Comunismo, socialismo, racismo, nazismo, capitalismo… Frutos tardios de um longo século XX, que nos engana frequentemente com suas falsas despedidas…
GUERRA RÚSSIA-UCRÂNCIA
A Torre de Babel e o século que não morre
Por Robson Aleixo
As dificuldades já começam com os nomes praticamente impronunciáveis. Em frente a tela minha mente se curva diante da dificuldade de explicar uma guerra tão cheia de “ismos”. Comunismo, socialismo, racismo, nazismo, capitalismo… Frutos tardios de um longo século XX, que nos engana frequentemente com suas falsas despedidas, mas se comporta como um inquilino despejado da história que deixou tantas coisas nos cômodos sociais, políticos, econômicos e culturais do mundo que sua ausência se transformou numa presença aterrorizante. É mais fácil matar um monstro do que enterrar seu corpo.
E eu nem tinha ainda vencido a luta para não deixar inconclusivas as análises sobre a esquisitíssima crise no Afeganistão – aquela guerra que o Talibã ganhou perdendo – e o noticiário já me bombardeia neste 2022 com notícias, análises e explicações. É um verdadeiro exército de comentaristas que vão desde correspondentes internacionais que já viram de quase tudo até influenciadores – estes visivelmente mais ousados nas suas abordagens e respostas – tento não me perder.
O que une uma multidão de expectadores neste cortisol que nos foi legado sem autorização é um gigantesco “POR QUÊ?” As explicações são muitas para uma guerra de altíssimo nível de complexidade, mas se qualquer um dos elementos (geopolítico, econômico, histórico e mais uma dúzia de áreas do saber) estiver faltando a conta não vai fechar.
Todo mundo explica, ninguém entende.
Os projetos de expansão não são inéditos. As justificativas se aperfeiçoam de tempos em tempos, mas os “movimentos de defesa” que cedo ou tarde se configuram em ações enlouquecidas, nós já vimos antes.
Babel é um exemplo.
Olhando rapidamente para essa história até parece que o projeto era de expansão ou de sobrevivência: “Disseram: Venham, vamos construir uma cidade e uma torre cujo topo chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gênesis 11:4). Mas a radiografia da Revelação não deixou o engano às escondidas: “Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo o que planejam fazer ” (Gênesis 9:6).
A construção da Torre não era o objetivo, ele era, antes de tudo, o método! O objetivo era chegar ao céu e tornar celebres os nomes, um projeto de glória e exaltação ao orgulho humano, que sem poder explicar sua pequenez inconsciente se externalizava num empreendimento rebelde e arrogante.
Babel é a síntese clássica da glória humana: toda a complexidade do projeto, a genialidade e ousadia dos seus projetistas e o empenho técnico dos seus construtores resultou em uma enorme confusão.
Assim é toda ação promovida pelo orgulho, todo mundo explica, ninguém entende.
Sobram narrativas sobre defesas de seus territórios, ideais e valores. As justificativas caem como chuva sobre gastos estapafúrdios com armas, todos à mesa com números e planilhas, explicam, mas as crianças sem pais, as mães sem filhos e os idosos sem teto simplesmente não entendem.
Velhos diante de uma mesa e jovens diante de estilhaços…
Ao vivo eu vejo a cobertura da guerra pela internet. Um repórter conhecido, tremendo de frio acompanha uma família de, agora refugiados, chegar até uma das fronteiras. Um grupo de voluntários depositou uma quantidade tão grande de brinquedos que as crianças podem até escolher. Alguns distribuem roupas e alimentos para aqueles que chegaram no momento e local exato, outros não foram tão afortunados. Da porta do ônibus um homem grita uma frase, possivelmente ele já tenha feito isso algumas dezenas de vezes desde o início do conflito. O repórter assusta, os refugiados se posicionam, e uma fila se movimenta ônibus adentro. São vários idiomas e nacionalidades na cena, ucranianos, poloneses, ingleses, nigerianos, brasileiros, ajudando e sendo ajudados.
Ninguém explica, todos entendem.
Qual dos males que nos afligem neste nosso novo século velho não tem um caso sério com a vaidade e a mediocridade travestida de grandeza?
Da janela que a minha bíblia abre vejo o maior projeto de expansão de um Reino na história. Uma ofensiva inicial protagonizada pelos discípulos de Jesus em Jerusalém se tornou um símbolo de sucesso com mais de três mil vidas conquistadas. Um olhar desatento não percebe que não é apenas uma nova religião que está surgindo e a pregação não é o objetivo. É o método.
“Estavam morando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Assim, quando se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que foi tomada de perplexidade, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam atônitos e se admiravam, dizendo:
— Vejam! Não são galileus todos esses que aí estão falando? Então como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes. Como os ouvimos falar sobre as grandezas de Deus em nossas próprias línguas?” ( Atos 2: 5 a 11).
A análise divina mais uma vez não deixou escapar:
“O que está acontecendo é o que foi dito por meio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade” (Atos 2: 17 e 17).
Algum tempo depois do dilúvio as mentes se esquecem do Criador, o orgulho humano predomina, o Espírito se retira e o amor evapora… todos se falam, ninguém se entende. Algumas semanas depois da crucifixão, a mente se recorda, a graça divina predomina, o Espírito se apresenta e o amor triunfa. Várias línguas diferentes, do auditório ninguém consegue explicar, mas todos conseguem entender.
O contra-ataque de Deus neste mundo confuso, que todos explicam e ninguém entende, são corações cheios do Espírito: a única alternativa para a “paz que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7), paz promovida por “bem-aventurados pacificadores” (Mateus 5:9), que com palavras e ações promovem as necessárias e indissociáveis: paz de Deus e paz com Deus (Romanos 5:1).
Ele não garantiu que teríamos todas as explicações nessa guerra, Ele garantiu que teríamos uma companhia, um Consolador. Sem que Ele explique absolutamente tudo, temos certeza de como a história vai acabar.