Sofonias 3 1-20 – A ESPERANÇA DE SALVAÇÃO.
Sofonias foi escrito para conclamar o povo de Judá e de Jerusalém ao arrependimento em face da invasão babilônica, bem como à esperança numa grande restauração após o tempo de destruição e exílio. Já nos encontramos na quarta parte, sendo agora o último capítulo.
- O JULGAMENTO DIVINO (2.4 – 3.8) –continuação.
Como dissemos, o profeta acrescenta detalhes a respeito do julgamento que brevemente viria ao nomear nações específicas e assim, dividimos essa parte nas seguintes seções: A. Contra a Filístia (2.4-7) – já vista; B. Contra Moabe e Amom (5.8-11) – já vista; C. Contra a Etiópia (2.12) – já vista; D. Contra a Assíria (2.13-15) – já vista; E. Contra Jerusalém (3.1-5) – veremos agora.
- Contra Jerusalém (3.1-5).
Agora a palavra profética de Sofonias é contra Jerusalém que logo é chamada de rebelde e contaminada, cidade opressora. Nesse caso, as referências a profetas, sacerdotes, ao santuário e à lei indicam que o profeta se dirigia a Jerusalém.
Conforme BEG, esse oráculo pressupõe o crime mais hediondo, uma vez que os crimes de Jerusalém eram cometidos contra o Senhor que havia falado de maneira especial aos seus habitantes e os havia escolhido entre todos os povos (Am 2.4-5,10-16; 3.2).
O povo e os líderes eram acusados de infidelidade (3.1-4) em contraste com a fidelidade do Senhor (vs. 5). A acusação geral de 1.17 agora se torna específica.
Ela era desprezadora, pois não ouvia a voz do Senhor, nem aceitava o seu castigo, também não confiava nele e portanto nem se aproximava. Ela não atendia a ninguém. Literalmente, “Ela não ouve a voz de ninguém”; isto é, à voz de Deus revelada quer na lei (Dt 31.9-13), por intermédio dos profetas (ir 7.23-28; Ag 1.12) ou por meio de mestres sábios (Dt 1.13-15).
Estão presentes nesse versículo 4 verbos interessantes falando da maneira como Deus age conosco.
- Obedecer à sua voz – Deus nos fala quer por sua palavra, quer por outros meios, mas ele fala e nos mostra a sua vontade para obedecermos.
- Não aceitar o castigo. As consequências de não obedecer a voz do Senhor podem trazer para nós problemas e situações difíceis, mas resistimos a elas achando que são por puro acaso e nada tem a ver com Deus. (Veja o vs. 7.) É tão importante aceitar a correção que a incapacidade de ser receptivo a ela conduz à morte (Pv 5.23; Jr 2.30; 5.3; 7.28; 32.33), e a sua aceitação leva à vida. (Pv 6.23).
- Não confiar no Senhor. Além de não obedecer, nem aceitar a sua correção, não confiamos no Senhor que ele se importa e cuida de nós.
- Não se aproximar do Senhor. Por fim, o que fazemos é piorar a nossa situação porque não nos aproximaremos dele, antes buscaremos outra coisa para ocupar o lugar do Senhor e isso é um terrível engano. A frase “aproximar-se do seu Deus’ significa “aproximar-se de Deus de maneira própria em adoração” (cf. Lv 95-8; 10.4-5; 16.1ss.). O culto deve vir do coração e não apenas da boca Is 29.13; Jo 4.24).
Os versos 3 e 4 (Veja Mq 3.9-11) fazem acusações graves contra os príncipes, juízes, profetas e sacerdotes que estavam em benefício próprio pervertendo o direito, a justiça e o juízo.
Eles eram como leões rugidores. As imagens dos leões e dos lobos imundos descrevem aqui a natureza predatória, feroz e gananciosa dos oficiais do governo cujo ofício era proteger a sociedade e dar estabilidade a ela.
Os seus profetas e os seus sacerdotes (Is 28.7; Jr 4.9; 5.31; 6.13; 8.10; Os 43-6) eram levianos, homens pérfidos (Mq 2.6-11; 3.5-8), mas no meio dela, o Senhor era o sol da justiça. Sofonias contrasta a presença do Senhor justo, dentro de Jerusalém, com a presença dos líderes corruptos e injustos, também presentes ali.
