São Paulo (AE) – Os investimentos conservadores devem dominar o portfólio dos brasileiros neste ano. A combinação das incertezas nas áreas econômica e política mostra que 2016 será um ano para correr pouco risco. Por ora, as previsões para a economia do Brasil indicam que o ano pode ser tão difícil quanto foi 2015. O País deve continuar o seu turbulento processo de ajuste fiscal num cenário de forte recessão, inflação elevada e aumento da taxa básica de juros.
A inflação provavelmente vai descer do patamar de dois dígitos, mas tende a seguir insistentemente acima do teto da meta estipulado pelo governo (6,5%), o que vai dificultar o ganho real do investidor. Como consequência, o Banco Central já sinalizou que deverá promover novos aumentos da Selic com o objetivo de conter a alta dos preços.
A dificuldade na área econômica ainda vai se somar a um quadro turbulento político de difícil previsão. “Em 2016, nós estamos muito impactados pelo tamanho do ajuste fiscal que o governo de fato vai conseguir entregar”, afirma Luciane Ribeiro, diretora do Santander Asset Management.
Na lista de investimentos que trazem ganho garantido em períodos de subida de juros aparecem os tradicionais fundos de renda fixa e DI. “Esses produtos, na sua maioria, têm liquidez e a garantia de que estão tendo um retorno um pouco acima da inflação”, diz Marcos Daré, diretor de investimentos do Bradesco.
A composição de um portfólio mais conservador também pode englobar papéis do Tesouro Direto. Um título indexado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chega a pagar juros reais de 7,5% ao ano. “Ou seja, o investidor aplica num produto de baixo risco que paga, além da inflação, mais 7,5% de juros”, destaca Liao Yu Chieh, professor do Insper. “Para o investidor com um prazo mais amplo, é uma boa recomendação.”
Diversificação
Mas a aposta em investimentos conservadores não significa que o brasileiro tenha de fugir de aplicações de maior risco e evitar a diversificação da carteira. “Num período de incertezas, se o investidor tem tolerância a risco, ele pode ter um crescimento financeiro bastante grande”, afirma Daré.
Para definir uma estratégia, é preciso ter em mente qual é o prazo desejado e o tamanho do risco que se pretende correr.
“A diversificação é sempre saudável. Muitas vezes, ficar conservador é tomar risco, porque no médio e longo prazos o investidor pode perder oportunidades”, afirma Luiz Sorge, presidente da BNP Paribas Asset Management.
A importância da diversificação, diz Sorge, está na possibilidade de aproveitar a recuperação do mercado assim que ela ocorre. Isso porque, normalmente, as mudanças que podem trazer algum tipo de ganho são percebidas primeiro pelos investidores institucionais, e não pelas pessoas físicas.
Com essa ideia de pulverizar as aplicações, uma das apostas está em ações de bolsas dos Estados Unidos e da Europa. O investidor consegue ter acesso a esse tipo de produto por meio de fundos locais que investem uma parcela do patrimônio fora do País. ”
Investidor amplia aposta em títulos
Natália Cacioli
São Paulo (AE) – Em tempos de inflação alta, os brasileiros têm buscado alternativas para proteger o patrimônio. Em 2015, o Tesouro Direto foi a “menina dos olhos” de muitos investidores, que aliaram a segurança da renda fixa à rentabilidade dos títulos públicos. Como a elevação dos preços deve seguir em patamar alto e a taxa básica de juros (Selic) deve subir ainda mais em 2016, os rendimentos dos títulos deverão continuar atrativos.
O número de investidores ativos no Tesouro Direto subiu 72% nos 12 meses encerrados em outubro, enquanto o estoque de aplicações atingiu R$ 22,9 bilhões, alta de 57,7%. A quantidade de participantes ultrapassou o número de investidores na Bolsa, com 587,3 mil pessoas. Foi a primeira que isso aconteceu desde a criação do produto, em 2002.
“Vai ser difícil encontrar outro investimento que bata o juro de 14%. Não é impossível, mas em outros ativos, como Bolsa e câmbio, há o risco”, diz o diretor da Easynvest Amerson Magalhães.
A rentabilidade chama a atenção principalmente se comparada à da caderneta de poupança, que vai perder para a inflação pela primeira vez em 13 anos. Segundo a consultoria Economática, o ganho anual da poupança está em 7,95%, frente à inflação de 10,48%. O cenário para 2016 não é animador: economistas consultados pelo Banco Central estimam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 6,86%, acima do teto da meta, de 6,5%
Apesar do crescimento neste ano, a quantidade de investidores nos títulos públicos ainda é bem menor do que os que escolhem a caderneta de poupança, que tem 137 milhões de clientes.
Desses, 70% investem até R$ 500. Por isso, o governo ainda vê potencial de expansão. “Há muito espaço a ser conquistado”, diz Débora Araújo, analista de Finanças e Controle do Tesouro, acrescentando que o investimento mínimo é de R$ 30.
Para ajudar nessa popularização, o Tesouro simplificou o nome dos títulos e deu maior liquidez ao produto, que agora pode ser vendido a qualquer momento. Segundo Débora, o governo prepara novas ações para o início de 2016, como um simulador que compara títulos com outros produtos financeiros.
Estratégias
Não existe “fórmula mágica” para escolher um título. Diante das incertezas política e econômica, porém, especialistas indicam títulos com prazo curto. “Está muito difícil fazer prognóstico para 2016”, diz Alexandre Fernandes, diretor de crédito da Rio Bravo.
O risco do Tesouro Direto é mínimo, porque é soberano – o investidor só deixa de receber se o País der calote, o que é improvável. Mas há o chamado risco de mercado: se o cliente resgata o valor da aplicação antes do vencimento, o título é vendido de acordo com a taxa do dia, e isso pode levar a uma perda. Logo, o ideal é segurar até o fim do prazo.
A primeira experiência do advogado Guilherme Lippi, de 29 anos, não foi das melhores. Em 2013, ele comprou títulos indexados à inflação com vencimento em 2035. “Comprei por impulso. Precisei vender antes do prazo e perdi dinheiro”, conta.
Segundo dados do Tesouro, 59,7% dos títulos vendidos são indexados à inflação e 53,8% deles têm prazo de 1 a 5 anos. Na corretora Rico, que viu o número de clientes da área subir 84% em 2015, os títulos que protegem da alta dos preços são os mais procurados. O analista Roberto Indech, no entanto, faz um alerta: “Se é um investimento de curto prazo, de até dois anos, indicamos o Tesouro Selic. Para médio prazo, o Tesouro IPCA é interessante”, explica.
O Tesouro Selic é reajustado diariamente pela Selic. Já o indexado à inflação (Tesouro IPCA) costuma render mais, mas pode perder valor se o juro subir ou tiver o resgate antecipado.
O analista de sistemas André Spinalli Schiavoni, 27 anos, começou a comprar títulos no segundo semestre de 2015. Optou pelo mais conservador. “Pretendo comprar um carro, então escolhi o Tesouro Selic, que me paga a taxa de juros e não corro o risco de perder dinheiro se fizer o resgate antes do vencimento”.
*Colaborou Mariana Congo