PENDÊNCIAS RN-A gastronomia poderia ser um bom diferencial’
Um estudo sobre o destino Natal a partir do ponto de vista de quem vende o destino aos turistas, em São Paulo, mostra que o cenário poderá ser promissor para retomada de crescimento do setor. A dissertação de mestrado em gestão do Turismo, do economista Gustavo Porpino demostra gargalos e oportunidades para que o poder Público em parceria com a iniciativa privada possa investir para reverter o atual quadro e ainda aproveitar a alta do dólar. Ex-presidente e coordenador de Promoções da Emprotur, ele defende o investimento em promoção e divulgação, além de criar um diferencial competitivo em relação aos destinos de Estados vizinhos. “O estudo mostrou que Natal não tem diferencial atrativo. Mas um ponto que poderia se tornar oportunidade para isso é a gastronomia. Explorar o turismo gastronômico, criar uma referencia na excelência de serviços”, afirma. A redução do ICMS do querosene de aviação é considerada, pelo especialista como um dos pontos sanados para atribuir competitividade. Eis a entrevista:
O senhor desenvolveu um estudo sobre o Turismo de Natal, a partir da percepção dos operadores de turismo de São Paulo sobre o turismo local. Quais os resultados?
A minha dissertação de mestrado abordou esse tema. São Paulo é o principal emissor de turistas do país e também para o Rio Grande do Norte e a partir dessa percepção trabalhei para analisar o posicionamento estratégico do destino Natal. Ouvi em entrevistas os presidentes e diretores de operadoras de turismo, o perfil da demanda de turista que compra Natal, o comportamento do fluxo turístico, compreender a percepção desses operadores sobre o destino e analisar os destinos concorrentes Fortaleza (CE), Porto de Galinhas (PE) e Maceió (AL), tanto do ponto de vista positivo, quanto negativo.
E como Natal está posicionada em relação aos concorrentes. É um destino mais promissor?
Dos quatro destinos, Porto de Galinhas é o que está melhor preparado em infraestrutura turística entre os quatro destinos pesquisados. Com boa oferta da hotelaria, cadeias de todos os níveis e bolsos, belezas naturais, atuação elogiada dando prioridade ao turismo interno, dentro de uma política de Governo de Pernambuco. Lá o turismo passou a ser prioridade de Governo. A capital cearense tem um diferencia que é o Beach Park, que atrai muito o paulistano. Se comparado com Fortaleza e Porto de Galinhas, devido Recife, Natal perde no preço. Com as tarifas aéreas mais caras. Enquanto Porto de Galinhas e Fortaleza, têm como vantagem uma tarifa aérea mais atrativa, tanto pelo número de voos, quanto pelos tipos de turistas, seja corporativo, de lazer. A tarifa aqui é bem mais elevada.
Maceió é de mesmo porte. Está em vantagem em relação a Natal?
Maceió também tem a tarifa mais alta, por ser de médio porte. Mas nos últimos anos, Maceió teve um incremento de novos hotéis, em Maceió e Maragogi. Lá, a condição do turismo foi considerada satisfatória por estes operadores. Lá o empresariado tem um diálogo direto com a secretaria de Turismo de Maceió, que levou a se apresentar de forma mais satisfatória, participando das feiras, fazendo o marketing turístico.
Natal seria o destino menos atrativo? Qual a vantagem para atrair o turista?
O estudo mostrou que Natal não tem diferencial atrativo. Mas um ponto que poderia se tornar oportunidade para isso é a gastronomia. Explorar o turismo gastronômico, criar uma referencia na excelência de serviços. Natal tem dois grandes gargalos, apontados pelo estudo. Não é competitiva devido a tarifa aérea elevado. E o outro gargalo de promoção turística sistêmica nos últimos anos que faz que, não só não tenha divulgação, como também saia da prateleira de destinos vendidos pelas operadoras. Além disso, foram apontadas como questões de peso negativos, infraestrutura desejável, ainda pareceu mas de forma pontual a prostituição, além da falta de investimento do poder público, mídia negativa nos últimos anos nos serviços essenciais de saúde e educação e a inércia do destino.
A prostituição ainda permanece atrelada ao destino turístico Natal?
Não. Foi um comentário pontual.
Na última semana, o governador autorizou a redução do ICMS do querosene de aviação. E Qual é impacto desta medida na retomada dessa competitividade?
Deve sanar esse gargalo. É o que esperamos. Essa redução faz com que o custo do voo seja reduzido e as empresas aéreas tenham uma margem maior para baixar o custo da tarifa aérea para Natal. Em João Pessoa, esta medida atraiu, de imediato, só com a TAM, mais quatro voos. Esperamos que o mesmo ocorra aqui com passagens mais baratas e aumento da malha aérea.