A essência da promessa do Deus da aliança é a sua presença no meio do seu povo (Êx 33.14-15; Nm 14.14; Is 43.2). O fato de Deus estar no meio (ou dentro) de Jerusalém é aqui considerado como uma ameaça de julgamento, mas o mesmo termo hebraico no vs. 17 (onde é traduzido por “no meio de ti.) significa salvação.
O Senhor, nos versos 6-8, proclama que seria contra todas as nações. Os inimigos de Deus, inclusive os ímpios em Judá seriam convocados a se apresentar e seriam submetidos à ira e à indignação de Deus (ver Ap 16.1).
Ele promete exterminar as nações (ver Is 24.11) derramando sobre elas a sua indignação e todo o ardor de sua ira fazendo com que toda a terra seja consumida pelo fogo de seu zelo. Isso porque (ver vs. 2) não obedeceram à sua voz, não aceitaram a sua disciplina, não confiaram no Senhor e não o buscaram, nem dele se aproximaram – vs. 6-8.
- ESPERANÇA DE SALVAÇÃO (3.9-20).
Dos versos 9 ao 20, veremos a última parte de nossa divisão proposta, conforme a BEG, a esperança de salvação. Assim como o profeta havia oferecido a possibilidade de proteção contra a Babilônia mediante o arrependimento (2.1-3), ele agora desvia a atenção para a promessa futura, para além dos dias de destruição. O julgamento seria o prelúdio da restauração e da purificação tanto em Israel quanto entre as nações (vs. 9,12-13).
Esses versículos se dividem em três partes:
- Purificação (vs. 9-13).
- Regozijo em Jerusalém (vs. 14-17).
- Gloriosa restauração de Jerusalém (vs. 18-20).
Purificação (vs. 9-13).
O julgamento do dia do Senhor levaria à purificação de alguns dentre as nações e de alguns dentre os exilados judeus.
O Senhor iria purificar os lábios do povo ou “dar lábios puros” significa ou purificá-los do pecado em geral (cf. Is 6.5-7), ou eliminar os nomes de deuses estrangeiros dos lábios de um adorador pagão (Os 2.17).
Os gentios também chamariam pelo nome de Deus (Is 52.15; 65.1), para que todos invoquem o nome do Senhor (Veja Gn 4.26; I Rs 18.24; Jr 10.25; Jl 2.32). Essa é uma Cláusula semelhante a “confia em o nome do SENHOR” no vs. 12. Ela faz um contraste com aqueles que “adoram ao Senhor, juram por ele e também por Milcom” (1.5).
No vs. 10, as ofertas a Deus seriam trazidas desde além dos rios da Etiópia pelos seus adoradores, o seu povo disperso, provavelmente uma referência aos judeus que seriam expulsos da terra pelas invasões e deportações babilônicas. Sofonias antevê tanto judeus como gentios purificados adorando ao Senhor.
Os orgulhosos naquele dia seriam envergonhados por causa da sua rebelião e nunca mais seriam altivos – Gn 11.1-9; Is 2.6-22 – no santo monte de Deus. Ali somente iriam ficar os mansos e humildes que temem e tremem diante do Senhor. Estes são contrastados com os orgulhosos e soberbos (vs. 11) e buscam refúgio em Deus e confiam em seu nome – Sl 2.12; 31.1-2; Is 57.13; Na 1.7.
No verso 13, uma bela promessa aos remanescentes, pois não cometerão injustiças, não mentirão, não se achará engano neles, se alimentarão e descansarão, ou seja, serão apascentados sem ninguém que os possa incomodar. Quando essa purificação, após o exílio, alcançar a sua plenitude, os restantes estariam sem pecado; a lei de Deus seria perfeitamente escrita em seus corações (Jr 31.31-33). Essa esperança alcançará perfeita realização somente quando Cristo retornar (veja Ap 21.22-27).
Conforme a BEG, o verbo hebraico para “comer” significa literalmente “apascentar”; portanto, o versículo 13 representa metaforicamente o povo de Deus como o seu rebanho. Essa é uma figura comum nos profetas (Is 49.9; Jr 50.19; Ez 34.14; Mq 7.14) para retratar a segurança que resulta de confiar em Deus e reconhecer o seu reinado (vs. 15).
O verbo também significa “pastorear” quando tem um objeto direto, o que não acontece nesse versículo, embora alguns intérpretes creiam que exista um objeto oculto. Se essa interpretação estiver correta, o versículo retrata também o povo de Deus como pastores que cuidam de seus rebanhos em paz “sem ninguém que os amedronte” (NVI).
