A PALAVRA DO DIA-EXPLICAÇÃO DO LIVRO DE MIQUÉIAS
Miquéias advertiu Judá sobre o juízo divino iminente (Senaqueribe invadiu 46 cidades de Judá) e predisse a invasão de Salmaneser V no norte. Fala também sobre o chamamento dos gentios. O Messias nasceria em Belém (Mq 5: 2-4) e traria restauração à nação.
Miquéias (Mikhâ, forma abreviada de Mikhãyehii, ‘quem é como Deus?’) profetizou por volta de 742 a 687 AC, durante os reinados de três reis de Judá: Jotão, Acaz e Ezequias. Nasceu em Moresete (Mq 1: 1), referindo-se a Moresete-Gate, nas terras baixas de Judá (Sefelá), perto de Gate, na terra dos filisteus. Foi contemporâneo mais jovem de Isaías. Escreveu para os habitantes de Judá, a fim de adverti-los de que o juízo divino era iminente por haverem rejeitado a Deus e à Sua lei (condenação contra os príncipes e os profetas – Mq 3: 1-12). Haveria a punição de Israel e sua restauração, a glória e a paz vindoura sobre Jerusalém, o sofrimento e a restauração de Sião, a corrupção da sociedade (Mq 7: 1-6) e a afirmação final de confiança em Deus (Mq 7: 7). Também esperava pelo Messias que nasceria em Belém (Mq 2: 13; Mq 5: 2-5) e traria restauração à nação.
Profetizou contra Jerusalém (Mq 4: 10) e, assim como Amós e Isaías, se levantou contra a exploração dos pobres sitiantes e agricultores pelos proprietários de terras (Mq 2: 1-5). Predisse claramente as depredações efetuadas por Salmaneser V (727-722 AC) no reino do norte, bem como a destruição final de Samaria e Judá (posteriormente) por causa da idolatria e da corrupção social. Salientava que a graça salvadora de Deus não podia ser obtida por mérito (Mq 6: 6-8), na forma de ofertas pretensiosas de sacrifícios e formalidades, mas pela humildade, misericórdia e justiça como uma experiência diária na vida do indivíduo.
Capítulo 1 – Ameaças contra Israel e Judá
• Mq 1: 1-9: “Palavra do Senhor que em visão veio a Miquéias, morastita [NVI: de Moresete], nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, sobre Samaria e Jerusalém. Ouvi, todos os povos, prestai atenção, ó terra e tudo o que ela contém [NVI: todos os que nela habitam], e seja o Senhor Deus testemunha contra vós outros, o Senhor desde o seu santo templo. Porque eis que o Senhor sai do seu lugar, e desce, e anda sobre os altos da terra. Os montes debaixo dele se derretem, e os vales se fendem; são como a cera diante do fogo, como as águas que se precipitam num abismo [NVI: como que rasgados pelas águas que descem velozes encosta abaixo]. Tudo isto por causa da transgressão de Jacó e dos pecados da casa de Israel. Qual é a transgressão de Jacó? Não é Samaria? E quais os altos de Judá? Não é Jerusalém? [NVI: Qual é o altar idólatra de Judá? Acaso não é Jerusalém?] Por isso, farei de Samaria um montão de pedras do campo [NVI: um monte de entulho em campo aberto], uma terra de plantar vinhas; farei rebolar as suas pedras para o vale e descobrirei os seus fundamentos [NVI: atirarei as suas pedras no vale e porei a descoberto os seus alicerces]. Todas as suas imagens de escultura serão despedaçadas, e todos os salários de sua impureza [NVI: seus ganhos imorais] serão queimados, e de todos os seus ídolos eu farei uma ruína, porque do preço da prostituição os ajuntou, e a este preço volverão [NVI: Visto que o que ela ajuntou foi como ganho da prostituição, como salário de prostituição tornará a ser usado]. 8 Por isso, lamento e uivo; ando despojado [NVI: descalço] e nu; faço lamentações como de chacais e pranto como de avestruzes [NVI: gemerei como um filhote de coruja]. 9 Porque as suas feridas são incuráveis; o mal chegou até Judá [NVI: a ferida de Samaria é incurável e chegou a Judá]; estendeu-se até à porta do meu povo, até Jerusalém”.
O profeta começa falando que o Senhor está ciente da transgressão do Seu povo e decidiu agir para corrigir o erro. Da mesma forma que Naum (Na 1: 4-6) e outros profetas, ele descreve as manifestações da natureza como um espelho da ira de Deus: ‘Os montes debaixo dele se derretem, e os vales se fendem; são como a cera diante do fogo, como as águas que se precipitam num abismo [NVI: como que rasgados pelas águas que descem velozes encosta abaixo]’, pois tudo se dobra diante do Seu poder e majestade. Sua ira neste momento é em relação à idolatria de Samaria e de Israel (do reino do norte) e que já havia contaminado também a Judá. Ele anuncia a destruição de Samaria por causa disso, principalmente das imagens de escultura; e o dinheiro que foi conquistado por causa dos ídolos será transferido para outro povo idólatra, os assírios (‘Visto que o que ela ajuntou foi como ganho da prostituição, como salário de prostituição tornará a ser usado’). Ele pode estar falando aqui de Salmaneser V (727-722 AC) e Sargom II (722-705 AC), que destruíram Samaria (o pai iniciou o cerco e o filho a conquistou em 722 AC).
• ‘Por isso, lamento e uivo; ando despojado [NVI: descalço] e nu; faço lamentações como de chacais e pranto como de avestruzes [NVI: gemerei como um filhote de coruja]’ (Mq 1: 8) – aqui é provável que o profeta tenha se lamentado com pano de saco e cinzas (cf. Mq 1: 10) por causa do seu povo, mas é interessante que quando ele escreve: ‘ando despojado [NVI: descalço] e nu’, sua atitude se parece muito com a atitude de Isaías (Is 20: 1-4), no tempo de Sargom II, e que andou nu por três anos para mostrar que a Etiópia seria levada em cativeiro. Miquéias pode ter tido o mesmo comportamento por algum tempo para mostrar às pessoas que Samaria, em breve, seria levada em cativeiro para a Assíria (cf. v. 10).
• ‘Porque as suas feridas são incuráveis; o mal chegou até Judá [NVI: a ferida de Samaria é incurável e chegou a Judá]; estendeu-se até à porta do meu povo, até Jerusalém’ – ele clama que a ferida do pecado de Samaria é incurável e já chegou a Judá, a Jerusalém.
• Mq 1: 10-15: “Não o anuncieis em Gate, nem choreis; revolvei-vos no pó, em Bete-Leafra [NVI: Bete-Ofra; ‘casa de poeira’]. Passa, ó moradora de Safir [Nota NVI: significa ‘agradável’], em vergonhosa nudez; a moradora de Zaanã não pode sair [Nota NVI: Zaanã se assemelha à palavra que se traduz por ‘sairão’]; o pranto de Bete-Ezel tira de vós o vosso refúgio [NVI: Bete-Ezel está em prantos; foi-lhe tirada a proteção]. Pois a moradora de Marote [Nota NVI: Marote se assemelha à palavra ‘Mara’, que significa ‘amarga’] suspira pelo bem [NVI: se contorcem de dor aguardando alívio], porque desceu do Senhor o mal até à porta de Jerusalém [NVI: porque a desgraça veio da parte do Senhor até as portas de Jerusalém]. Ata os corcéis ao carro, ó moradora de Laquis [Nota NIV: Laquis assemelha-se à palavra lareques [Hebr. Transliterado: lârekhesh], que se traduz por junta ou parelha]; foste o princípio do pecado para a filha de Sião, porque em ti se acharam as transgressões de Israel [NVI: Vocês foram o início do pecado da cidade de Sião, pois as transgressões de Israel foram aprendidas com vocês]. Portanto, darás presentes de despedida a Moresete-Gate; as casas de Aczibe [Nota NVI: Aczibe significa ‘engano’] serão para engano dos reis de Israel [NVI: A cidade de Aczibe se revelará enganosa aos reis de Israel]. Enviar-te-ei ainda quem tomará posse de ti, ó moradora de Maressa [NVI: Maressa assemelha-se à palavra que se traduz por ‘conquistador’]; chegará até Adulão a glória de Israel [NVI: A glória de Israel irá a Adulão]”.
