FOTOS IMAGENS-Polícia identifica 23 vítimas mortas por milícia em Queimados, RJ; número de assassinatos pode chegar a 100
Poço foi utilizado para descartar corpos de vítimas da milícia em Queimados; polícia busca por locais onde outros corpos podem estar enterrados — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
A Polícia Civil do Rio de Janeiro identificou 23 vítimas da milícia conhecida como Caçadores de Gansos, que age em Queimados, na Baixada Fluminense.
O grupo paramilitar foi alvo da Operação Hunter, dia 18, que prendeu o ex-secretário de Defesa Civil Davi Brasil Caetano – também vereador eleito pelo Avante – e mais 20 pessoas.
Investigadores acreditam que possa haver ossadas de outros corpos no local onde foi encontrado um cadáver carbonizado. A quantidade de assassinatos cometidos pelo grupo criminoso pode chegar a 100.
Com o avanço das investigações, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) fará buscas para encontrar cemitérios clandestinos e outros lugares onde possam estar os corpos das vítimas.
“Nessa segunda etapa, a gente vai focar na localização de corpos e vítimas que não chegaram ao nosso conhecimento. Vamos procurar cemitérios clandestinos para tentar fazer um levantamento mais preciso”, explicou o delegado Leandro Costa, responsável pelo caso.
Segundo um levantamento da DHBF, foram encontradas pelo menos 20 fotos publicadas no Facebook de pessoas que foram mortas pelo grupo no período entre 2016 e 2017.
As vítimas foram identificadas, e os corpos, encontrados durante investigações anteriores da própria delegacia em Queimados, local principal de atuação do grupo.
As mortes eram discutidas até em grupos de Whatsapp, segundo informações do Ministério Público.
Além desses 20 corpos, foram encontrados mais três, chegando a um total de 23 vítimas de homicídios com participação comprovada dos Caçadores de Ganso. São elas:
- Márcio Wagner Alves, vulgo Japão (decapitado);
- Ronaldo Cabral Álvares, vulgo Coringa;
- Um corpo carbonizado, não identificado.
Facão ensanguentado apreendido estava em carro clonado utilizado para matar vitimas da milícia em Queimados — Foto: Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro
Os corpos de Márcio e Ronaldo foram encontrados depois que a polícia encontrou sangue e um facão dentro do porta-malas de um carro que estava num condomínio dominado pela milícia. A polícia descobriu que as execuções foram filmadas.
Houve ainda um aumento de vítimas depois de 2018, já que, de acordo com as investigações da DHBF, a milícia começou a ocultar os corpos e a agir de forma mais discreta.
Atuação em condomínio
Vereador eleito pelo PTdoB e ex-secretário de Defesa Civil de Queimados, Davi Brasil Caetano, foi preso em casa suspeito de liderar milícia na região — Foto: Reprodução / TV Globo
O Ministério Público afirma que o grupo também agia nos condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, em Queimados.
Segundo os documentos, os Caçadores de Ganso praticavam crimes como:
- Exploração de mototáxis;
- Comercialização ilegal de cestas básicas;
- Interceptação e distribuição clandestina de sinal de TV a cabo;
- Revenda ilegal de gás;
- Assassinatos;
- Extorsão.
O grupo lucrava até com Kit-Churrasco, como mostraram as investigações.
O vereador Davi Brasil Caetano, preso durante uma operação este mês, era considerado “onipresente” na região do condomínio. Ele era, segundo o MPRJ, chefe da milícia no bairro São Jorge, onde ficava o Condomínio Ulysses Guimarães, no qual os Caçadores de Ganso começaram a atuar.
O modelo foi levado para outros condomínios, como Eldorado e Valdariosa.
Em uma conversa, Thiago da Costa, denunciado pelo MP, relata que foi à Rua Aquidauana para verificar um ponto de venda de drogas junto com Davi. Quem estava no local foi espancado e ameaçado de morte, segundo a denúncia.
Davi, segundo a ligação interceptada de Thiago com autorização da Justiça, saiu do carro com a pistola na mão. Duas pessoas foram espancadas pelo vereador, que disse em seguida:
“Da próxima vez que eu chegar aqui, ‘vai morrer’ os dois, pode ir metendo o pé, não quero p*rra nenhuma aqui”.
