Oneomania: a Doença do Consumismo
Quando o dinheiro é sinônimo de felicidade e a falta dele se traduz em desamparo e falta de amor, a vida fica realmente trágica. O estímulo para a compra de produtos e serviços é feito pelo sistema de marketing, com propagandas em profusão e todos os outros meios de indução. Crescemos comprando e não conseguimos imaginar-nos vivendo sem fazê-lo.
Parafraseando Descartes: “Consumo, logo existo”. Somos uma sociedade de consumidores e, infelizmente, as pessoas são vistas, avaliadas, medidas por aquilo que possuem, ostentam ou podem adquirir. Muitos são os motivos que levam uma pessoa a comprar: a necessidade, a diversão, os modismos, a importância, o status e o apelo mercadológico do comércio. Mas há quem consuma pelo simples prazer de comprar, de adquirir alguma coisa independente da sua utilidade ou significado.
Acredite, este distúrbio não é raro. A “doença da dívida” está cada vez mais frequente e se chama Oneomania, que é um transtorno psiquiátrico marcado pela vontade sem controle de comprar. As pesquisas apontam que já chega a 3% os compradores compulsivos com esta patologia. O que estas pessoas têm em comum é uma vontade incontrolável de comprar; sem absoluto critério e consciência da sua verdadeira necessidade e condição financeira.
O vício está nas manchetes. São dezenas de filmes no cinema e na tevê que apresentam o drama de pessoas viciadas no jogo de cartas, em cassinos, no álcool e outras drogas, afora o noticiário que a todo momento mostra o drama vivido por gente famosa ou gerando acidentes graves e crimes inacreditáveis. Para ficar com dois exemplos de filmes, lembro Conduta de Risco, no qual George Clooney interpreta um advogado viciado em pôquer e que, por isso, passa uma série de necessidades, e O sonho de Cassandra, de Woody Allen, em que este descreve uma tragédia em que um dos personagens se endivida também no vício do pôquer, sempre alimentado por um agiota, pronto a lhe emprestar mais dinheiro para as apostas.
Os oneomaníacos têm o consumo como vício, assim como um alcoólatra que necessita da bebida. Pode atingir qualquer pessoa, independentemente de classe social, condição econômica e formação intelectual. Enquanto está comprando, a pessoa sente alívio e prazer dos sintomas, que passado um tempo voltam rapidamente. O efeito do ato de comprar é semelhante ao de tomar uma droga.
A pessoa compra, por impulso, sem estar precisando daquele produto, para compensar angústia e diminuir o desconforto físico e psicológico. Logo após a compra ela se arrepende. Normalmente essas pessoas são viciadas em consumo descontrolado e estão sempre devendo.
Alguns especialistas consideram a oneomania uma doença obsessiva-compulsiva. Nesse caso, a pessoa teria outros comportamentos compulsivos característicos, além de comprar – como contar objetos sem conseguir parar, por exemplo. No caso desses sintomas estarem ausentes, a oneomania é considerada um distúrbio no controle dos impulsos.
Sinais da Compulsão
a) Quando está triste ou frustrado sempre busca comprar algo;
b) Tem preocupação excessiva em comprar;
c) Acaba sempre gastando mais dinheiro e mais tempo do que o planejado;
d) Tem problemas familiares e desgaste em suas relações sociais por conta dos gastos excessivos;
e) Tem dívidas que superam o valor que pode pagar;
f) Sempre está procurando maneiras de conseguir dinheiro para cobrir o rombo da conta bancária;
g) Compra itens desnecessários ou em quantidades exageradas;
h) Sempre se arrepende logo após as compras e sente-se frustrado com isto;
i) Toma empréstimo para cobrir os gastos;
j) Mente, omite e esconde as compras excessivas e também as dívidas.
É claro que, se o comprador com oneomania for uma pessoa de posses e puder gastar muito dinheiro, será mais difícil identificar a doença, pois ela acumulará produtos e mais produtos ainda que nunca os utilize. Assim, um outro modo de identificação da doença está em verificar o excesso da compra de produtos, que jamais são usados.
A doença pode estar associada a transtornos do humor e de ansiedade, dependência de substâncias psicoativas (álcool, tóxicos ou medicamentos), transtornos alimentares (bulimia, anorexia) e de controles de impulsos.
A oneomania também emerge para aliviar sentimentos de grande frustração, vazio e depressão. É um desejo de possuir, de ter poder, que fica reprimido. Ao não conseguir dar vazão ao seu desejo, a pessoa sofre uma enorme pressão interna que a leva à necessidade de possuir coisas novas como única forma de prazer, explica a psicóloga Denise Gimenez Ramos, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.
Tratamento
Compradores compulsivos devem buscar atendimento psiquiátrico e frequentar sessões de psicoterapia para tratar o problema, afirmam os médicos. A Oneomania é uma doença que nunca melhora, somente piora, com o passar do tempo. É uma doença progressiva em sua natureza, que não pode jamais ser curada, mas pode ser detida. Os grupos de ajuda são uma alternativa a mais para auxiliar neste problema, recomenda os psicólogos. O fundamento do grupo é o mesmo dos Alcoólicos Anônimos. Estabelecendo passos para vencer o vício. O primeiro deles é admitir ter compulsão para consumo. Segue-se o mesmo ritual, apenas trocando o termo “álcool” por “endividamento compulsivo”. Com o compartilhamento de experiências e apoio mútuo do grupo aprende-se maneiras de se controlar.[/p]
Essencial para o controle desta doença é a organização financeira. Saber quanto se ganha e quanto se gasta é a chave para o controle. Há um site muito bom que permite isto: o money tracking. Um programa excelente (e grátis) criado por um brasileiro, Cristiano Meira Magalhães chamado Planejamento Financeiro também é muito útil para este fim.
