I

“Qualquer um que mate um ser humano pelo massacre e a corrupção na Terra, será como se tivesse matado toda a humanidade e qualquer um que salve a vida de um ser, será como se tivesse salvo a vida de toda humanidade”. (Alcorão 5:32).

Antes de mais nada, toda solidariedade a dor dos franceses vítimados pelo atentado do último dia 13 em Paris. Não há nada que desculpe tamanha estupidez, nenhum perdão ao assassinato frio de vítimas indefesas e desarmadas.

Terror religioso, dizem, e não guardo nenhuma certeza de que princípios divinos possam guiar monstruosas violência e crueldade. Não é certamente o Islã a inspirar os jovens infelizes que se atiraram ao suicídio para massacrar outros jovens em Paris. São eles filhos do ódio cego e plantado e os mesmos cordéis que os moveram em território francês são os que os manipulam na suposta guerra santa em que se dão ao arbírtrio de torturar, dilacerar, violentar e assassinar em território sírio, principalmente. As mãos assassinas, via Arábia Saudita, que armam para desestabilizar governos que deixam de ser interessantes às grandes potências, entre elas a França, trucidaram a pacata noite em Paris. Sem que as vítimas árabes mereçam as mesmas lágrimas que a mídia derrama pela Europa ferida.

Devemos procurar entender entre as sombras da deformação da grande mídia brasileira que não há motivação religiosa no sentido estrito da palavra. Trata-se de uma explosiva mistura de indignação histórica pelo domínio colonial e militar que ainda perdura, elementos pontuais de religiosidade inculcados pelas estratégias de desestabilização e guerra, enfim o ódio, combustível maior do terror.

II

“Estão reclamando do cristianismo no ocidente? Procurem uma nação islâmica para morar. Cambada de trouxas. Estou rindo na cara de vocês KKKKK”. (Silas Malafaia).

O chamado Pastor Silas Malafaia nesta semana avalizou crítica ao Bispo Edir Macedo, acusando-o de “faturar em cima da Bíblia” por causa da excepcional produção da novela “Dez Mandamentos” . Silas, que parece apresentar-se como alguém que não fatura em cima da bíblia, é aliado incondicional de Eduardo Cunha na tentativa de golpe contra a democracia brasileira. Diz ter desembarcado da aventura, agora que seu parceiro presidente da Câmara vive momentos de grande embaraço político e pessoal. Na máxima do “amigo é amigo…” não achou estranho que o parceiro golpista tenha registrado comercialmente a marca JESUS! O problema de Malafaia com Edir Macedo não é o sucesso de público e certamente comercial da superprodução. O problema é outro. Goste-se dele ou não, Edir Macedo vai construindo um conglomerado de comunicação que vai desbancando a antipopular e dissoluta Globo, engolindo-a em horários considerados nobres e de maior valor publicitário. Embora peque na rendição ao populismo dos programas policiais, faz o contraponto de maior isenção jornalística e imune à blitzkrieg de desinformação conservadora, antidemocrática e reacionária que vem assombrando o país desde que milhões de famílias brasileiras passaram a viver com mais dignidade, graças a uma importante, ainda que insuficiente, política de distribuição de rendas e oportunidades implantadas e consolidadas desde o governo Lula. A frase de desconcertante desequílibrio e infantilidade provoca os que “reclamam do cristianismo no ocidente” e revela não um pastor de almas, mas um feitor da intolerância. Não sei se é de cristianismo que ele fala, porque o pouco que conheço com católicos, espíritas e protestantes com quem convivo, Cristo fala da paz, do acolhimento, da piedade, da fraternidade entre as pessoas e os povos. Os cristãos que conheço não militam pela redução da maioridade penal para os pobres, enquanto aplaudem a pose estudada de um jovem boçalizado, sem rumo, exibindo uma metralhadora em patético e criminoso desafio à democracia.