PENDÊNCIAS RN-Caern corre contra o tempo para ser atrativa ao capital privado Diretor-presidente da Companhia, Roberto Sérgio Linhares, estima que a oferta pública de ações poderá render até R$ 400 milhões ao Estado


Diretor-presidente da Companhia, Roberto Sérgio Linhares, estima que a oferta pública de ações poderá render até R$ 400 milhões ao Estado

José Aldenir/Agora RN

Diretor-presidente da empresa planeja a oferta pública de 49% das ações de estatal

Com um lucro líquido no exercício fiscal de 2019 pouco superior a R$ 30 milhões, a Companhia de Águas do Rio Grande do Norte (Caern) fará em abril próximo a primeira distribuição de lucros e dividendos, que beneficiará quase que exclusivamente os cofres do Estado, detentor de 99,8% de participação na companhia.

Mas o diretor-presidente da empresa cinquentenária, Roberto Sérgio Linhares, servidor de carreira da Caixa Econômica, quer mais, além de distribuir R$ 17 milhões e juros e dividendos que socorrerão providencialmente os esvaziados cofres do Estado.

Desde que assumiu, em janeiro do ano passado, Linhares se impôs uma meta de tirar o sono: trazer dinheiro privado para a companhia por meio de uma oferta pública de ações (IPO ou Initial Public Offering), o que exigirá mudanças radicais na governança de uma empresa tida por muitos como obsoleta do ponto de vista administrativo, apesar da defesa que Roberto Sérgio faz dos recursos humanos disponíveis.

“Temos pessoas da maior qualidade”, disse ele na última sexta-feira em entrevista ao editor Tiago Rebolo, âncora do programa Manhã Agora, da 97,9 FM.

O desafio de Linhares é transformar uma empresa com uma dívida crônica e muitos equipamentos e adutores caindo aos pedaços, até o final de 2018, para uma empresa sem dívidas (o que ele já conseguiu) e, principalmente, com uma governança comprometida com objetivos e metas comerciais de curto, médio e longo prazos.

Um trabalho hercúleo que, ele garante, não é para esse ano e cujos os resultados não serão também para os próximos dois.

Como a mulher de César, que não basta ser honesta, precisa parecer honesta, a Caern sob a batuta de Linhares precisará dar muito duro para que justifique a iniciativa do governo Fátima Bezerra de não privatizar a empresa, o que poderia render aos cofres do Estado até R$ 1,6 bilhão.

Durante a entrevista à 97,9 FM, o executivo estimou que o IPO minoritário, termo usado para definir uma oferta pública de ações restrita a 49% das ações totais, poderá render entre R$ 350 milhões a R$ 400 milhões.

Para explicar que, apesar da diferença contábil, faz todo sentido o Estado manter o controle da companhia, Roberto Sérgio Linhares apela para uma posição de princípio: não se privatiza um serviço público como a água num estado pobre e com as carências do RN no interior.

Ele sabe que este argumento também soará alto para os investidores, que serão convidados a colocar dinheiro na empresa. Daí o trabalho de formiguinha para preparar a Caern para os novos tempos.

“Antes de mais nada, precisaremos contratar uma consultoria para nos guiar nesse caminho”, admite ele para justificar um processo que ainda tem chão pela frente a percorrer.

Linhares reconhece o tamanho do desafio ao citar a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que protocolou no final do ano passado prospecto preliminar junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para realizar sua oferta inicial de ações, mas ainda espera ver algum dinheiro privado irrigar seus cofres.

Ao contrário da Caern, onde o controle estatal é quase absoluto, a Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece) tem controle do governo do Ceará, com 88,4%, que divide o restante com a prefeitura de Fortaleza, com 11,4%.

Para vencer essa luta épica, Roberto Sérgio Linhares vem tornando os conselhos da companhia independentes do governo do Estado, bem como se certificou que tanto o conselho fiscal como o comitê de auditoria operassem livres de pressões e contaminação política.

“Hoje, pode-se dizer, temos um comitê de ética ativo e podemos demitir por justa causa e suspender colaboradores que não andarem na linha”, assegura ele, para concluir assim: “Quem for pego levando propina está fora”.

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