Essas cidades se referem às cidades fortificadas da Judéia (2 Rs 18: 13; 2 Cr 32: 1; Is 36: 1) tomadas por Senaqueribe, além das que foram descritas em Is 10: 28-32: Migrom (na tribo de Benjamim), Micmás (na tribo de Benjamim), Geba (cidade de Benjamim – Js 21: 17; 1 Rs 15: 22), Ramá (na tribo de Benjamim – Js 18: 25), Gibeá (1 Sm 10: 26; 1 Sm 11: 4; 1 Sm 13: 2; tribo de Benjamim), Anatote (cidade de sacerdotes em Benjamim), Gebim, Aiate, Betel (Js 18: 13; 1 Cr 7: 28 – foi uma cidade de Benjamim, depois conquistada por Efraim), Galim (na tribo de Benjamim), Madmena (parte sul da tribo de Judá – Js 15: 31) e Nobe (cidade dos sacerdotes, perto de Jerusalém, 1 Samuel 22: 19); ao todo quarenta e seis cidades.
Miquéias menciona mais algumas: Gate, Bete-Leafra, Safir, Zaanã, Bete-Ezel, Marote, Laquis, Moresete-Gate, Aczibe, Maressa e Adulão. A maioria estava situada na área agrícola mais fértil de Judá (Sefelá), entre as montanhas da Judéia e a planície costeira, na Filístia.
• Gate – uma das cinco principais cidades da Filístia (Js 13: 3), que exultaria com a calamidade dos judeus. Gate foi sitiada e conquistada por Sargom II. Sua localização precisa ainda não foi descoberta.
• Bete-Leafra [Bete-Ofra; ‘casa de poeira’ ou ‘casa de pó’ – Aphrah] – também conhecida como Afra, Efra, Ofra, em Benjamim – Js 18: 23. Talvez por isso, é que o profeta tenha escrito no v. 8: ‘Por isso, lamento e uivo; ando despojado [NVI: descalço] e nu; faço lamentações como de chacais e pranto como de avestruzes [NVI: gemerei como um filhote de coruja]’, significando que ele se lamentou com pano de saco e cinzas; como sinal de sua tristeza, rolou no pó.
• Safir [significa ‘agradável’] – fica em Judá na planície da Filístia (Sefelá). O local exato é desconhecido, mas pode ter sido perto de Asdode. ‘Passa, ó moradora de Safir, em vergonhosa nudez’ – isso significava que seus habitantes deveriam rasgar suas roupas e prantear, o que os deixaria envergonhados.
• Zaanã – Talvez seja idêntica a Zenã na Sefelá de Judá, que aparece na lista de Js 15: 37. Por ser uma cidade fortificada e que foi sitiada, seus habitantes não puderam sair de lá, por isso, a nota da NVI: “Zaanã se assemelha à palavra que se traduz por ‘sairão’”. ‘A moradora de Zaanã não pode sair’ – Isso pode se referir à impossibilidade de sair por causa do cerco da cidade.
• Bete-Ezel – 1 Sm 20: 1 (onde Davi combinou um encontro com Jônatas). Não se sabe a localização correta.
• Marote (Maroth) – não se sabe onde ficava. Significa: amarga, amargura, fontes amargosas. ‘Pois a moradora de Marote suspira pelo bem, porque desceu do Senhor o mal até à porta de Jerusalém’ – os habitantes da cidade se contorceriam de dor aguardando alívio porque o Senhor trouxe o mal até a porta de Jerusalém, o que sugere a vinda de Senaqueribe até a porta da cidade, com o propósito de invadi-la.
• Moresete-Gate (Jr 26: 18; Mq 1: 14) – perto de Gate, na terra dos filisteus. Muito provavelmente a moderna Tell el-Gudeideh, cerca de trinta e dois quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Moresete-Gate significa ‘a posse de Gate’, e era a cidade natal de Miquéias. Os presentes aos quais o profeta se refere eram os que se davam na despedida; portanto, a cidade logo estaria perdida.
• Aczibe – em Judá (Js 15: 44; Gn 38: 5 – aqui é chamada Quezibe, atual Ain Kezbeh), embora haja outra cidade com o mesmo nome em Aser (Js 19: 29: Aczibe). Esta última cidade, a tribo de Aser nunca ocupou (Jz 1: 31 – ‘Aczibe’. Ela é mencionada junto com ‘Aco’, na costa, a atual Acre ou Akko). Aczibe foi tomada por Senaqueribe em 701 AC. Uma aldeia árabe foi fundada no local no século XVIII, com o nome de Az-Zeebe, cerca de dezesseis quilômetros ao norte da atual Acre. A cidade de Aczibe da qual o profeta está falando está situada na planície costeira de Judá, a Sefelá, próxima a Maressa. Aczibe significa ‘engano’.
• Maressa (significa: ‘conquistador’, ‘frente’, ‘cabeça’) – fica em Judá (Js 15: 44). Estava localizada na área da Sefelá, a sete quilômetros e meio de Laquis, perto de Queila e Aczibe (Js 14: 44). Foi fortificada por Roboão (2 Cr 11: 8). Depois se tornou uma cidade Sidônia e, mais tarde, foi tomada por Senaqueribe. Depois da queda da Assíria e no período pós-exílio, foi uma importante fortaleza da Iduméia. Foi destruída pelos Partos em 40 AC. No século III DC foi uma cidade romana (Eleutheropolis), depois passando para o domínio árabe e voltando para Israel séculos depois (Beit Guvrin, uma área agrícola). A maioria das áreas arqueologicamente importantes da antiga Maressa agora fazem parte do Parque Nacional Beit Guvrin-Maresha.
• Adulão – cidade Cananéia (Gn 38: 1-2) no território de Judá (Js 12: 15); fortificada pelo rei Roboão (2 Cr 11: 7); habitada após o exílio (Ne 11: 30). A ruína da colina também é conhecida pelo nome Khurbet esh-Sheikh Madkour, o nome do filho de um sultão, para quem foi construído um santuário durante o período muçulmano, e está a meio caminho entre Jerusalém e Laquis. O local é usualmente associado com a caverna na qual Davi se ocultou, quando perseguido por Saul (1 Sm 22: 1). Adulão significa ‘recinto fechado’ ou ‘lugar da antiguidade’ – Gn 38: 1; 12. Atualmente é uma reserva natural que faz parte dos Parques Nacionais e da Natureza de Israel.
‘Chegará até Adulão a glória de Israel [NVI: A glória de Israel irá a Adulão]’ – significa que até naquele lugar, que serviu de refúgio para os fugitivos, como Davi e o patriarca Judá, por exemplo, quando fugiu do acampamento de Jacó após a venda de José para os mercadores midianitas, para não ter que encarar o remorso de ver a dor do pai pela ‘morte’ do seu filho querido; até naquele lugar a ‘glória de Israel’, se referindo ao próprio Deus, chegará para impedir que o povo pecaminoso escape dos assírios. Há mais dois versículos na bíblia onde está escrita a expressão ‘a Glória de Israel’, se referindo a Deus:
• Também a Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa (1 Sm 15: 29).
• E falou mais [A mulher de Finéias, filho do sacerdote Eli]: Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus (1 Sm 4: 22).
Colina de Adulão coberta por pinheiros
Ruínas no topo da colina de Adulão
• Laquis (Lãkhïsh, em hebraico; Lachis, na Septuaginta) – ficava em Judá (Js 10: 31-32), no local atual de Tell el-Duweir a vinte e quatro quilômetros a oeste de Hebrom. Roboão reedificou a Laquis como um dos seus quinze centros de defesa para proteger Judá contra os ataques por parte dos filisteus ou dos egípcios (2 Cr 11: 5-12). Essa dependência do poder militar de Laquis foi um dos pecados condenados por Miquéias (Mq 1: 13), num jogo de palavras com rekhesh, ‘corcéis’ em nossa versão portuguesa. Por isso, Miquéias escreveu: ‘foste o princípio do pecado para a filha de Sião, porque em ti se acharam as transgressões de Israel. Portanto, darás presentes de despedida a Moresete-Gate’. Isso quer dizer que, muito provavelmente, Laquis absorveu os pecados de idolatria do reino do norte e foi uma pedra de tropeço para Jerusalém, contaminando a Cidade Santa também. Laquis tinha uma muralha de defesa bem espessa e torres.