A falta de promoção e divulgação é sempre apontada pelo trade turístico como principal motivo para a queda do setor. É, de fato, o principal problema?
É um dos grandes problemas. Mas também há a expectativa que com o anúncio do Governo destinar parte da verba de publicidade institucional para promoção turística, esse gargalo também seja sanado. É bastante animador.
Estas duas medidas bastam para a retomada do crescimento só setor? São necessárias outras ações?
É necessário também uma captação dos agentes de viagens que vendem Natal. É preciso mostrar, promover, capacitar para vender melhor Natal. Mostrar os novos atrativos, que nem sempre são trabalhados.
É preciso criar novos produtos, além do tradicional sol e mar?
Segundo os operadores, não. É preciso vender, divulgar mais. Antes de desenvolver novos nichos é preciso fortalecer o que se tem. Natal por si só é fácil de vender, no ponto de vista dos operadores, por fatores que vão desde o apego do destino, as belezas naturais, a hospitalidade do potiguar, a qualidade da rede hoteleira, com mais de 30 mil leitos, o que é um diferencial positivo frente aos concorrentes. Em Fortaleza, há cerca de 20 mil. O que falta aqui são mais resorts, há apenas um com sistema all inclusive voltado para o público. Por ser uma cidade pequena, com praias dentro da própria cidade. E a excelência gastronômica dos restaurantes. Isso tudo que dá um ânimo para que se faça um trabalho de política de turismo é possível avançar. Agora para vender é preciso investir em promoção.
E a quem cabe financiar essa promoção, somente ao Estado?
Não. O ideal que isso seja feito em conjunto. O papel do poder público é de ser condutor, o fomentador, que deve dirigir, coordenar as ações. Mas em conjunto comas demais entidades, o trade turístico que tem 52 segmentos. Porque só se tem resposta se o Estado, e entenda-se Governo do Estado e Prefeituras, além da iniciativa privada, com associações e empresários da cadeia produtiva também estiver envolvido desde onde os investimentos devem ser feitos. Não deve ser uma ação isolada.
Em meio a conjuntura econômica, quais as perspectivas para o turismo potiguar em 2015? Pode haver crescimento?
O cenário é desafiador devido a economia nacional, mas com a redução do ICMS querosene da aviação, deveremos ter um ponto sanado. E esperamos ter uma política de divulgação e promoção que possa trazer resultados afirmativos. Eu sou bem otimista que vamos voltar a crescer.
Há que se deve esse otimismo? Há como mensurar esse crescimento, em meio a um cenário de retração da economia, alta de juros, inflação, aumento de insumos como combustível, energia?
Não há uma projeção. Deverá ser um ano difícil, com o cidadão receoso, mas acredito que esta alta de dólar poderá reverter esta situação. E mesmo depois da crise de 2008, o turismo, as viagens já passaram a fazer parte dos gastos do brasileiro. O que se faz é adequar as viagens para onde está mais atrativo, se estar mais caro a Europa, vai para os Estados. Se não dar para ir para os Estados Unidos, se busca a América do Sul. Se não pode ir à Argentina, vai fazer o turismo interno. É preciso avaliar quais os mercados são mais atrativos. Mas continuam a viajar.
Nesse contexto, como esta disparada do dólar deve influenciar o setor?
A alta do dólar absurda fará com que as pessoas repensem viagens ao exterior e estimule o turismo doméstico. Mais pessoas viajaram pelo Brasil.
O que é necessário, então, para Natal aproveitar este variação cambial a seu favor e retomar o fluxo de turistas, visto em anos anterior?
Precisa se mostrar. Um planejamento de curto prazo para atrair turistas em regiões em com menor atração como a região Sul, que tem um poder aquisitivo mais elevado e clima diferente que poderia ser apresentado como ponto atrativo. Hoje nosso fluxo de turistas vem das regiões Sudeste, no Nordeste dos estados vizinhos e do Centro-Oeste. Mas principalmente, o turismo deve deixar de ser tratado de forma complementar e tornar-se prioridade com uma política de Governo que garanta planejamento, orçamento e investimentos no setor.
Qual o perfil do turista paulistano que compra Natal?
São famílias, casais em lua-de-mel, turistas em férias e lazer. E mais preponderante os turistas da classe B, seguido pela C e em terceiro, o A, já que este último não tem tanta preferencia por sol e mar, e os que se interessam fazem opção pelo sistema ‘all inclusive’ (tudo incluído). Esse perfil influencia também no gasto médio que poderia ser maior.
Quem
Nome: Gustavo Porpino
Idade: 42 anos
Formação: É economista com mestrado em gestão do Turismo pela UFRN
Por onde passou: Foi coordenador de desenvolvimento do Turismo da Sectur, ex-diretor de marketing e ex-presidente da Emprotur e atua como consultor da Argus Eventos de Turismo.
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