Piloto testemunhou acidente com jato de Campos: ‘Condições extremas’


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O piloto privado Matheus Giovannini, de 21 anos, relatou o que presenciou no momento do acidente aéreo, que resultou na morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, e mais seis pessoas, na manhã de quarta-feira (13), em Santos, no litoral de São Paulo.  Segundo o piloto, as condições climáticas não eram favoráveis para o voo no dia.

Giovannini não descarta que problemas mecânicos possam ter ocorrido após a aeronave arremeter o pouso na Base Aérea de Santos, em Guarujá, no litoral paulista. Para ele, algo que pode ter contribuído para o acidente. “A pista é razoavelmente curta, mas suficiente para um pouso normal. O problema é que com o tempo que fazia no dia, as condições se tornam extremas. O vento estava bem forte e a visibilidade era de 3.000 KM, próximo do mínimo, e para o pouso o limite é de 700 pés. Naquele dia, em Santos, as condições eram de 800 pés. Ele não conseguiu ver a pista, estava arriscado pousar e, provavelmente, por conta disso, ele decidiu arremeter. Agora, o motivo pelo qual ele voava tão baixo depois da arremetida ainda é um mistério”, diz.

Buscas estão sendo concentradas na região do bambuzal (Foto: Roberto Strauss/G1)Local onde aconteceu acidente em Santos, SP
(Foto: Roberto Strauss/G1)

O piloto conta que não detectou qualquer sinal de fogo ou fumaça saindo da aeronave, momentos antes da queda. “Pelo breve momento que eu pude observar a aeronave, não consegui identificar fogo ou rastro de fumaça. Parece que o avião estava limpo. Não vi nenhum dano à fuselagem”, revela.

Indagado sobre o que poderia ter causado o acidente, Giovannini prefere ser cauteloso, apesar de apontar alguns aspectos técnicos que poderiam levar à queda. “Conversei com alguns comandantes que já voaram com esse tipo de aeronave e eles relataram que quando há problema desse gênero eles recolhem os flaps (dispositivos hiper-sustentadores que consistem de abas, existentes na parte posterior das asas). Isso ajuda a aeronave a frear no ar, estabilizando-a. Porém, depois que ele arremeteu, obrigatoriamente, você teria que tirar os flaps. Talvez, na hora de tirar o último, como ele estava acima de 200 nós, com a velocidade excessiva, o avião pode ter empinado com o nariz para baixo. No entanto, também não sei o que pode, tecnicamente, ter levado a aeronave a voar tão baixo depois da arremetida. Não sabemos o que aconteceu. Mas, a pista não era indicada para o pouso, nas condições em que ela estava”, comenta.

Vidros de prédios vizinhos quebraram com a pressão do impacto (Foto: Roberto Strauss/G1)Prédio onde piloto que viu acidente trabalha
(Foto: Roberto Strauss/G1)

O piloto, que trabalha próximo ao local onde o acidente ocorreu, relembra que as janelas e vidraças do edifício chegaram a se quebrar por causa do barulho da aeronave. “Ouvi o barulho forte dos motores e eles pareciam estar em força máxima. Foi um barulho estridente, incomum nessa situação de voo. Alguns vidros de janelas e vidraças da parte debaixo do prédio onde trabalho, perto da área do acidente, se quebraram”, destaca.

Já sobre a possibilidade de o piloto do voo de Campos ter escolhido a área onde tentaria um pouso emergencial, Giovannini não crê nessa possibilidade. “Tecnicamente, eu não sei o que pode ter levado a aeronave a voar tão baixa na curva de arremetida. Basicamente, o piloto estava sem visibilidade e se deparou com o prédio em cima, por isso fez uma curva de grande inclinação, o que provavelmente o levou a perder o controle da aeronave. Eu acredito que ele não tinha muitas condições para escolher onde pousar. Se ele voasse por mais 10 segundos, chegaria ao mar, onde ele teria melhores condições de um pouso mais suave, do que imbicar em direção ao solo”, conclui.

Pequenos destroços e fragmentos têm sido encontrados pela equipe de buscas (Foto: Roberto Strauss/G1)Pequenos destroços e fragmentos têm sido encontrados pela equipe de buscas (Foto: Roberto Strauss/G1)
Arte acidente Campos 14.8.2014 - 13h (Foto: Arte/G1)

O caso
A queda do avião ocorreu por volta das 10h, nesta quarta, em um bairro residencial de Santos, no litoral paulista. O candidato tinha uma agenda de campanha em Santos. Chovia no momento do acidente.

A Aeronáutica informou em nota que o avião decolou do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá, também no litoral. “Quando se preparava para pouso, o avião arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave”, informou.

Além de Campos, outras seis pessoas estavam na aeronave.

Veja a lista:
– Eduardo Campos, candidado à presidência
– Alexandre Severo Silva, fotógrafo
– Carlos Augusto Leal Filho (Percol), assessor
– Geraldo Magela Barbosa da Cunha, piloto
– Marcos Martins, piloto
– Pedro Valadares Neto
– Marcelo de Oliveira Lyra

Seis vítimas do acidente moravam na área onde caiu o avião foram para a Santa Casa de Santos, entre elas duas crianças, duas mulheres e uma idosa. Segundo o hospital, todas passam bem.