Laquis – portão principal do sítio arqueológico em Israel
Mesmo assim, foi conquistada e destruída por Senaqueribe (2 Rs 18: 13; 2 Cr 32: 1; Is 36: 1). Laquis estava situada na área agrícola mais fértil de Judá; por isso, era de vital importância para a economia do reino. Foi completamente destruída. O que restou da cidadela ficou nas mãos de um governador assírio para coletar os impostos vindos da Filístia. A História fala que a cidade judaica de Azeca, assim como Laquis, também foi tomada de assalto, pilhada e, em seguida, devastada. Além de Laquis, na valiosa terra agrícola de Sefelá (planície marítima de Filístia na terra de Judá), havia outras cidades, que foram entregues nas mãos dos Filisteus. No tempo de Jeoquim, Laquis e Azeca foram reconstruídas para resistir ao ataque babilônico. Quando os babilônios comandados por Nabucodonosor invadiram Judá, elas foram as últimas cidades que caíram antes que a terra de Judá fosse totalmente tomada (Jr 34: 7). Laquis caiu com uma pesada destruição por meio de incêndio; foi reocupada depois por Gedalias (em 581 AC), o governador da Judéia nomeado por Nabucodonosor (2 Rs 25: 22-25; Jr 39: 14). Foi recuperada por Neemias (Ne 11: 30), mas não voltou a ser um lugar importante.
Sefelá, a região agrícola de Israel
• Mq 1: 16: “Faze-te calva e tosquia-te, por causa dos filhos que eram as tuas delícias; alarga a tua calva como a águia, porque de ti serão levados para o cativeiro [NVI: Rapem a cabeça em pranto por causa dos filhos nos quais vocês tanto se alegram; fiquem calvos como a águia, pois eles serão tirados de vocês e levados para o exílio]”.
Aqui o profeta fala sobre um luto público como era o costume (cf. Jr 16: 6), quando eles se vestiam de pano de saco e jogavam cinzas sobre a cabeça, arrancavam os cabelos e rapavam a barba. Há outras referências em:
• Is 15: 2-3 (“… todas as cabeças se tornam calvas, e toda barba é rapada. Cingem-se de panos de saco nas suas ruas; nos seus terraços e nas suas praças, andam todos uivando e choram abundantemente”)
• Is 22: 12-13 (“O Senhor, o Senhor dos Exércitos, vos convida naquele dia para chorar, prantear, rapar a cabeça e cingir o cilício [NVI: ‘vestes de lamento’]. Porém é só gozo e alegria que se vêem; matam-se bois, degolam-se ovelhas, come-se carne, bebe-se vinho e se diz: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”).
Capítulo 2 –
• Mq 2: 1-5 – Ai dos opressores gananciosos: “Ai daqueles que, no seu leito, imaginam a iniqüidade e maquinam o mal! À luz da alva, o praticam, porque o poder está em suas mãos [NVI: Quando alvorece, eles o executam, porque isso eles podem fazer]. Se cobiçam campos, os arrebatam; se casas, as tomam; assim, fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança [NVI: a ele e aos seus herdeiros]. Portanto, assim diz o Senhor: Eis que projeto mal contra esta família [NVI: essa gente], do qual não tirareis a vossa cerviz [NVI: da qual vocês não poderão livrar-se]; e não andareis altivamente, porque o tempo será mau [NVI: pois será tempo de desgraça]. Naquele dia, se criará contra vós outros um provérbio, se levantará pranto lastimoso e se dirá: Estamos inteiramente desolados! A porção do meu povo, Deus a troca! Como me despoja! Reparte os nossos campos aos rebeldes! [NVI: Naquele dia vocês serão ridicularizados; zombarão de vocês com esta triste canção: Estamos totalmente arruinados; dividida foi a propriedade do meu povo. Ele tirou-a de mim! Entregou a invasores as nossas terras]. Portanto, não terás, na congregação do Senhor, quem, pela sorte, lançando o cordel, meça possessões [NVI: para a divisão da terra por sorteio]”.
• ‘Eis que projeto mal contra esta família’ – esta família [NVI: essa gente] se referia ao povo do norte. Enquanto eles planejavam maldades, Deus estava colocando em ação o Seu plano, fazendo com que eles passassem a ser dominados por um povo estrangeiro (‘do qual não tirareis a vossa cerviz’ ou ‘vocês não poderão livrar-se’). Não seria possível escapar do infortúnio planejado por Deus.
• ‘Reparte os nossos campos aos rebeldes’ ou ‘Entregou a invasores as nossas terras’ – as terras seriam dadas aos ímpios invasores.
• ‘Quem, pela sorte, lançando o cordel, meça possessões’ ou ‘para a divisão da terra por sorteio’ – isso diz respeito ao costume de lançar sortes para repartir a herança ou porções de terra, como aconteceu com Josué, repartindo a terra de Canaã entre as tribos de Israel: Nm 34: 17; 29; Nm 36: 2; Js 14: 1-2.
Assim como Amós e Isaías, Miquéias também se levantou contra a exploração dos pobres sitiantes e agricultores pelos proprietários de terras. Havia injustiça contra os pequenos proprietários. Os ricos usavam de sua influência junto aos juízes, e por meios legais distorcidos para seu próprio benefício eles expulsavam os simples sitiantes de suas casas. Foi o que ocorreu, por exemplo, com Nabote, que se recusou a vender sua vinha para o rei Acabe, e acabou sendo apedrejado por causa de falsas acusações (1 Rs 21: 3; 10; 13). Os pobres sitiantes, então, teriam que mendigar para sobreviver, ou eram vendidos como escravos (às vezes, se vendiam a si mesmos). Da mesma forma que se fazia isso em Israel, o Senhor os entregaria nas mãos dos assírios, que viriam e tomariam suas terras.
• Mq 2: 6-11 – Contra os falsos profetas:
“Não babujeis, dizem eles [NVI: ‘Não preguem’, dizem os seus profetas]. Não babujeis tais coisas, porque a desgraça não cairá sobre nós (babujar significa ‘lisonjear servilmente, adular, bajular’). Tais coisas anunciadas não alcançarão a casa de Jacó. Está irritado o Espírito do Senhor? São estas as suas obras? Sim, as minhas palavras fazem o bem ao que anda retamente; mas, há pouco, se levantou o meu povo como inimigo; além da roupa, roubais a capa àqueles que passam seguros, sem pensar em guerra. Lançais fora as mulheres de meu povo do seu lar querido [NVI: de seus lares agradáveis]; dos filhinhos delas tirais a minha glória, para sempre [NVI: De seus filhos vocês removem a minha dignidade para sempre]. Levantai-vos e ide-vos embora, porque não é lugar aqui de descanso; ide-vos por causa da imundícia que destrói, sim, que destrói dolorosamente [NVI: porque ele está contaminado, e arruinado, sem que haja remédio]. Se houver alguém que, seguindo o vento da falsidade, mentindo, diga: Eu te profetizarei do vinho e da bebida forte, será este tal o profeta deste povo [NVI: Eu pregarei para vocês fartura de vinho e de bebida fermentada, ele será o profeta deste povo]”.
Havia muita injustiça e roubo, os pobres eram defraudados, mulheres e crianças sofriam com a ganância dos ricos, e Miquéias mostrava isso abertamente e avisava que Deus estava vindo com juízo sobre eles. Mas os ricos não estavam gostando do que ouviam e falavam a Miquéias para ele se calar. Se os falsos profetas enganassem o povo dizendo que o mal não viria contra eles, mas, pelo contrário, que haveria fartura de vinho e muita alegria, este profeta não vinha da parte do Senhor.
• Mq 2: 12-13 – O Senhor congrega o restante de Israel:
“Certamente, te ajuntarei todo, ó Jacó; certamente, congregarei o restante de Israel; pô-los-ei todos juntos, como ovelhas no aprisco, como rebanho no meio do seu pasto; farão grande ruído, por causa da multidão dos homens [NVI: haverá ruído de grande multidão]. Subirá diante deles o que abre caminho; eles romperão, entrarão pela porta e sairão por ela [NVI: passarão pela porta e sairão]; e o seu Rei irá adiante deles; sim, o Senhor, à sua frente”.
O profeta dá uma mensagem de esperança e consolo para os arrependidos, pois haverá um remanescente deixado pelo Senhor, e este remanescente purificado Ele congregará como ovelhas num só rebanho. O Senhor promete que serão muitos, e aqui há uma profecia messiânica, pois é de Jesus que se trata quando o profeta diz: “Subirá diante deles o que abre caminho; eles romperão, entrarão pela porta e sairão por ela (cf. Jo 10: 9); e o seu Rei irá adiante deles; sim, o Senhor, à sua frente”. O Messias traria restauração à nação.
Capítulo 3 – Ameaças contra os chefes, os sacerdotes e os falsos profetas
• Mq 3: 1-4: “Disse eu: Ouvi, agora, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da casa de Israel [NVI: chefes de Jacó, governantes da nação de Israel]: Não é a vós outros que pertence saber o juízo? [NVI: Vocês deveriam conhecer a justiça] Os que aborreceis o bem e amais o mal; e deles arrancais a pele e a carne de cima dos seus ossos [NVI: Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos]; que comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne no meio do caldeirão? Então, chamarão ao Senhor, mas não os ouvirá; antes, esconderá deles a sua face, naquele tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras”.