Os dias da completa restauração serão sem aflições ou perturbações de qualquer sorte (veja Mq 4.4). Embora Cristo já tenha levado o seu povo a essa experiência (1Jo 5.18), o medo de aflições vindas de outros desaparecerão completamente quando ele retornar (Ap 21.4).
Regozijo em Jerusalém (vs. 14-17)
Dos versos de 14 ao 17, boas notícias que levarão o povo ao regozijo em Jerusalém. Os pensamentos sobre a pureza de Jerusalém no futuro levaram o profeta a clamar para que a cidade se regozijasse.
Era para a filha de Sião, isto é, Jerusalém, cantar. Essa figura de linguagem segue a prática de personalizar objetos inanimados de acordo com o gênero do substantivo. Como, nesse caso, a palavra cidade, em hebraico é feminina, o profeta fala de Sião como “filha”.
A razão para o canto era que o grande Rei de Israel estava no meio dela, poderoso para salvá-la. A presença de Deus como rei entre o seu povo significa que ele lutará por ele e o protegerá do mal (vs. 5,17). A encarnação de Cristo é a mais perfeita expressão da presença de Deus conosco, que trouxe a vitória para o povo de Deus (Mt 1.23).
Haviam sentenças que eram contra ela. A razão para o regozijo no vs. 14 é explicada no fato de que o julgamento não foi encoberto, mas tratado pelo Senhor. O exílio babilônico foi o castigo de Jerusalém pelo pecado. A libertação da culpa e da punição aqui prometida foi cumprida quando Cristo morreu e ressuscitou.
O Senhor Deus estava no meio dela sendo poderoso para salvar e se deleitar nela (Veja Dt 30.9; Is 62.4-5; 65.18-19; Jr 32.41). A base para esse deleite é o caráter de Deus, que “tem prazer na misericórdia” (Mq 7.18).
Deus, com seu amor, renovará a vida e se regozijará nela com brados de alegria. A frase também pode ser compreendida como “acalmar-te-á” ou “acalmará a si mesmo”. Conforme a BEG, a tradução “acalmar-te-á” segue a interpretação da Septuaginta (a tradução grega do AT); nesse caso ela significa “ele te reanimará ou te renovará em seu amor”.
Entretanto, como nesse contexto Deus é visto como um guerreiro “poderoso para salvar”, a opção “acalmará a si mesmo” talvez seja uma tradução melhor segundo a compreensão de que o anterior grito de guerra do Senhor (1.14) está agora aquietado pelo seu amor.
O Senhor realiza uma obra de graça ao purificar e transformar e, ao fazer isso, cria um novo povo que reconhece o seu governo e confia no seu nome (vs. 12).
Como a palavra de Deus é poderosa, misteriosa e tão sábia e como nós somos tão volúveis, instáveis e pecadores ingratos e rebeldes, duros de coração por causa do pecado e do engano. Buscando a vida, resistimos a ela, como pode isso? Meu Deus, livrai-nos de nós mesmos. Amém!
Gloriosa restauração de Jerusalém (vs. 18-20).
Deus em seu amor e profundidade, além de toda compreensão, nos diz que reunirá os que choram pela restauração de Jerusalém. O profeta forneceu garantias de que a purificação (vs. 9-13) e o regozijo (vs. 14-17) seriam seguidos de uma completa restauração de Jerusalém, incluindo bênçãos abundantes para todos os seus habitantes.
»SOFONIAS [3]
Sf 3:1 Ai da rebelde e contaminada, da cidade opressora!
Sf 3:2 Não escuta a voz,
não aceita a correção,
não confia no Senhor,
nem se aproxima do seu Deus.
Sf 3:3 Os seus oficiais são leões rugidores no meio dela;
os seus juízes são lobos da tarde,
que nada deixam para o dia seguinte.
Sf 3:4 Os seus profetas são levianos,
homens aleivosos;
os seus sacerdotes profanam o santuário,
e fazem violência à lei.
Sf 3:5 O Senhor é justo no meio dela;
ele não comete iniqüidade;
cada manhã traz o seu juízo à luz;
nunca falta;
o injusto, porém, não conhece a vergonha.