A Terapia Biográfica, uma Psicoterapia baseada na Antroposofia, é uma técnica que pode auxiliar muito as pessoas que sofrem desta compulsão, permitindo que as pessoas consigam entender e modificar seus padrões de comportamento.
Oneomania atinge principalmente as Mulheres
Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, coordenador de Ensino e Pesquisa do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a proporção é de quatro mulheres para cada homem com a doença. Os especialistas ainda não sabem precisamente o porquê da oneomania ser mais comum em mulheres, mas acreditam que o motivo está diretamente relacionado a condições culturais.
“A mulher sempre fica responsável pelas compras da casa e da família. Ela é que vai ao supermercado, ao shopping e compra presentes para todos os parentes. Sem contar que acaba se endividando comprando artigos que compõem sua identidade, como roupas e acessórios”, comenta a psicóloga. “Entretanto, e mulher busca mais tratamento do que os homens. Ela aceita mais o fato de estar com o problema e vai em busca de soluções”, ressalta a psicóloga Tatiana Filomensky.
Os Grupos de Ajuda
Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. Esta ajuda vem pela interação entre os diferentes participantes em atividades dirigidas que envolvem arte e palavras.Existe um grupo de 12 passos, nos moldes do AA, que ajuda muito as pessoas com esta compulsão: os Devedores Anônimos.
Antes de chegar ao Grupo de D.A., muitos devedores compulsivos se achavam pessoas irresponsáveis, moralmente fracas, ou as vezes, simplesmente “Más”. O conceito do D.A. é o de que o devedor compulsivo é uma pessoa realmente doente que pode se recuperar caso ele ou ela siga, com toda sinceridade, um programa simples, que já provou ser um sucesso para outros homens e mulheres com um problema similar. O trecho abaixo foi retirado do site deles:
“Como devedores compulsivos, nós nos enquadramos em padrões de gastos que não satisfazem nossas necessidades reais. Alguns de nós temos deixado de pagar cronicamente nossas contas e dividas, mesmo quando nós tínhamos o dinheiro para pagá-las. Ou nós temos feito pagamentos fielmente para 01 ou 02 credores e negligenciado os outros. Alguns de nós têm simplesmente ignorado nossas dívidas por algum tempo, na esperança de que, de alguma maneira, elas possam ser pagas milagrosamente. Alguns de nós têm sido gastadores compulsivos, comprando coisas de que não necessitamos, e nem queremos. Quando nós nos sentimos carentes, ou que, algo está faltando nós esbanjamos dinheiro em algo que não podemos pagar. Nós gastamos compulsivamente, entramos em dívidas, nos sentimos culpados, prometemos que nunca faremos isto de novo, e apenas repetimos o mesmo ciclo na próxima vez que o sentimento de “não sermos suficiente” aflore. Tendo gasto além da conta, nós freqüentemente não tínhamos nada para mostrar no que gastamos, e ficamos nos perguntando para onde foi todo aquele dinheiro. Alguns gastadores compulsivos não estão realmente endividados, mas mesmo assim, são bem vindos ao D.A. O único requisito para ser membro do D.A., é o desejo de evitar fazer dívidas sem hipoteca (garantia).
Alguns de nós têm se tornado empobrecidos compulsivos, permitindo-nos ficar freqüentemente sem dinheiro, batalhando de uma crise financeira para outra. Há ainda alguns de nós que acham quase impossível gastar dinheiro consigo mesmos. A televisão estraga e fica estragada, aquele par de sapatos, pronto para ser aposentado, é obrigado a rodar mais um ano ainda, e até problemas de saúde e dentários não são cuidados.
Esta doença afetou nossa visão de nós mesmos e do mundo à nossa volta. Ela nos levou a acreditar que não éramos “suficientes” – em casa, no trabalho, em situações sociais, em relacionamentos amorosos. Ela também nos levou a crer que não há o suficiente no mundo lá fora para nós. Esta doença criou uma sensação de pobreza em tudo o que fazíamos e víamos. Em reação a isso, nós nos recolhíamos para um mundo de fantasias, ficávamos preocupados com dinheiro, e evitávamos responsabilidades.
Quando nós participamos da nossa primeira reunião de D.A., nós estávamos perdidos, por muitas perdas: perda de salário, que havia sido engolido por dívidas e por gastos compulsivos; perda de fé; perda de respeito próprio e paz de consciência; perda de amizades; e algumas vezes de saúde, emprego e família. Muitos de nós buscamos ajuda de vários indivíduos ou organizações, mas sempre acabávamos nos sentido como se ninguém entendesse nosso problema. Nossa solidão fez com que nos recolhêssemos mais e mais em nós mesmos. Nós perdemos a vitalidade e o interesse na vida. Nós não podíamos trabalhar ou cuidar de nós mesmos ou de nossos entes queridos apropriadamente. Alguns de nós achamos que estávamos ficando loucos e outros chegaram a contemplar o suicídio. Esse senso de desespero, ou “chegar ao fundo do poço”, foi nosso primeiro passo em Devedores Anônimos. Nós vimos que nossas tentativas de esquematizar e manipular nossas vidas nunca funcionaram. Nós admitimos que éramos impotentes perante as dívidas. Nós estávamos prontos para pedir ajuda.”
Fonte: Psicósmica
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