Miquéias volta ao assunto das injustiças sociais, não mais falando sobre os proprietários de terras, mas tocando agora nos governantes da nação de Israel, que conhecem a justiça de Deus, entretanto, não a praticam. Trocam o bem pelo mal, extorquem o povo até o último centavo e o oprimem. Por esse tipo de atitude, o Senhor desviará o rosto deles, e não lhes responderá. Quando o dia do juízo chegar, eles gritarão, mas não terão resposta da parte de Deus.
• Mq 3: 5-7: “Assim diz o Senhor acerca dos profetas que fazem errar o meu povo e que clamam: Paz, quando têm o que mastigar, mas apregoam guerra santa contra aqueles que nada lhes metem na boca [NVI: contra quem não lhes enche a boca]. Portanto, se vos fará noite sem visão, e tereis treva sem adivinhação; pôr-se-á o sol sobre os profetas, e sobre eles se enegrecerá o dia. Os videntes se envergonharão, e os adivinhadores se confundirão; sim, todos eles cobrirão o seu bigode [NVI: todos cobrirão o rosto], porque não há resposta de Deus”.
O Senhor também deixa uma advertência contra os profetas que enganam o povo com mentiras e lhes dizem ‘paz’, enquanto lhes dão ouvidos, mas se revoltam contra os que não se deixam ser enganados por eles. Por causa disso, a visão profética cessará (‘vos fará noite sem visão, e tereis treva sem adivinhação; pôr-se-á o sol sobre os profetas, e sobre eles se enegrecerá o dia’). Deus trará sobre eles a vergonha e a confusão, pois não haverá resposta às suas súplicas.
• Mq 3: 8-10: “Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de força [NVI: de força e de justiça], para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel, o seu pecado. Ouvi, agora, isto, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da casa de Israel, que abominais o juízo [NVI: justiça], e perverteis tudo o que é direito, e edificais a Sião com sangue e a Jerusalém, com perversidade”.
Pelo contrário, Miquéias fala que ele profetiza em o nome do Senhor, e que o pecado da nação se tornou evidente demais para ser encoberto de alguma forma. Ao contrário dos falsos profetas que foram calados, Miquéias recebeu do Senhor o poder divino (1 Co 2: 13; 2 Pe 1: 21), mostrando o contraste entre Seu poder e o dos os líderes ineficientes de Israel (v. 1). Então, ele se dirige aos governantes e aos magistrados, que usam de violência e perversidade para manter a cidade da maneira ‘estável’ que eles querem, e constroem Sião com a riqueza ilícita e por sangue inocente, tanto o templo como o palácio real.
• Mq 3: 11-12: “Os seus cabeças [NVI: líderes] dão as sentenças por suborno, os seus sacerdotes ensinam por interesse [NVI: seus sacerdotes ensinam visando lucro], e os seus profetas adivinham por dinheiro [NVI: em troca de prata]; e ainda se encostam [NVI: E ainda se apóiam no Senhor] ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato”.
Ele se dirige aos magistrados, que julgam por suborno; aos sacerdotes, que não exercem seu ofício como deviam e praticam uma falsa religião; aos profetas que profetizam por dinheiro, e não o que Deus manda, de maneira espontânea, e que ainda acham que o Senhor os apóia.
Por causa de todas essas irregularidades, da mesma forma que Samaria, Jerusalém também será destruída, inclusive o templo do Senhor. Ele usaria uma nação pagã para castigar Seu próprio povo culpado. O agente dessa destruição foram os babilônicos.
Capítulo 4 – O anúncio do chamamento dos gentios
• Mq 4: 1-4: “Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes [NVI: será estabelecido como o principal entre os montes] e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão os povos. Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião procederá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém. Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações poderosas e longínquas [NVI: resolverá contendas entre nações poderosas e distantes]; estes converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras [NVI: foices]; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante [NVI: ninguém o incomodará], porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse”.
Da mesma forma que este texto se encontra em Isaías (Is 2: 1-5) em referência à glória futura do Israel espiritual, aqui Miquéias repete o recado. Ele faz menção ao futuro reino do Messias e ao chamamento dos gentios para serem Seu povo, pois o templo do Senhor estaria sobre os montes, e para lá os povos iriam para aprender a Sua lei. Este texto se refere aos tempos do evangelho, quando Jesus estaria no templo em Jerusalém ensinando a todos os que quisessem conhecer a verdade de Deus. No templo do Senhor os povos seriam ensinados a jogar fora as armas de guerra e a aprender a paz. O futuro reino do Messias é chamado pelo profeta de ‘Os últimos dias’, dando a entender uma mudança importante no âmbito espiritual para a humanidade.
O monte da Casa do Senhor é chamado de Monte Sião. ‘Sião’ significa ‘lugar seco’, ‘banhado de sol’, ou ‘cume’. O Monte Sião é o nome de uma das colinas de Jerusalém e que pela definição bíblica é a Cidade de Davi, e mais tarde se tornou sinônimo da Terra de Israel. Sião (em hebraico ציון – Tzion ou Tsion; em árabe, Ṣuhyūn) era o nome dado especificamente à fortaleza Jebusita que ficava na colina a sudeste de Jerusalém, chamada de Monte Sião, e que foi conquistada por Davi. Após sua morte, o termo ‘Sião’ passou a se referir ao monte onde se encontrava o Templo de Salomão, e depois, ao próprio templo e aos seus terrenos. Depois disso ainda, a palavra ‘Sião’ foi usada para simbolizar Jerusalém e a terra de Israel.
‘Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante’ – isso significa a bênção, a prosperidade e o favor divino sobre Seu povo, um tempo de paz.
• Mq 4: 5-8: “Porque todos os povos andam, cada um em nome do seu deus [NVI: dos seus deuses]; mas, quanto a nós, andaremos em o nome do Senhor, nosso Deus, para todo o sempre. Naquele dia, diz o Senhor, congregarei os que coxeiam e recolherei os que foram expulsos e os que eu afligira. Dos que coxeiam farei a parte restante e dos que foram arrojados para longe, uma poderosa nação [NVI: Farei dos que tropeçam um remanescente, e dos dispersos, uma nação forte]; e o Senhor reinará sobre eles no monte Sião, desde agora e para sempre [NVI: daquele dia em diante e para sempre]. A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém [NVI: o antigo domínio lhe será restaurado; a realeza voltará para a cidade de Jerusalém]”.
Miquéias diz que os povos têm seus deuses, mas lembra o povo do Senhor de que Ele é o seu Deus, e estimula sua fé, confirmando que eles continuarão a caminhar debaixo da proteção desse Deus que os havia tirado do Egito, que lhes ensinou Sua lei e que os livrou de tantas coisas até aqui. Nos dias do Messias, Ele congregará Seu povo de todas as nações para onde foram espalhados e os trará a Sião. Ali haverá cura, e os remanescentes se tornarão uma poderosa nação. Para os judeus que não receberam Jesus como o Messias, esta promessa ainda está para se cumprir, mas para os que o receberam e se entregaram em Suas mãos, estes se tornaram uma poderosa nação de crentes fiéis, que tudo suportaram por amor a Ele. A igreja primitiva que nasceu em Jerusalém foi fortalecida pelo Espírito Santo, que foi abundantemente derramado sobre eles, dando-lhes a força espiritual e física para espalhar a nova doutrina por todo o mundo antigo. Com a força do Espírito, aquele povo fiel a Cristo não mais coxeou entre doutrinas de homens, pois conheceu a verdade através da boca do Filho de Deus. Para os convertidos, que entenderam a missão de Jesus e a nova dispensação que Ele trouxe para o Seu povo, o templo de Sião passou a estar dentro deles mesmos; seus corpos e espíritos se transformaram no templo vivo de Senhor na terra.
Depois, Miquéias diz: “A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém [NVI: o antigo domínio lhe será restaurado; a realeza voltará para a cidade de Jerusalém]”, e isso confirma que a realeza que Jerusalém conheceu no passado através de Davi estava sendo restaurada na pessoa de um descendente da casa de Davi: Jesus. A Ele pertencia agora o domínio da Cidade Santa, da Terra Santa, e de todos quantos quisessem servi-lo. Ele seria o seu Rei.
• Mq 4: 9-10: “Agora, por que tamanho grito? Não há rei em ti? Pereceu o teu conselheiro? Apoderou-se de ti a dor como da que está para dar à luz? Sofre dores e esforça-te, ó filha de Sião [NVI: Contorça-se em agonia, ó povo da cidade de Sião], como a que está para dar à luz, porque, agora, sairás da cidade, e habitarás no campo, e virás até à Babilônia; ali, porém, serás libertada; ali, te remirá o Senhor das mãos dos teus inimigos”.
