Por André Araújo
A economista Lynn Parramore, do Institute for New Economic Thinking de Nova York, escreveu um excelente paper sobre o conceito de austeridade em economia, o lead do trabalho é o abaixo.
“Austeridade é um conceito tão poderoso porque ele se auto alimenta. O conceito faz as pessoas inseguras. As pessoas deixam de unir forças e o sistema político se trava. O nome do princípio “”AJUSTE FISCAL” congela a atenção da população, que não questiona o seu conteúdo, formando uma barreira entre os indivíduos e o mundo político. O “ajuste fiscal” solapa a participação democrática. Esta obscura teoria da austeridade valida com sua autoridade conservadora um grande erro econômico que parece algo sensato, mas é uma panela furada.
O conceito de “AJUSTE FISCAL” apresenta uma falácia completa, a de que um orçamento nacional é como um orçamento de família. É um magno engano. Uma família não emite dinheiro, já emitir dinheiro é uma das principais funções de um Estado.”
A tese de Lynn Parramore ataca a própria lógica do ajuste fiscal, pelas mesmas razões que aqui no Brasil muitas pessoas intuitivamente perceberam que, ao reprimir a atividade econômica e os gastos e investimentos públicos, a arrecadação cai e em função disso cai a capacidade do Estado de investir e num círculo vicioso, a cada queda da atividade, mais cai a arrecadação sucessivamente e, ao fim, o ajuste empobrece o País e o Estado que, para ter arrecadação, precisa ter mais e não menos atividade econômica que serve de base à taxação.
Lynn ataca a ciência e sapiência dos economistas que propõe algo tão primário como um ajuste fiscal auto destrutivo, o que não invalida de modo algum a necessidade de racionalizar os gastos públicos MAS não o corte linear apenas para encolher o orçamento por razões financeiras e não de eficiência do Estado.
A lógica do AJUSTE FISCAL vem do mercado financeiro e é sua visão para aumentar sua garantia de recebimento da dívida pública, sem se importar com os efeitos do AJUSTE sobre a atividade econômica geral e a vida da população.
O Institute for New Economic Thinking-INET é um círculo de 790 economistas da mais alta qualidade que questionam os cânones e o modelo monetarista validado até a crise de 2008, que demonstrou as fissuras perigosas desse modelo criado pelo mercado financeiro para seus próprios objetivos. Como demonstrei em meu livro, o monetarismo de Milton Friedman é uma produção do CITIGROUP que bancou a revista e a série de palestras onde Friedman divulgou sua teoria monetarista, que serve como uma luva ao sistema financeiro, mas não à economia produtiva.
O INET professa sérias dúvidas sobre o modelo monetarista e quer rediscuti-lo, pondo em dúvida suas premissas, criticando portanto a turma do “almoço grátis” e da “lição de casa” que tantos seguidores tem no Brasil.
O INET tem entre seus economistas associados Prêmios Nobel, professores de Harvard, Cambridge, Princeton, Oxford, Columbia, Berkeley, a montagem do instituto foi financiada pelas fundações Rockefeller e Carnegie, por George Soros e outros que embora oriundos do modelo anterior põe em dúvida sua sustentabilidade futura e querem revisá-lo. No Brasil não há nenhum seguidor, o pensamento econômico predominante continua aferrado ao velho modelo da “lição de casa”.