CARNAUBAIS RN-O DIA QUE O RN ASSUMIU O COMANDO DA POLÍTICA BRASILEIRA
O DIA QUE O RN ASSUMIU O COMANDO DA POLÍTICA BRASILEIRA
O fato político da história do Rio Grande do Norte mais importante aconteceu há, exatos, 65 anos. Poucos norte-rio-grandenses das novas gerações tem consciência da importância deste fato, que nenhuma instituição lembrou-se de registrar.
Quatro notas, publicadas, na coluna Roda Viva, na Tribuna do Norte, edição deste domingo, tentam reavivar essa história juntando o fato ao pitoresco, visto sob a perspectiva de Natal, e absoluta fidelidade histórica.
Há exatamente 65 anos, neste domingo, nosso Rio Grande do Norte amanhecia pela primeira – e única – vez vivendo a expectativa da posse de um norte-rio-grandense na Presidência da República.
O presidente Getúlio Vargas havia se suicidado na véspera, no meio de uma enorme crise, e o natalense João Fernandes Campos CAFÉ FILHO, havia sido eleito Vice-presidente numa eleição solteira. O voto no Presidente não puxava o Vice como é hoje. A posse do novo Presidente esperou ainda até 3 de Setembro.
O RN tinha uma população inferior a um milhão de habitantes; Natal, 103 mil habitantes; e Mossoró, 40 mil. Poucos norte-rio-grandenses conheciam a geografia do Palácio do Catete (sede do Governo federal, no Rio de Janeiro), com exceção do senador Georgino Avelino, maior liderança do PSD, que havia sido “adotado” por d. Santinha, primeira dama do Presidente Gaspar Dutra.
A outra grande liderança era José Augusto, da UDN, e o próprio Café era um terceira força, ainda distante, que fazia política desde 1923 quando foi candidato a Vereador em Natal, e não se elegeu.
Café era jornalista e advogado sem cursar a Universidade, sendo aprovado em exame no Tribunal de Justiça. Ao longo de sua vida, atuou no movimento sindical e defendeu as causas populares.
O ex -presidente morreu pobre, sem patrimônio.
Ex-Presidente da República aos 58 anos de idade, sem emprego nem patrimônio, Café Filho também não tinha pensão de ex-presidente (como acontece hoje), e para se se manter com a família foi à luta, atuando como corretor de uma companhia imobiliária, até que o governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, tomou conhecimento da situação e o nomeou Ministro do Tribunal de Contas daquele Estado, que depois fundiu-se com o Estado do Rio de Janeiro.
Café Filho permaneceu no emprego até 1969, quando completou 70 anos, idade-limite para permanecer no serviço público, vindo a falecer, na cidade do Rio, um ano depois. Nesse período, em 1966, lançou um livro de memórias, “Do Sindicato ao Catete”.
Não teve inventário. Não tinha patrimônio nenhum.
Político popular foi o Presidente das elites
Para quem entrou na política liderando uma greve de pescadores no bairro das Rocas, as circunstâncias levaram Café Filho a governar com as elites. Começando no plano nacional onde ligou-se a UDN, o que lhe permitiu formar um Ministério de altíssimo nível: Prado Kelly, Eugênio Gudim, José Maria Witaker, Otávio Gouveia de Bulhões, Apolônio Sales, Eduardo Gomes, Munhoz da Rocha, José Américo de Almeida, entre outros.
Em nível estadual ele também ligou-se a duas famílias tradicionais. Na eleição que presidiu as novidades foram representantes das oligarquias: Eider Varela, do Ceará Mirim e João Galvão de Medeiros, do comércio, “Paris em Natal”. Os dois se elegeram Deputado Federal.
Presidente longe das suas origens
Porém, nada reflete mais a opção de Café Filho (que na juventude jogou futebol, sendo goleiro do time do Alecrim) mas terminou fazendo opção pelas elites como um fato envolvendo Zé Areia, barbeiro de profissão, boêmio respeitado e seu companheiro de lutas cívicas.
Poucos dias depois da posse, Zé Areia arranjou uma passagem e mandou-se para o Rio. Lá, Deus saber como, venceu as barreiras do Palácio do Catete e ficou frente à frente com o velho amigo. Dois dedos de conversa e Zé Areia foi aos finalmente: pedir um emprego. Não é todo dia que se tem um amigo de fé Presidente da República.
Café o atendeu muito bem e disse que voltasse no dia seguinte, desobstruindo todas as barreiras. A conversa foi curta. O emprego estava definido: “Soldado da Borracha”, um programa para levar nordestinos para serem seringueiros na Amazônia.
A reação de Zé Areia foi imediata:
– Café, quero não. Na nossa terra, quem tira leite de pau é boceta…
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