Poluição se agrava após deslizamento “O mar em frente à Areia Preta está recebendo 5 litros de esgoto por segundo”
Após os deslizamentos que destruíram casas do bairro de Mãe Luíza e bloquearam a avenida Governador Silvio Pedroza, a praia de Areia Preta registrou índice de balneabilidade 24 vezes superior ao limite que torna o mar impróprio para banho. O índice foi verificado no boletim da última sexta-feira (27) pelo programa Água Azul, que verifica a poluição das praias do Estado e classifica suas condições para banho. De acordo com o geólogo e coordenador do programa, Ronaldo Fernandes Diniz, a primeira medição pós deslizamento, no dia 19, registrou o índice 16 vezes além do permitido.
Em frente a área do deslizamento, o programa verificou o índice de 24 mil coliformes fecais por 100 ml de água. “Como o parâmetro determina que a partir de 1 mil coliformes por 100 ml a água fica imprópria para banho, esse índice está 24 vezes acima. Uma pessoa tomar banho numa água dessa está exposta a sérios riscos”, explicou Diniz.
Enquanto não é finalizado o sistema provisório para levar o esgoto de Mãe Luíza à rede na avenida Governador Sílvio Pedroza, 5 litros de esgoto por segundo são despejados ao mar, de acordo com a Companhia de Águas e Esgotos do Estado (Caern). Isso equivale a 432 mil litros/dia ou 6,48 milhões de litros nos últimos 15 dias.
Após o desastre, no dia 13, o programa Água Azul ampliou de um para três pontos de medição na mesma praia. Agora são um em frente ao local do deslizamento, outro mais à esquerda (próximo ao quebra-mar) e outro à direita (próximo ao Relógio do Sol).
O índice de balneabilidade divulgado ontem apontou que o mar também está impróprio próximo ao quebra-mar de Areia Preta, com 2,4 mil coliformes por 100 ml de água. Já no terceiro ponto de verificação, foi constatado 230 coliformes fecais em 100ml. “Essa diferença ocorre por causa das correntes marítimas, que direcionam o deslocamento da água”, disse Diniz. Segundo ele, após a suspensão total de despejo do esgoto no mar, é necessário uma semana para que a água oceânica na região se renove totalmente. Entre as doenças que podem ser causadas pela poluição dessas águas estão desde doenças de pele até hepatites. “São vírus e bactérias vindos da poluição do esgoto e de entulhos”.
A poluição também foi relevante para que três promotorias do Ministério Público Estadual (as duas do Meio Ambiente e uma de Cidadania) solicitassem perícia na área. Segundo a promotora do Meio Ambiente Gilka da Mata Dias, dez professores da UFRN de diversas áreas vão responder 13 pontos elencados pelo MP sobre o deslizamento e a região.
Entre os esclarecimentos a serem feitos estão especificar os principais impactos ambientais, sociais e urbanísticos; avaliar as causas do deslizamento; avaliar os sistemas de esgotamento e de drenagem existentes na área; especificar as medidas ambientais e urbanísticas preventivas para impedir novos deslizamentos; e esclarecer quais medidas devem ser tomadas para reparação integral dos danos constatados.
“Essa perícia vai identificar os problemas e poderá ser usada em outras áreas de risco da cidade”, afirma a promotora. Gilka da Mata disse ainda que esse levantamento se diferencia dos contratados pela Prefeitura por ter caráter de recuperação e mapeamento, enquanto aqueles são “de respostas imediatas para evitar novos danos”. Não há previsão de conclusão da perícia.
Panorama da situação
Confira os números da poluição em Areia Preta
24 mil coliformes fecais por 100 ml de água foram registrados no ponto de verificação em frente à área do deslizamento.
230 coliformes/100 ml de água no ponto de verificação próximo ao Relógio do Sol.
2,4 mil coliformes/100ml de água no ponto próximo ao quebra-mar.
5 litros por segundo de esgoto estão sendo jogados no mar com o rompimento da tubulação.
6,48 milhões de litros de esgoto foram lançados no mar em 15 dias.
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