A Polícia Federal enviou seis peritos para Santos a fim de trabalhar na apuração da causa do acidente. Aeronáutica e Polícia Civil também vão investigar.

Em Santos, Marina Silva, candidata à vice-presidência na chapa de Campos, disse que a tragédia impõe luto e profunda tristeza. “Durante esses dez meses de convivência aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e nos seus ideais de vida. Eduardo estava empenhado com esses ideais até os útlimos segundos de sua vida.”

A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de três dias. “Estivemos juntos, pela última vez, no enterro do nosso querido Ariano Suassuna. Conversamos como amigos. Sempre tivemos claro que nossas eventuais divergências políticas sempre seriam menores que o respeito mútuo característico de nossa convivência”, afirmou a presidente em nota oficial.

Veja a repercussão completa sobre a morte de Campos no Brasil e no mundo.

Os principais adversários de Campos na campanha eleitoral, Dilma e Aécio Neves (PSDB), cancelaram os compromissos de campanha.

Todos os comitês de Dilma suspenderam as atividades após a confirmação da morte. “Estou absolutamente perplexo”, afirmou Aécio Neves no Rio Grande do Norte.

Caixa Preta
A Força Aérea Brasileira (FAB), responsável pela investigação do acidente aéreo afirmou que já foram extraídas e analisadas por quatro técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) as duas horas de áudio da caixa-preta do jato que conduzia o ex-governador pernambucano para o litoral paulista. Entretanto, segundo a própria FAB, a gravação da caixa-preta do avião com prefixo PR-AFA não é do voo de Campos e sim de um outro voo realizado dias antes.

Em nota, a Força Aérea afirmou que, até o momento, não é possível determinar a data dos diálogos registrados na caixa-preta encontrada em Santos, em razão de o equipamento não arquivar esse tipo de informação.

Mapeamento 3D
Após o acidente ter ocorrido, a Polícia Federal começou nesta sexta-feira (15) a escanear a área atingida pelo acidente aéreo que matou o candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas. As imagens foram registradas com a utilização de um drone, veículo aéreo com câmera não tripulado.

O mapeamento 3D foi feito a partir das primeiras fotos e vídeos que foram colhidos pelos peritos, com o objetivo de realizar uma possível reconstituição do que aconteceu minutos antes da queda do jato particular. Com o material coletado, a expectativa é que a Polícia Federal consiga entender e até percorrer com o equipamento o trajeto feito pela aeronave.

Cronologia Eduardo Campos - vale este (Foto: Arte/G1)

Moradores retornam
Os munícipes cujas casas foram atingidas e danificadas pelo jato particular após a queda começaram a retornar para suas moradias na madrugada de sexta-feira (15).

Alguns deles cogitaram a possibilidade de pedir indenização por prejuízos causados pela quada do avião. Além disso, um advogado e representante da Comissão dos Direitos do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), orientou que os moradores que tiveram algum prejuízo financeiro por conta do acidente podem pedir o ressarcimento.

Imóveis interditados
A Defesa Civil liberou na noite de quinta-feira (14) 11 de 13 imóveis que estavam interditados desde quarta-feira (13) por conta do acidente com o jato particular. A decisão foi tomada após a divulgação do laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que vistoriou o local durante todo o dia.

O secretário de Infraestrutura e Edificações de Santos, Nilson Barreiro, disse que os outros dois imóveis estão comprometidos e uma avaliação constatou que os dois imóveis não possuem condições de habitabilidade. Ambos serão notificados e a Defesa Civil aguardará um laudo dos proprietários para a reconstrução deles.

O primeiro imóvel é uma academia, que fica localizada na Rua Alexandre Herculano, o outro é um conjunto de três blocos na Rua Vahia de Abreu, onde um apartamento sofreu maior impacto e pegou fogo.

Avô morreu no mesmo dia
Nove anos antes, em 2005, no mesmo dia (13 de agosto), morreu o avô do presidenciável, Miguel Arrais, de quem Campos era herdeiro político.

Campos deixou o governo de Pernambuco em abril deste ano para concorrer à Presidência da República.

Segundo a mais recente pesquisa de intenção de voto do Ibope, divulgada no último dia 7, ele tinha 9% das intenções de voto, atrás de Dilma, com 38%, e Aécio, com 23%.

De acordo com a legislação eleitoral, o PSB poderá registrar em até dez dias outro candidato para substituir Eduardo Campos na disputa pela Presidência da República.

Como a partido da ex-senadora Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, não conseguiu registro a tempo para concorrer na eleição deste ano, ela se filiou ao PSB. Ela poderá substituir Eduardo Campos como candidata ou permanecer como vice.

Velório na sede do governo pernambucano
Os corpos dos ocupantes do jato chegaram na noite desta quarta ao  Instituto Médico-Legal (IML) central de São Paulo. Eles passarão por exames de DNA e de reconhecimento de arcada dentária antes de serem liberados para as famílias.

O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), viaja para São Paulo nesta quinta para ajudar no processo de identificação e traslado do corpo de Campos.

O velório será no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco. A família do político já decidiu que há uma missa campal, de corpo presente, na frente do Palácio. A área será interditada ainda nesta quinta.

Veja abaixo vídeos com a íntegra das entrevistas que Eduardo Campos concedeu ao Jornal Nacional nesta terça-feira (12) e ao G1na última segunda-feira (11).

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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