O profeta já está se referindo às dores de Jerusalém debaixo da ameaça da invasão babilônica, e diz que seu povo será levado ao cativeiro naquela terra estranha, mas é necessário que assim seja para que sejam libertos da idolatria e dos demais pecados que tanto provocaram a Deus. Depois do período de purificação, o Senhor atentará para eles novamente e os resgatará das mãos dos seus inimigos.
• Mq 4: 11-13: “Acham-se, agora, congregadas muitas nações contra ti, que dizem: Seja profanada, e vejam os nossos olhos o seu desejo sobre Sião. Mas não sabem os pensamentos do Senhor, nem lhe entendem o plano que as ajuntou como feixes na eira. Levanta-te e debulha, ó filha de Sião, porque farei de ferro o teu chifre e de bronze, as tuas unhas; e esmiuçarás a muitos povos [NVI: eu darei a você chifres de ferro e cascos de bronze para despedaçar muitas nações], e o seu ganho será dedicado ao Senhor, e os seus bens, ao Senhor de toda a terra [NVI: Você consagrará ao Senhor, ao Soberano de toda a terra, os ganhos ilícitos e a riqueza delas]”.
Miquéias continua sua profecia revelando o pensamento dos ímpios sobre Jerusalém. Seu desejo era realmente de profanação da Cidade Santa, e eles se deleitavam com o fato de verem isso pessoalmente, com seus próprios olhos. Já estavam pensando na repartição do despojo. Entretanto, os pensamentos de Deus e Seus caminhos são mais altos do que os pensamentos e caminhos dos homens, e Ele os pegaria de emboscada. O que Ele estava permitindo se reverteria em um bem maior para Jerusalém. Como se fosse um fato que já estivesse ocorrendo, o profeta fala do futuro e diz à cidade para reagir, para se levantar e mostrar o seu poder (chifre) e sua força de governo (ferro), e mostrar a sua capacidade de conquista novamente (unhas) como um instrumento de juízo nas mãos de Deus (bronze), como aconteceu nos dias de Josué, quando o povo entrou na Terra Prometida e desapossou os povos idólatras e ímpios que ali estavam, porque o Senhor estava com eles. Essa profecia começa nos tempos pós-exílio, quando Jerusalém e o templo foram reconstruídos com o auxílio dos persas, em especial Ciro (Ed 1: 6-11; Ed 5: 13-15) e Dario I (Ed 6: 4), e se estende aos tempos do evangelho, quando a força de Jerusalém seria maior do que a força da carne; seria a força espiritual de Deus na doutrina pregada por Jesus (através do Espírito Santo), fazendo com que Seus apóstolos levassem o evangelho a terras distantes, e que ajudariam a igreja recém-nascida na sua missão de evangelização.
‘O seu ganho será dedicado ao Senhor, e os seus bens, ao Senhor de toda a terra’ – os povos idólatras que usavam seu dinheiro para enriquecer os templos dos ídolos se converteriam ao verdadeiro Deus e Lhe dariam o seu ganho e os seus bens, ou seja, ofertariam para o reino de Deus, personificado na igreja cristã do Senhor na terra.
Capítulo 5 –
• Mq 5: 1: “Agora, ajunta-te em tropas, ó filha de tropas [Nota NVI: fortifique seus muros, ó cidade murada]; pôr-se-á sítio contra nós; ferirão com a vara a face do juiz de Israel [NVI: O líder de Israel será ferido na face, com uma vara; NRSV: o governante de Israel]”.
Este versículo parece estar relacionado aos últimos versículos do capítulo anterior, ao cerco da Babilônia. Jerusalém é convocada a fortificar suas muralhas e mobilizar suas tropas para se defender de um ataque inimigo, pois será posto sítio contra os seus habitantes.
‘Ferirão com a vara a face do juiz de Israel’ ou ‘o líder de Israel será ferido na face, com uma vara’ (NVI) ou ‘o governante de Israel será ferido na face com uma vara’ (NRSV) – Ele diz que os inimigos atacarão o governante de Israel na face com uma vara, o que significa um grande insulto a um governante oriental (em Am 2: 3, o termo ‘juiz’ é usado para o rei de Israel). O Senhor faria com que outras tropas estrangeiras a envergonhassem e seu governante fosse golpeado no rosto com mais desdém (a vara não é apenas um instrumento material de punição, mas uma metáfora para insultos atirados contra alguém). Zedequias sofreu isso; e muito mais, Jesus, o Messias, o verdadeiro governante de Israel, quando foi humilhado pelos gentios e pelos seus próprios compatriotas antes de ser crucificado (Is 50: 6; Mt 26: 67; Mt 27: 30; Mc 15: 19).
• Mq 5: 2-15 – O nascimento do Messias e seu reinado
• Mq 5: 2-4: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá [NVI: ‘pequena entre os clãs de Judá’ ou ‘entre os governantes de Judá’], de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto, o Senhor os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz [NVI: Por isso os israelitas serão abandonados até que aquela que está em trabalho de parto dê à luz]; então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel [NVI: o restante dos irmãos do governante voltará para unir-se aos israelitas]. Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu Deus; e eles habitarão seguros, porque, agora, será ele engrandecido até aos confins da terra [NVI: a grandeza dele alcançará os confins da terra]”.
• Da mesma forma que Isaías, Miquéias também esperava pelo Messias, e diz que Ele nasceria em Belém e traria restauração à nação. Belém de Judá é uma cidade na parte montanhosa de Judá chamada Efrata (Gn 35: 19; Gn 48: 7). É diferente de Belém, outra cidade na tribo de Zebulom (Js 19: 15), por isso é escrita neste versículo de Miquéias como Belém-Efrata. Belém era mesmo uma cidade pequena e não muito importante, se comparada a outras cidades de Judá. A única coisa que a fazia lembrada dos judeus era o fato de ser a cidade natal de Davi. E é justamente aí que Miquéias afirma ser o local do nascimento do Messias, um descendente de Davi. Após Zedequias, não houve mais descendente da casa de Davi que se assentasse no trono da nação, pois depois do exílio, a Judéia foi governada por governadores nomeados pelo rei persa; em seguida, por sumo sacerdotes nomeados por reis Ptolomeus e Selêucidas, até Antípatro, um Idumeu ou Edomita, pai de Herodes o Grande, colocado pelo general romano Pompeu como procurador da Palestina em 67 AC.
Então, Miquéias prossegue dizendo: ‘de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade’. Isso vem a confirmar a natureza sobrenatural do Messias, do seu caráter divino, pois fala de Sua eternidade.
• ‘Portanto, o Senhor os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz [NVI: Por isso os israelitas serão abandonados até que aquela que está em trabalho de parto dê à luz]’ – isso confirma que durante muito tempo, até que o Messias fosse dado a Israel, o povo seria entregue nas mãos de impérios e nações estrangeiras, pois não conheceria seu rei, não seria uma nação com governo independente.
• ‘Então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel [NVI: o restante dos irmãos do governante voltará para unir-se aos israelitas]’ – isso fala a favor da união entre Israel e Judá (‘o restante dos irmãos do governante’), que só seria possível nos tempos do Messias através da Sua igreja, pois isso não pôde ocorrer materialmente devido à separação dos cidadãos em partidos políticos e seitas religiosas que surgiram no Período Intertestamentário e no início da era cristã (os zelotes, por exemplo). Neste período o povo judeu sofreu com guerras civis que ficaram mais evidentes na época dos Macabeus e do período Hasmoneano, quando estes líderes também brigaram entre si. Na época dos romanos, a Judéia (ou Palestina) estava dividida por muitos partidos em constante desacordo, o que propiciou a destruição posterior de Jerusalém por Tito. Além de grupos extremistas (zelotes e sicários) havia outros partidos político-religiosos que também estavam em oposição constante: os fariseus, os saduceus e os essênios, que surgiram durante a fase do período Ptolomaico, em especial, durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo (250-198 AC).
• ‘Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu Deus; e eles habitarão seguros, porque, agora, será ele engrandecido até aos confins da terra [NVI: a grandeza dele alcançará os confins da terra]’ – Jesus como uma figura do bom pastor, Ele uniria judeus e gentios debaixo da graça, do favor imerecido de Deus, numa só família: Sua Igreja (Jo 10: 16). Seu nome passaria a ser conhecido em toda a terra. Seu governo espiritual sobre Israel libertaria Seus filhos da escravidão do pecado e da humilhação da servidão a homens ímpios, dando-lhes uma segurança maior em relação à vida, pois conheceriam a liberdade do Messias, e receberiam um reino que jamais lhes seria tomado.
