Oito pessoas ligadas ao Instituto Oftalmológico de Encantado, no Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, foram indiciadas por lesão corporal grave no inquérito do caso de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que perderam a visão depois de uma cirurgia de catarata. Segundo a Polícia Civil, 23 pessoas foram afetadas, como mostra reportagem do RBS Notícias (veja no vídeo).

O inquérito aponta negligencia por parte de médicos, coordenadores e os proprietários do instituto. De acordo com a polícia, houve problemas na higiene, desinfecção e esterilização de materiais. Amostras coletadas na clínica revelaram a presença de uma bactéria nos locais de higienização das mãos, na sala de recuperação e no banheiro dos médicos e funcionários.

Aposentada mostra problema que surgiu em um
dos olhos após cirurgia (Foto: Reprodução/RBS TV)

“As vítimas relatam problemas com relação à higiene do local e também das roupas usadas nas cirurgias. Problemas também com a falta de informação, e por terem retornado diversas vezes ao local sem ter as informações corretas”, disse o delegado Sílvio Huppes, responsável pelo caso.

O Instituto de Oftalmologia de Encantado atende pelo SUS desde setembro de 2014, e o primeiro caso de cegueira foi registrado um mês depois. O bloco cirúrgico está interditado desde dezembro do ano passado. A Polícia Civil também vai notificar a Coordenadoria Regional de Saúde e o Consórcio Intermunicipal de Saúde (Concisa) do Vale do Taquari, que seriam os responsáveis por fiscalizar a clínica.

“Não sabemos de onde veio essa bactéria, como ocorreu. Nossa questão é de gestão, do procedimento em si, da prestação de contas com o município e a clínica que lá estava instalada tinha todas as condições e conhecimento sobre os procedimentos”, disse o secretário executivo do Consisa, Nilton da Silva Rolante.

Desde fevereiro, também tramita uma ação civil pública, de autoria do Ministério Público, contra a clínica. O processo pretende garantir uma indenização às vítimas.

‘Perdi tudo’, diz paciente
Uma das 23 pacientes afetadas é Regina Paulina Barros Andreoli. Depois de contrair uma infecção durante o procedimento, a dona de casa ficou sem enxergar pelo olho direito.

“A minha vida mudou completamente, de cabeça pra baixo. Porque eu simplesmente perdi tudo. Eu estou vivendo de remédios e colírios, dependendo dos outros para tudo e é muito difícil. Só quem passa por isso sabe”, desabafa.

Contraponto
Ao contrário do que consta no inquérito policial, a assessoria do Instituto de Oftalmologia deEncantado informou que o problema de infecção foi “pontual”. Diz que aconteceu nos dias 20 e 21 de maio do ano passado, e que 16 pacientes tiveram problemas.

Além disso, a clínica afirma que todos os profissionais contratados têm experiência na área, e que os materiais usados nas cirurgias são registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e passam por criterioso processo de controle e higiene.

A Secretaria Estadual da Saúde não tem data para liberar as cirurgias no instituto oftalmológico. O Conselho Regional de Medicina ainda não sabe quando vai concluir a sindicância que investiga a atuação dos médicos. A RBS TV tentou contato tentou contato com a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, mas o responsável não retornou as ligações.