ALTO DO RODRIGUES RN-Tráfico de influência no mais alto escalão da República, por J. Carlos de Assis
Movimento Brasil Agora
Tráfico de influência no mais alto escalão da República
por J. Carlos de Assis
O sr. Eliseu Padilha não tem condição moral de continuar no Governo. Ele cometeu exatamente o mesmo crime cometido por Gedel Vieira, com a diferença de que, em seu caso, Gedel tentou fazer advocacia administrativa em proveito próprio, enquanto o sr. Padilha fez advocacia administrativa em favor do sr. Gedel. Tudo está gravado. E tudo sob a autoridade inconteste do Presidente, que aparentemente também fez advocacia administrativa no mesmo episódio que levou à demissão do ministro Marcelo Calero.
Na patética entrevista coletiva que concedeu ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado, Michel Temer – como é difícil, nessa altura, chamá-lo de Presidente da República – tentou embromar a opinião pública com uma falsa analogia processual. Disse que seu papel é de arbitragem. E o que fez foi arbitrar um conflito entre o IPHAN nacional e o IPHAN da Bahia em torno da licença que Gedel exigia, como ministro, para liberar o arranha céu com seu apartamento virtual em Salvador, em flagrante agressão do patrimônio histórico do país.
Então temos uma coisa fantástica. Um presidente da República, pressionado por dois de seus ministros – além de Gedel, Eliseu Padilha, aparentemente também gravado -, se mete num conflito entre um órgão público hierarquicamente inferior e o mesmo órgão acima dele para fazer uma “arbitragem”. É como se num conflito entre um superintendente da Petrobrás e um diretor da mesma empresa o próprio Presidente da República decidisse arbitrar em favor de um ministro. Claro que se isso acontecesse seria uma anormalidade absoluta da administração pública.
É claro que Temer contou com a indiscutível ingenuidade da população brasileira para contar essa história fantástica. Ele simplesmente mentiu para a sociedade. Na medida em que admite ter feito “arbitragem” em situações tão peculiares, ele simplesmente está confessando que tentou pressionar um ministro para atender a interesse próprio de outro. Acaso há nisso algum grau de republicanismo? Temos um ministro suspeito de crime e um presidente que o acoberta, e nada vai acontecer?
Sou contra um eventual processo de impeachment contra Temer. Independentemente de sua fundamentação legal, as consequências para a sociedade seriam terríveis. Já temos uma contração da economia acumulada em cerca de 8% em dois anos, uma provável nova contração em 2017, um desemprego da ordem de 13% que logo chegará a 15 ou 20%, o desabamento da receita tributária; para onde iríamos caso fosse aberto um processo de impeachment, com todos os problemas de prazo e, por que não, com suas chicanas?
A única saída possível é a renúncia de Temer com um último ato de dignidade: a busca de uma alternativa sucessória em condições de promover um grande pacto nacional para a superação da crise. A solução certamente não pode ser do PT, mas também não do PSDB, que levaria a uma ainda maior radicalização política no país. Se não tiver esse último ato de prudência, Temer e seu associado Padilha serão responsáveis por uma precipitação a curto prazo da crise que provavelmente levará eles próprios de roldão, num processo que comprometerá a vida, o bem estar e a tranquilidade de milhões de brasileiros.
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