui lá e fiz algumas coisas legais e as pessoas sentem que podem também fazer. Acho que o reconhecimento vem disso, de tocar as pessoas com coisas que eu acredito. E essa responsabilidade eu amo, acho que é uma maneira me fazer mais presente todos os dias e me faz mudar, com certeza.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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