SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Mulheres relatam frustração ao verem sonhos interrompidos em meio à pandemia Estudos e viagens foram comprometidos com a paralisação causada pela pandemia.
pandemia do novo coronavírus mudou a rotina e interrompeu o sonho de muitas pessoas. Viagens, estudos e tantos outras questões tiveram que ser deixadas de lado devido ao vírus que infectou mais de 7 milhões de pessoas e matou mais de 400 mil em todo o mundo. O G1 reuniu histórias de três mulheres de Santos, no litoral de São Paulo, que relataram o desespero e a frustração de terem seus sonhos paralisados em meio ao surto da doença.
A nutricionista Iara dos Santos Almeida, de 22 anos, sempre sonhou em se tornar mestre e estava bem próxima disso, até o início da quarentena. Mestranda em epidemiologia alimentar pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ela estudava de dia e trabalhava a noite como garçonete para conseguir manter as contas e conquistar o diploma. Conforme explica, a pesquisa do mestrado era sobre inquéritos alimentares, no qual ela ia avaliar a alimentação dos voluntários e fazer um comparativo entre o ano passado e esse ano.
“A base da minha pesquisa é desenvolver um instrumento de questionário de frequência alimentar. É como se fosse um diário. A pessoa vai responder o questionário sobre o ano passado e vai validar isso por meio desse diário alimentar”, explica. O trabalho estava todo adiantado: Iara já tinha cumprido a carga de aulas do mestrado, estava fazendo o estágio como professora auxiliar e já havia recrutado os voluntários para a pesquisa. Até que março chegou e, com ele, entrou em vigor o isolamento social, pausando a rotina de trabalho e estudos dos voluntários de Iara. Sem isso, ela não consegue prosseguir com a pesquisa.
Iara perdeu mais de uma ano de pesquisa do mestrado — Foto: Arquivo pessoal/Iara dos Santos Almeida
“Foi tudo por água abaixo porque as pessoas não estão mais trabalhando, nem estudando fora, e o hábito alimentar delas mudou completamente. Não existe nada que seja possível comparar a alimentação do ano passado com a desse ano. É um evento muito atípico e não tem previsão de quando voltará ao normal, as rotinas não vão ser as mesmas. O trabalho que eu tive para realizar o sonho do mestrado, mais de um ano de pesquisa, está inviabilizado”, desabafa.
Ela conta que chegou a falar com outros especialistas, mas como a pandemia é uma situação incomum, não conseguiu uma forma de continuar a pesquisa e não há como trancar. “Basicamente, vou esperar tudo isso passar e começar algo do zero, com muito menos tempo. A pandemia simplesmente congelou a minha vida. Trabalhava de noite para manter o meu mestrado. Agora está tudo parado, não tem mais rumo”, finaliza.
Começar a faculdade
A babá Andrea Oliveira Contro, de 48 anos, passou mais de dez anos tentando entrar na faculdade, mas a situação financeira e a falta de tempo sempre a impediram de começar. Ela interrompeu os estudos na 7ª série porque precisava trabalhar, e só conseguiu concluir o ensino médio aos 36 anos. Desde então, sonhava com o dia em que pisaria em uma universidade. Neste ano, ela finalmente conseguiu dar início aos estudo em pedagogia, graças à ajuda financeira da mãe.
Andrea começou os estudos, mas teve que parar para cuidar do filho autista, que acabou ficando sem aula por causa da pandemia — Foto: Arquivo pessoal/Andrea Oliveira Contro
“Quando soube que passei, foi uma alegria enorme. Não dá para explicar com palavras, foi muito emocionante para mim”, conta. No entanto, ela não contava com um fator: a pandemia. Devido à quarentena, o filho de cinco anos teve de ficar em casa, pois as aulas foram suspensas. Ele é autista e necessita de cuidados especiais. No começo, ela tentou conciliar os estudo aos cuidados do filho, mas com o tempo percebeu que era impossível parar por quatro horas todo dia para acompanhar as disciplinas. Ela teve que escolher entre atender as necessidade do filho e continuar seus estudos. A estudante não pensou duas vezes e pausou mais uma vez os estudos, mas isso não quer dizer que a escolha foi fácil.
“Ele é hiperativo. Quer brincar, quer falar, quer atenção e se você não dá, ele começa a ficar nervoso, joga as coisas, grita. Então, tive que trancar o curso, realmente não tinha condições. Foi frustrante porque lutei muito para conseguir. Não é uma coisa que eu quis, não foi uma escolha minha. Infelizmente, foi uma coisa que fui obrigada a fazer, tive que adiar, mas sei que vou conseguir de novo”, afirma esperançosa.
Sonho de voltar para casa
A professora Raphaella Benetti Silva, de 29 anos, é santista e mora há três anos na cidade de Cairo, no Egito. A jovem se mudou quando iniciou um programa de au pair para cuidar de crianças e, segundo ela, foi para lá porque, literalmente, teve um sonho com o país. ”Nesse sonho, alguém me dizia que era ir e só voltar quando mandassem”, conta. No novo país, a jovem conseguiu se estabilizar financeiramente, fez amigos, conseguiu um novo emprego e arrumou um namorado. O lugar virou sinônimo de lar.
Raphaella mora no Egito e acabou ficando ‘preso’ no Brasil por causa da quarentena — Foto: Arquivo pessaoal/Raphaella Benetti Silva
Com o início da pandemia, ela veio visitar o Brasil e acabou ficando ‘presa’. “Minhas férias foram antecipadas por causa da pandemia e decidi vir porque o consulado disponibilizou um avião e eu tinha algumas coisas para resolver. Tinha pretensão de voltar agora, mas não dá. A passagem só de ida, que geralmente custa pouco mais de R$ 2 mil, está cerca de R$ 12 mil, não tem condições”, afirma.
Estando há quase três meses no Brasil, ela teve que devolver o apartamento em que morava e doou todos os móveis e utensílios domésticos. De tudo, sobrou apenas duas malas de roupas, que ficaram na casa de uma amiga. Nem o emprego Raphaella conseguiu salvar. A angústia de não saber se conseguirá voltar logo para a casa fez com ela desenvolvesse crises de ansiedade.
“Sabe quando estamos viajando e sentimos saudade de casa? Sou brasileira, estou no meu país, mas sinto saudade de casa porque, para mim, a casa é onde o coração está. Estou aqui, mas o meu coração não. Sinto falta do meu lar. Minha vida está lá”, finaliza.
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