Nada substitui a boa e velha experiência política, da negociação, da paciência, da cautela, do estudo, da pesquisa, da construção de diálogos e da administração de crises.

Que sabe a hora de acariciar, a hora de bater e a hora de recuar.

Fátima Bezerra, que já nasceu na política como deputada estadual, depois deputada federal, senadora e governadora, é um rico manancial desse tipo de experiência que constrói grandes figuras públicas na democracia.

Nem sempre foi assim, mas a julgar por seu pronunciamento de fim de ano, é agora. Mas é preciso recordar. Os últimos meses dela não foram nada fáceis.

Dona de uma notória ideologia de esquerda, sem que muitos tenham parado para notar, ela é hoje um outro ser político, renascido sob a égide de um tempo de polarização, intransigência e arrogância.

Mais maleável, capaz de transformar pequenas derrotas em grandes vitórias e, ao mesmo tempo, com a casca dura para suportar pressões, Fátima resolveu fatiar a crise para vencê-la ou pelo menos administrá-la.

Quem diria!

A queda nacional do PT em contraposição com a ascensão dela ao governo do RN fez um tremendo bem a essa política que se jacta por ser a primeira governadora de origem popular do Rio Grande do Norte.

Mais do que uma definição em si mesma, essa Fátima é o produto do aperfeiçoamento daquela que acompanhávamos até pouco tempo atrás na Câmara Federal e no Senado, torcendo o nariz ao imaginá-la no posto executivo atual, especialmente num contexto de terra arrasada.

Sem dar à mínima aos adversários – quem diria! – esta Fátima 2.0 tem uma visão real da crise e tateia seus próprios limites, vencendo o desafio ou adiando o confronto. Isso significa dizer que ela aprendeu que o rugido de hoje pode ser ronronado de amanhã, desde que haja paciência e diálogo suficientes para vencer resistências.

E, mesmo vendo algumas de suas bases eleitorais ruírem por conta de uma crise financeira que ela não produziu, essa Fátima não se dá por vencida e sabe que, com três anos pela frente, o tempo é o seu maior aliado.

Sim, Fátima está mudando e seus opositores também deveriam fazer a mesma coisa.