• Mq 5: 5a: “Este será a nossa paz [NVI: Ele será a sua paz]”.
Miquéias continua falando do Messias: ‘Ele será a sua paz’, ou seja, Ele será a paz que o seu povo está esperando.
• Mq 5: 5b-6 – Livramento e destruição: “Quando a Assíria (KJV, em inglês, ‘Quando o assírio’) vier à nossa terra e quando passar sobre os nossos palácios [NVI: sobre as nossas fortalezas], levantaremos contra ela sete pastores e oito príncipes dentre os homens [NVI: levantaremos contra eles sete pastores, até oito líderes escolhidos]. Estes consumirão a terra da Assíria à espada e a terra de Ninrode, dentro de suas próprias portas. Assim, nos livrará da Assíria, quando esta vier à nossa terra e pisar os nossos limites [NVI: Eles nos livrarão quando os assírios invadirem a nossa terra, e entrarem por nossas fronteiras]”.
Quando lemos este texto de Miquéias e o comparamos com Isaías (Is 9: 1-7; Is 11: 1-10 e outros textos onde ele fala do Messias), dá a impressão de que os dois profetas, por causa da situação caótica em que viviam, estavam esperando a vinda do Messias para um tempo bem próximo a eles, ou talvez, projetando as características do Messias em algum governante que livrasse a nação daquelas trevas espirituais e da opressão de estrangeiros. Estou dizendo isso porque logo em seguida à primeira frase (‘Este será a nossa paz’ ou ‘Ele será a sua paz’), o profeta volta a falar de uma situação bem mais próxima e real, que é a invasão da Assíria. Então, ele escreve:
‘Quando a Assíria’ (NVI, em inglês, ‘Quando o assírio’) – provavelmente se referia a Senaqueribe, que invadiu Judá e ameaçou invadir Jerusalém.
È difícil a identificação dos pastores e príncipes citados pelo profeta com algum personagem que tenha vivido nesta época, ainda mais com alguém que fosse capaz de livrá-los da Assíria quando esta viesse à sua terra e pisasse seus limites (entrassem por suas fronteiras) e pudesse consumir a terra da Assíria à espada e a terra de Ninrode (a Babilônia), dentro de suas próprias portas. Isso seria uma coisa para Deus fazer, para o Messias que o profeta estava esperando; mas Ele viria muito tempo depois, e com outro objetivo determinado pelo Pai.
• Mq 5: 7-9: “O restante [NVI: remanescente] de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem depende dos filhos de homens [NVI: não porá sua esperança no homem nem dependerá dos seres humanos]. O restante de Jacó estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais das selvas, como um leãozinho [NVI: como um leão forte] entre os rebanhos de ovelhas, o qual, se passar, as pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre [NVI: leão que, quando ataca, destroça e mutila a presa, sem que ninguém a possa livrar]. A tua mão se exaltará sobre os teus adversários; e todos os teus inimigos serão eliminados”.
Quando o povo for livre da Assíria e da Babilônia, como o profeta dá a entender, ele diz que o remanescente santo que o Senhor deixar será disperso entre as nações e será como uma bênção para muitos povos (‘como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva’), e reinará entre eles como uma força poderosa (como um leão entre os animais das selvas, como um leãozinho entre os rebanhos de ovelhas’). Em outras palavras, a dispersão judaica.
Entretanto, essa parece mais uma profecia sobre o Israel espiritual, a igreja do NT, portanto, essa profecia já foi cumprida na pessoa de Jesus, derrotando o diabo na cruz e nos constituindo embaixadores do Seu reino na terra, fazendo Sua doutrina verdadeira prevalecer sobre os sofismas de Satanás, não importa onde sejamos colocados. Isso começou com Seus apóstolos e discípulos no início da era cristã, que foram a muitos lugares (incluindo as comunidades judaicas em outras nações, estabelecidas no período do exílio) e levaram a semente do evangelho. Hoje, a igreja de Cristo, constituída por todos os que aceitaram Seu sacrifício, Sua ressurreição e Sua divindade e autoridade sobre todas as coisas, e que assume seu chamado (‘A grande Comissão’ – Mt 28: 18-20), esse é o remanescente que faz a diferença onde estiver.
‘A tua mão se exaltará sobre os teus adversários; e todos os teus inimigos serão eliminados’ – Miquéias ainda mantém a esperança da vitória do Senhor sobre Seus inimigos.
• Mq 5: 10-15: “E sucederá, naquele dia, diz o Senhor, que eu eliminarei do meio de ti os teus cavalos e destruirei os teus carros de guerra; destruirei as cidades da tua terra e deitarei abaixo todas as tuas fortalezas; eliminarei as feitiçarias das tuas mãos, e não terás adivinhadores [NVI: não farão mais adivinhações]; do meio de ti eliminarei as tuas imagens de escultura e as tuas colunas, e tu já não te inclinarás diante da obra das tuas mãos; eliminarei do meio de ti os teus postes-ídolos e destruirei as tuas cidades. Com ira e furor, tomarei vingança sobre as nações que não me obedeceram”.
O Senhor confirmava através de Miquéias a Sua intenção de purificar Seu povo da violência e da idolatria, que pareciam os dois pontos mais nevrálgicos naquela nação. Por isso, isso está escrito em seqüência ao nascimento do Messias e como sendo uma característica do Seu reinado. Quando lemos os escritos proféticos podemos notar que nem depois do retorno da Babilônia os judeus foram completamente libertos de sua tendência idólatra. Assim, com o nascimento de Jesus, uma nova dispensação começou para Israel e se tornou clara para aqueles que se converteram e abandonaram os antigos costumes por causa da revelação particular que receberam Dele, como aconteceu com Saulo de Tarso (Gl 1: 11-12) e com os demais apóstolos do Senhor.
• ‘Naquele dia’ se refere à primeira vinda de Jesus e aos tempos do evangelho.
• ‘Eliminarei do meio de ti os teus cavalos e destruirei os teus carros de guerra’ – diz respeito à sua índole bélica que também já havia provocado muitas contendas, não apenas dentro da própria sociedade israelita, como também entre Israel e os países vizinhos, quase que fazendo os judeus ‘competirem’ com as nações bárbaras e ímpias ao seu redor em matéria de crueldade. Não era esse o plano de Deus para Seu povo. Jesus veio trazendo outra doutrina, ensinando a paz e a santidade.
• ‘Com ira e furor, tomarei vingança sobre as nações que não me obedeceram’ – essa frase parece ter uma revelação bastante espiritual, se pensarmos que está ligada ao pensamento anterior sobre a profecia ter sido cumprida com a vinda de Jesus. Devemos nos lembrar que a cruz foi o momento onde o ministério de Jesus teve seu ápice, cumprindo a missão para a qual Ele veio e pondo um fim à inimizade entre Deus e os homens, principalmente por causa da idolatria, e deixando claro que só Ele seria capaz de fazer essa re-ligação. Ao dizer: ‘Está consumado’, o véu do santuário se rasgou e algo muito forte foi feito pelo próprio Deus no âmbito espiritual, consumando Sua ira contra todo tipo de deformação carnal e pecado provocado por Satanás durante tantos milênios, em especial a ‘praga’ da idolatria. Quem estava ali naquele momento, com certeza, foi impactado pela verdade, pois a loucura da idolatria se tornou patente, e o caráter e o propósito do Pai se tornaram claros para os que tiveram olhos para ver. Assim, Jesus fez o trabalho completo e deixou o caminho aberto para o ser humano exercer seu livre-arbítrio. Essa ira foi sofrida pelo Filho por causa do pecado de todos nós, mas será sentida e vivida na própria pele por aqueles que insistem em desobedecer e, por orgulho, não aceitaram a propiciação que foi feita pelo Filho de Deus. Portanto, para uns, essa profecia já foi cumprida. Para outros, ela ainda se cumprirá.
Capítulo 6 – Deus e Seu povo em juízo
• Mq 6: 1-2: “Ouvi, agora, o que diz o Senhor: Levanta-te, defende a tua causa perante os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a controvérsia do Senhor [NVI: a acusação do Senhor], e vós, duráveis fundamentos da terra [NVI: alicerces eternos da terra], porque o Senhor tem controvérsia com o seu povo [NVI: Pois o Senhor tem uma acusação contra o seu povo] e com Israel entrará em juízo”.
O profeta chama as pessoas para que ouçam o que o Senhor tem a dizer. Deus diz para que Seu povo se defenda, e toma os montes e outeiros como ‘testemunhas’ dessa controvérsia.