Chat investigado pela polícia fala em execuções da milícia de Queimados — Foto: Reprodução
‘Juntos Somos Mais Fortes’
Wellington Cláudio Lucente, o Jiló, teve o celular apreendido. Apreensão ajudou nas investigações — Foto: Divulgação/Polícia Civil
A apreensão do celular de Wellington Claudio Lucente, de apelido Jiló, foi fundamental para as investigações. O sigilo dos dados foi quebrado pelo Poder Judiciário, o que levou à descoberta de diversos grupos no Whatsapp.
Um deles era o grupo “Juntos Somos Mais Fortes”, “através do qual os milicianos trocavam informações sobre os próximos alvos a serem executados pelo bando”, de acordo com aditamento de uma denúncia do MPRJ, feita em 2017.
“Eles falam do que eles chamam de ‘ganso’, possíveis alvos. Eles levantavam a vida dessas pessoas, definiam horários para abordar essas pessoas e definir possíveis vítimas”, explicou o promotor Fábio Corrêa, do Ministério Público.
Havia também iniciativa semelhante em grupos para discutir a atividade dos mototáxis, o “Grupo do Moto Táxi”, e também o “Filhos de Deus”, utilizado para fazer o controle da atividade do serviço de gatonet e comercialização de cestas básicas.
Execuções
Anderson Chrispe Cavalcante, conhecido como Nem, foi preso em 2018 e é suspeito de participar de homicídios com envolvimento do grupo — Foto: Divulgação
Em algumas conversas interceptadas com autorização da Justiça, Anderson Chrispe Cavalcante aparece em destaque. Anderson, conhecido como Nem, foi preso em abril de 2018 e era citado como um dos autores de vários homicídios na região, como forma de demonstração de força.
Anderson foi denunciado por um triplo homicídio em 2017, quando matou Bruno da Silva Perdigão, Deivid Ramiro Ferreira e Fábio dos Santos Freitas, suspeitos de pertencer ao tráfico de Queimados. Tudo começou quando um adolescente foi apreendido em uma operação e gerou prejuízo de R$ 4 mil ao tráfico.
Para não morrer, o adolescente afirmou a Bruno, Deivid e Fábio que “cortaria a cabeça” de Anderson e Kleyton Monteiro Dantas, outro miliciano da região. Kleyton e Anderson foram até o menor e pretendiam matá-lo. Porém, o menor prometeu armar uma emboscada para que os milicianos pudessem matar os três traficantes.
O jovem chamou as três vítimas para fumar maconha, disse que ia buscar sua bicicleta e deixou Bruno, Deivid e Fábio para serem assassinados por Kleyton e Anderson.
Wellington Claudio Lucente, de apelido Jiló, foi denunciado pelo MP pela morte de quatro jovens: Rai de Melo Farias, Jefferson Antonio Borges de Morais, Breno Henrique Machado Araujo e Kaio Cesar Dionisio dos Santos.
No dia 21 de dezembro de 2016, os dois primeiros foram mortos em Queimados, dentro do condomínio Valdariosa, onde moravam, e os outros dois foram assassinados e tiveram os corpos enterrados em um tereno em Japeri, município vizinho. Todos eram suspeitos de pertencer ao tráfico local.
Foragido
Carlos Luciano Soares da Silva, o “Macaco Louco”, é segurança de um condomínio dominado pela milícia em Queimados — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
A atuação de milicianos em condomínios do Minha Casa, Minha Vida em Queimados, na Baixada Fluminense, foi calcada em extorsões, cobranças de taxas e homicídios, segundo a Polícia e o Ministério Público. Um dos membros mais violentos do grupo está foragido.
Carlos Luciano Soares da Silva, conhecido como Macaco Louco, é o mais perigoso dos Caçadores de Ganso. O Disque Denúncia divulgou um cartaz oferecendo recompensa por informações sobre ele.
De acordo com a polícia, Carlos era um dos “seguranças” da milícia que atuava no Condomínio Valdoriosa, do Minha Casa Minha Vida. Ele foi soldado do Exército, incorporado pelo serviço militar obrigatório e dispensado em fevereiro de 2010 após o término regular do tempo de serviço.
Macaco Louco também é investigado como um dos integrantes do grupo de extermínio vinculado à milícia e foi denunciado pela prática de vários homicídios atribuídos ao grupo em Queimados.
Polícia faz busca por possível cemitério clandestino da milícia em Queimados — Foto: Henrique Coelho / G1
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