Sf 3:6 Exterminei as nações, as suas torres estão assoladas;
fiz desertas as suas praças a ponto de não ficar
quem passe por elas;
as suas cidades foram destruídas,
até não ficar ninguém,
até não haver quem as habite.
Sf 3:7 Eu dizia:
Certamente me temerás e aceitarás a correção;
e assim a sua morada não seria destruída,
conforme tudo o que eu havia determinado
a respeito dela.
Mas eles se levantaram de madrugada,
e corromperam todas as suas obras.
Sf 3:8 Portanto esperai-me a mim, diz o Senhor,
no dia em que eu me levantar para o despojo;
porque o meu intento é ajuntar nações
e congregar reinos,
para sobre eles derramar a minha indignação,
e todo o ardor da minha ira;
pois esta terra toda será consumida
pelo fogo do meu zelo.
Sf 3:9 Pois então darei lábios puros aos povos,
para que todos invoquem o nome do Senhor,
e o sirvam com o mesmo espírito.
Sf 3:10 Dalém dos rios da Etiópia os meus adoradores,
a saber, a filha dos meus dispersos,
trarão a minha oferta.
Sf 3:11 Naquele dia não te envergonharás de nenhuma das tuas obras,
com que te rebelaste contra mim;
porque então tirarei do meio de ti,
os que exultam arrogantemente,
e tu nunca mais te ensoberbeceras
no meu santo monte.
Sf 3:12 Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre;
e eles confiarão no nome do Senhor.
Sf 3:13 O remanescente de Israel não cometerá iniqüidade,
nem proferirá mentira, e na sua boca
não se achará língua enganosa;
pois serão apascentados, e se deitarão,
e não haverá quem os espante.
Sf 3:14 Canta alegremente, ó filha de Sião;
rejubila, ó Israel;
regozija-te, e exulta de todo o coração,
ó filha de Jerusalém.
Sf 3:15 O Senhor afastou os juízos que havia contra ti,
lançou fora o teu inimigo;
o Rei de Israel, o Senhor, está no meio de ti;
não temerás daqui em diante mal algum.
Sf 3:16 Naquele dia se dirá a Jerusalém:
Não temas, ó Sião;
não se enfraqueçam as tuas mãos.
Sf 3:17 O Senhor teu Deus está no meio de ti,
poderoso para te salvar;
ele se deleitará em ti com alegria;
renovar-te-á no seu amor,
regozijar-se-á em ti com júbilo.
Sf 3:18 Os que em tristeza suspiram pela assembléia solene,
os quais te pertenciam, eu os congregarei;
esses para os quais era um opróbrio
o peso que estava sobre ela.
Sf 3:19 Eis que naquele tempo procederei contra todos
os que te afligem; e salvarei a que coxeia,
e recolherei a que foi expulsa;
e deles farei um louvor
e um nome em toda a terra
em que têm sido envergonhados.
Sf 3:20 Naquele tempo vos trarei,
naquele tempo vos recolherei;
porque farei de vós um nome e um louvor
entre todos os povos da terra,
quando eu tornar o vosso cativeiro diante dos vossos olhos,
diz o Senhor.
Sofonias tinha em mente, quando falava dos que coxeavam e foram expulsos, o povo de Israel que havia sido ferido e disperso pelo exílio babilônico. Jesus declarou que o seu ministério terreno era o início da cura e da reunião do remanescente exilado (Mt 11.1-5).
Deus, então, daria a eles louvor e honra em todas as terras onde foram envergonhados. (Veja o vs. 20). A frase alude a Dt 26.18-19, em que Israel recebe louvor e honra como possessão preciosa de Deus. Como outras promessas de restauração, essa também é cumprida na glorificação de todos os que seguem a Cristo (2Co 3.18: Ap 20.4).
Deus promete ajuntá-los, trazê-los para casa, dar-lhes honra e louvor entre todos os povos da terra quando ele, finalmente, mudar a sorte deles. Moisés prometeu que, após o exílio, o povo de Deus seria mais próspero do que antes (Dt 30.5).
Em Cristo, o povo de Deus recebe bênçãos magníficas, tanto agora quanto no futuro, nos novos céus e na nova terra (Ef 1.3; Ap 21.6-7).
p.s.: link da imagem original:
Contagem regressiva: Faltam 21 dias para 04/08/2015, quando eu irei concluir a Segmentação de toda a Bíblia.
A Deus toda glória! p/ Daniel Deusdete – http://www.jamaisdesista.com.br
…
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