• Mq 6: 3-5: “Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? [NVI: Fui muito exigente?] Responde-me! Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Miriã. Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do Senhor [NVI: Recorde a viagem que você fez desde Sitim até Gilgal, e reconheça que os atos do Senhor são justos]”.
Deus fala o que já realizou em prol de Israel, e pergunta no que Ele tem errado ou cansado o Seu povo. Ele os faz recordar da sua libertação do Egito e do livramento que lhes deu quando estavam para entrar na Terra Prometida, e Ele obrigou Balaão a abençoá-los (Nm 23 – 24) ao invés de amaldiçoá-los, como Balaque, o rei Moabita, filho de Zipor, pretendia (Nm 22: 4-6).
‘Do que aconteceu desde Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do Senhor [NVI: reconheça que os atos do Senhor são justos]’ – o Senhor se refere ao episódio ocorrido em relação à adoração de Baal-Peor (Nm 25: 1-18; Dt 4: 3; Sl 106: 28-31 cf. Os 9: 10).
• Mq 6: 6-8: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? [NVI: Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano? cf. Lv 9: 3]. Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? [NVI: por causa do pecado que eu cometi?] Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia [NVI: fidelidade], e andes humildemente com o teu Deus”.
Miquéias pergunta ao povo como seria a forma correta e agradável de eles se apresentarem diante do Senhor, ou seja, como se aproximar Dele em verdadeira adoração? Ele perguntava isso porque Deus já estava cansado de rituais vazios, até mesmo de abominações que eles pudessem cometer como o fizeram alguns reis de Israel e Judá (‘Darei o meu primogênito pela minha transgressão?’ – cf. Jr 7: 31; Jr 19: 5; Lv 18: 21; Lv 20: 2; Acaz – 2 Rs 16: 3; 2 Cr 28: 3; Manassés – 2 Rs 21: 6; 2 Cr 33: 6). Ele só pedia três coisas deles: praticar a justiça, amar a misericórdia e andar em humildade com Ele. Portanto, o profeta salientava que a graça salvadora de Deus não podia ser obtida por mérito, na forma de ofertas pretensiosas de sacrifícios e formalidades, mas pela humildade, misericórdia e justiça como uma experiência diária na vida do indivíduo.
• Mq 6: 9-16 – A injustiça terá seu castigo:
• Mq 6: 9-12: “A voz do Senhor clama à cidade (e é verdadeira sabedoria temer-lhe o nome): Ouvi, ó tribos, aquele que a cita [NVI: ‘Ouçam, tribo de Judá e assembléia da cidade!’ ou ‘suas assembléias’]. Ainda há, na casa do ímpio, os tesouros da impiedade e o detestável efa minguado? [NVI: e a medida falsificada, que é maldita?] Poderei eu inocentar balanças falsas e bolsas de pesos enganosos? Porque os ricos da cidade estão cheios de violência, e os seus habitantes falam mentiras, e a língua deles é enganosa na sua boca”.
O profeta se dirigia à tribo de Judá e pedia que ouvissem o que ele tinha a dizer da parte do Senhor. Ele, mais uma vez, condenava os ganhos injustos e denunciava as balanças injustas, os pesos injustos e as medidas injustas (efa). Na lei estava escrito que essas coisas não poderiam permanecer em suas casas (Lv 19: 35-36; Dt 25: 13-16; Ez 45: 11-12). Com o efa, uma unidade de medida, eles compravam e vendiam os cereais. E com as balanças eles pesavam os produtos que compravam, até o ouro e a prata. Mas usavam pesos e medidas diferentes quando compravam e quando vendiam, a fim de ter lucro. Quando estavam vendendo um produto, o peso era mais leve; assim eles vendiam uma quantidade menor por um determinado preço. Se estivessem comprando um produto, o peso era mais pesado do lado de cá da balança, assim levavam maior quantidade do produto para casa.
Um efa era uma unidade de medida para secos e equivalia a 17,62 litros (o bato era a unidade de medida para líquidos, e equivalia a 20,82 litros), mas se eles diminuíssem o tamanho, ainda que um pouquinho, ninguém perceberia; e assim, pagaria por uma coisa que não iria consumir porque tinha levado menos quantidade para casa. E esse tipo de atitude era muito comum no meio dos comerciantes. As balanças antigas tinham uma margem de erro de 6% e ainda não foram encontrados dois pesos hebreus da mesma denominação inscrita que fossem exatamente de peso idêntico. Era um pouco difícil estabelecer um peso exatamente igual ao outro porque eles eram feitos de pedra, que eram esculpidas para tomarem certos formatos, geralmente com a base chata, que os tornavam de fácil manuseio ou reconhecimento, e o valor deles era esculpido na pedra. Os pesos eram transportados em uma sacola ou bolsa (Mq 6: 11) e, o comprador poderia fazer a comparação com a moeda corrente entre os mercadores de um determinado lugar (Gn 23: 16). ‘Diminuindo o efa, e aumentando o siclo’ – os comerciantes usavam medidas menores que as justas e pesos mais pesados para enganar, recebendo mais que o devido nos negócios. Eles alteravam suas balanças para que seus clientes saíssem no prejuízo quando compravam a peso. Deus não poderia compactuar com este tipo de fraude.
Depois o profeta diz: ‘Porque os ricos da cidade estão cheios de violência, e os seus habitantes falam mentiras, e a língua deles é enganosa na sua boca’ – os ricos roubavam e ainda eram capazes de fazê-lo com violência para conseguirem o que queriam. A mentira estava em todas as bocas para desviar as pessoas do caminho certo e ainda conseguir vantagens para si mesmo, como acontecia com os profetas que profetizavam por dinheiro e diziam o que era mais conveniente.
• Mq 6: 13: “Assim, também passarei eu a ferir-te e te deixarei desolada por causa dos teus pecados”.
Aqui o Senhor diz que por causa de tudo isso a cidade será punida.
• Mq 6: 14: “Comerás e não te fartarás; a fome estará nas tuas entranhas; removerás os teus bens, mas não os livrarás; e aquilo que livrares, eu o entregarei à espada [NVI: Vocês ajuntarão, mas nada preservarão, porquanto o que guardarem, à espada entregarei]”.
Eles experimentariam a fome e a privação, mesmo que vendessem ou penhorassem seus bens em troca de comida. Se fizessem estoque de alguma coisa, ainda assim seriam saqueados.
• Mq 6: 15-16: “Semearás; contudo, não segarás; pisarás a azeitona, porém não te ungirás com azeite; pisarás a vindima; no entanto, não lhe beberás o vinho, porque observaste os estatutos de Onri e todas as obras da casa de Acabe e andaste nos conselhos deles [NVI: e têm seguido as tradições deles]. Por isso, eu farei de ti uma desolação e dos habitantes da tua cidade, um alvo de vaias [NVI: Por isso os entregarei à ruína, e o seu povo ao desprezo]; assim, trareis sobre vós o opróbrio dos povos [NVI: vocês sofrerão a zombaria das nações]”.
Todo o trabalho das mãos deles seria infrutífero; nada seria abençoado porque andaram no caminho dos reis de Israel, como Onri e seu filho, Acabe, cheios violência e idolatria, promovendo a adoração pública de Baal e sua consorte Aserá (1 Rs 16: 21-34; 1 Rs 18: 17-19; 1 Rs 19: 2; 1 Rs 21: 2-3; 9-13), adoração esta que estava associada a ritos sexuais. Por causa disso, o Senhor entregaria Seu povo à vergonha.
Capítulo 7 –
A corrupção moral de Israel (Mq 7: 1-6)
• Mq 7: 1-4: “Ai de mim! Porque estou como quando são colhidas as frutas do verão, como os rabiscos da vindima [NVI: na respiga da vinha]: não há cacho de uvas para chupar, nem figos temporãos que a minha alma deseja. Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede [NVI: com uma armadilha]. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação [NVI: o governante exige presentes; no original não existe a palavra ‘condenação’, apenas ‘o príncipe exige’], o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama. O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o dia do teu castigo [NVI: o dia do castigo de Deus]; aí está a confusão deles [NVI: Agora reinará a confusão entre eles]”.
Até aqui, o profeta diz que está bastante decepcionado com o seu povo, está desanimado com o que vê e nada o alegra, pois só vê corrupção. Ele se acha tão exausto, murcho e sem vida como quando são colhidas as frutas de verão, que logo desaparecem dentro dos cestos dos colhedores e não sobra nada para o pobre, ou como o que restou da colheita de uvas: uma ou outra uva fora dos bagos, e tão seca que não se pode chupar; ou como figos secos, fora do tempo, pois os figos bons já não estão mais na árvore. Ele já não vê homem piedoso e que seja reto; vê apenas violência, intriga e maldade, que não cessam. O governante ordena e exige coisas do povo, o juiz trabalha por suborno, os ricos e nobres deixam transparecer seus maus intentos e todos juntos tramam contra os inocentes. Parecem-se com espinheiros, perigosos de serem tocados e nem um pouco atraentes. Mas está chegando o dia do castigo de Deus, e a confusão reinará sobre eles.
