SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Como abordar a temática de gênero na primeira infância?


Como abordar a temática de gênero na primeira infância?desafio_igualdade_genero

Por Ana Luiza Basilio, do Centro de Referências em Educação Integral

Meninas de rosa, meninos de azul. Meninas brincam com bonecas e fogõezinhos; meninos, com carrinhos e bolas. Nas escolas, filas de meninas e filas de meninos. No cotidiano, frases como: “senta direito, isso não é jeito de menina”, “homem não chora!”.
Facilmente encontradas no cotidiano e naturalizadas por grande parte das pessoas, todas essas situações são carregadas de estereótipos que reforçam o que é ser mulher e o que é ser homem em nossa sociedade e acabam por desrespeitar a individualidade e as preferências de cada criança.

 

O desafio de mudar essa realidade a partir do questionamento de hábitos e de mudanças comportamentais pautou a campanha #Desafiodaigualdade, que foi lançada na última terça (22/11),  pela Plan International Brasil, em São Paulo.

Por uma relação de igualdade

Em uma mesa de debate, os especialistas da Plan Internacional Brasil – Viviana Santiago, gerente técnica de gênero, Flávio Debique, gerente de proteção infantil e incidência política -, e a professora de educação infantil Tathiana Passi discorreram sobre os desafios colocados para que as relações de gênero se deem em uma condição de igualdade.

Da esquerda para a direita: Tathiana Passi, Flavio Debich e Viviana Santiago durante lançamento da campanha, em São Paulo.

Eles também reforçaram a importância do enfrentamento se dar já na primeira infância para romper com a lógica adultocêntrica que invisibiliza o reconhecimento das meninas e naturaliza as violências nos cotidianos delas. Isso se torna ainda mais urgente quando se consideram os dados relativos ao Brasil: estima-se que meio milhão de mulheres são vítimas de estupro por ano, e que dois terços das vítimas são meninas menores de 13 anos, cerca de 330 mil.

Para Viviana, a luta passa pelo enfrentamento do patriarcado que nada mais é do que uma construção social que se baseia no domínio do gênero masculino sobre outros gêneros. “As diferenças são fruto dessa determinação. O patriarcado forja mentes, corpos, ideias, posturas, há uma norma colocada e aceita pela sociedade que precisa ser discutida”, observou.

Para Debique, um dos caminhos é evidenciar a situação de desvantagem de meninas e mulheres para fazer com que, uma vez cientes de que são portadores de privilégios, os homens possam abrir mão deles em nome da igualdade.

“Um mundo bom para as meninas é um mundo bom para todo mundo”, colocou Debique reforçando que a masculinidade predominante também não é boa para os homens. Na visão de Viviana, mesmo para os meninos a masculinidade é predatória: “experimente ser homem e não gostar de futebol, por exemplo; ou ainda ser homem e gostar de outro homem”, provocou a especialista.

A escola como espaço de enfrentamento

Outra questão suscitada foi a importância que esse debate seja levado para dentro das escolas, espaços que cotidianamente reforçam a desigualdade entre meninos e meninas, a começar pelo currículo, na opinião de Viviana.

“Ele reitera a história dos homens como autores, personagens. Se conta a história como se eles fossem os heróis. Ou seja, o gênero já está lá, nas escolas. Vejam só como estudamos Joana D’arc, por exemplo: muito mal e ainda tratando-a como louca. A história cuidou também de invisibilizar ou descreditar essas mulheres”, condenou a especialista.

Saiba + Por que a educação deve discutir gênero e sexualidade? Listamos 7 razões

Nas instituições escolares, o desafio também passa pelos professores, permeados por todas as questões machistas presentes na sociedade. Tatiana colocou que teve que se desconstruir como educadora antes de começar a trabalhar com as crianças.

“Precisamos, entre outras coisas, ter consciência de que quando um exercício traz em seu enunciado que João tem 3 carrinhos e Maria 5 bonecas ele está tratando de gênero”, observou.

A docente também colocou que o acesso a materiais pedagógicos sobre o tema ainda são uma dificuldade, bem como conseguir diálogo com as escolas e famílias devido à resistência. “Sinto falta de articulação, de uma rede que aproxime as pessoas que de fato abraçam essa problemática e estão dispostos a enfrentá-la”, sentenciou.

A campanha

Para incentivar o debate sobre igualdade de gênero, a campanha Desafio pela Igualdade se propõe a fornecer dados, provocações e reflexões para que todos possam ser agentes e multiplicadores da causa.

Além da divulgação de conceitos básicos sobre gênero, a iniciativa lançou um vídeo, um documentário que reúne especialistas em educação e mostra experiências escolares na perspectiva da igualdade de gênero e uma websérie com cinco episódios que trazem os temas: “Existe brinquedo de menino e menina?”, “A partir de que idade posso falar com uma criança sobre abuso?”, Por que dividir as tarefas de casa?”, “Menino pode chorar?” e “A culpa é do vestido?”

Ainda prevendo apoio aos professores e comunidades escolares, a campanha também traz um caderno de atividades com propostas pedagógicas para serem desdobradas em salas de aula ou em outros contextos educativos.

Gratuitos, todos os materiais estão disponíveis no site da campanha #Desafiodaigualdade e podem ser adquiridos via download.

Select rating
Nota 1
Nota 2
Nota 3
Nota 4
Nota 5

19
Rate this post



Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

Comentários com Facebook




Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.