• Mq 7: 5-6: “Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda a porta de tua boca àquela que reclina sobre o teu peito [NVI: aquela que o abraça]. Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa (cf. Mt 10: 36; Lc 12: 53)”.
A traição e a desconfiança estão dentro dos lares, assim como o desrespeito e a indiferença. Dentro de sua própria família um homem não se sente seguro.
• Mq 7: 7: “Eu, porém, olharei para o Senhor e esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá”.
Apesar de todo o mal que ele presencia, ele afirma sua confiança em Deus, pois sabe que será ouvido, e que só Ele pode salvá-lo de tudo isso. O Senhor se compadece de Israel (Mq 7: 8-13).
O Senhor se compadece de Israel (Mq 7: 8-13)
• Mq 7: 8-9: “Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito [NVI: Não se alegre a minha inimiga com a minha desgraça]; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito; ele me tirará para a luz, e eu verei a sua justiça”.
Miquéias fala em nome da nação agora, depois que veio o arrependimento, e o reconhecimento de que havia pecado. A inimiga a que se refere é a Babilônia. Deus os libertará dela, depois que Ele terminar Seu julgamento, e eles conhecerão a sua justiça.
• Mq 7: 10-12: “A minha inimiga verá isso, e a ela cobrirá a vergonha, a ela que me diz: Onde está o Senhor, teu Deus? Os meus olhos a contemplarão; agora, será pisada aos pés como a lama das ruas. 11 No dia da reedificação dos teus muros, nesse dia, serão os teus limites removidos [NVI: se ampliarão as suas fronteiras] para mais longe. 12 Nesse dia, virão a ti, desde a Assíria até às cidades do Egito, e do Egito até ao rio Eufrates, e do mar até ao mar, e da montanha até à montanha”.
Os que zombam do infortúnio de Judá se envergonharão, como a Babilônia, por exemplo, pois sofrerão a destruição também.
‘Nesse dia’ (v. 11; 12) – no dia da reedificação dos muros.
No dia em que os muros de Jerusalém forem reedificados, eles estarão mais longe do que estavam anteriormente, ampliando a cidade (cf. Ne 3: 1-32). Essa profecia de Miquéias se mostrou verdadeira nos achados arqueológicos feitos nas escavações da cidade de Jerusalém em relação aos muros de Neemias: as partes norte e oeste do muro precisavam apenas de reparos. O muro leste, porém, deve ter sido completamente refeito, visto que ficou mais acima de sua antiga localização, mais para o lado da montanha (cf. Is 49: 20). Os muros, com uma base de cerca de dois metros e meio de espessura, foram rudimentarmente construídos com pedras inteiras e com cascalho, explicando porque era alvo de zombarias. Talvez tivesse uma altura de seis a nove metros, com quase três quilômetros e meio de comprimento, numa circunferência de trezentos e sessenta e quatro quilômetros quadrados. Simbolicamente ‘serão os teus limites removidos para mais longe’ pode significar a remoção das regras tirânicas da Babilônia sobre eles como foi com seus pais no Egito (Ez 20: 25). A profecia pode ser referir também à restauração dos judeus na 1ª vinda do Messias (cf. Am 9: 11 – o tabernáculo caído de Davi).
‘A ti’ – está falando para Jerusalém, que judeus virão para edificá-la, de todas as partes da terra para onde foram espalhados, de norte a sul, de leste a oeste.
• Mq 7: 13: “Todavia, a terra será posta em desolação, por causa dos seus moradores, por causa do fruto das suas obras”.
A terra de que fala aqui é a Babilônia, que Deus também irá punir por causa de suas ações contra o povo do Senhor.
Súplica por misericórdia (Mq 7: 14-20)
• Mq 7: 14-15: “Apascenta o teu povo com o teu bordão, o rebanho da tua herança, que mora a sós no bosque, no meio da terra fértil [NVI: ‘que vive à parte numa floresta, em férteis pastagens’ ou ‘no meio do Carmelo’]; apascentem-se em Basã e Gileade, como nos dias de outrora [NVI: Deixa-o pastar em Basã e em Gileade, como antigamente]. Eu lhe mostrarei maravilhas, como nos dias da tua saída da terra do Egito”.
Miquéias orou para que Deus, o Pastor, cuidasse de Seu rebanho. Deus lhe disse que Ele mostrará ao povo de Israel (‘Eu lhe mostrarei’) maravilhas, como nos dias em que eles saíram da terra do Egito.
• Mq 7: 16-17: “As nações verão isso e se envergonharão de todo o seu poder; porão a mão sobre a boca, e os seus ouvidos ficarão surdos [NVI: e taparão os ouvidos]. Lamberão o pó como serpentes; como répteis da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos e, tremendo, virão ao Senhor, nosso Deus; e terão medo de ti”.
O profeta está falando para o povo que as nações que os humilharam veriam as maravilhas do Senhor a favor deles, e se envergonhariam; não falariam mais nada contra o Deus de Israel (‘porão a mão sobre a boca’) nem contra os judeus; fechariam seus ouvidos às blasfêmias dos incrédulos e às maledicências contra o povo do Senhor (‘seus ouvidos ficarão surdos’ ou ‘e taparão os ouvidos’) para não mais provocarem a Sua ira. Pelo contrário, se achegariam a Ele para conhecê-lo melhor. O nome de Israel seria temido entre os povos. Isso seria decorrente do seu arrependimento e da sua obediência a Ele também, como Moisés escreveu em Deuteronômio 28 sobre as bênçãos decorrentes da obediência: “O Senhor te constituirá para si em povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andares nos teus caminhos. E todos os povos da terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e terão medo de ti” (Dt 28: 9-10).
• Mq 7: 18-20: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. Mostrarás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde os dias antigos [NVI: conforme prometeste sob juramento aos nossos antepassados, na antigüidade]”.
Miquéias termina com uma exaltação ao Senhor, louvando-o pela Sua misericórdia e pela Sua capacidade de perdoar. Ele sabe que o Senhor neste momento os está punindo, mas tem certeza da Sua compaixão, que voltará a ser derramada sobre eles e apagará suas transgressões. Mostrará Sua fidelidade a Jacó, ou seja, aos verdadeiramente israelitas; e aos gentios, os israelitas pela fé (os que são da descendência de Abraão – cf. Rm 4: 9; 11-13; Gl 3: 14), que herdaram suas promessas através de Jesus, o Messias.
‘Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança?’ – praticamente repetindo o que o próprio Deus disse de si mesmo quando revelou Sua glória a Moisés (Êx 34: 6-9).
Conclusão:
Ao falar de Miquéias, nós estamos falando do zelo do Senhor pelo Seu povo, apesar do seu pecado, punindo também aqueles que zombam do seu sofrimento e do Seu zelo pela Sua própria santidade, pois quando Seus escolhidos cometem iniqüidades e atrocidades, Seu nome santo é envergonhado. O que Ele pede de nós é a humildade e a verdadeira adoração. Dessa forma, o profeta deve ser um instrumento de zelo do Senhor onde há pecado, irreverência, abominação, falta de temor e desconhecimento do Deus verdadeiro. Não deve permitir que o mundo o influencie ou que as coisas do maligno e da carne o seduzam e o desviem da verdade, pois tudo isso deixa uma mácula no nosso espírito e fere o Espírito Santo que está em nós. Devemos saber que o amor e a misericórdia do Senhor estarão sempre disponíveis para todos aqueles que se arrependem sinceramente do seu erro e que a Sua restauração é completa, removendo de nós toda a acusação do inimigo. É Ele que nos justifica perante os que nos humilharam e nos eleva perante os que desejaram nos ver cair. Quando estamos no centro da Sua vontade, Sua proteção e a Sua justiça estão sobre nós. Devemos interceder como Habacuque por aqueles que estão no erro, mas não carregar o fardo pelos seus pecados e pela sua rebeldia e idolatria. Quando o pecador rejeita a correção através da boca do intercessor e do profeta, é hora de parar de orar e deixar a vontade soberana de Deus entrar em ação para disciplinar, convencer do erro, do pecado, da justiça, do juízo e, assim, vindicar Sua própria santidade.
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
Sugestão para download:
Tabela dos profetas (PDF)
Table about the prophets (PDF)
Este texto se encontra no 2º volume do livro:
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