Depois de oito anos ausente, Judas Tadeu deixa claro nessa entrevista à TRIBUNA do NORTE que estará de volta ao cenário político alvinegro. Ele disse que as reuniões em busca de um nome de consenso estão esbarrando nas imposições dos grupos adversários e que a tendência é mesmo a realização de uma disputa eleitoral. Na visão de Judas, o único nome que poderia evitar esse choque no dia 14 de dezembro seria o do conselheiro Antônio Gentil, mas este já avisou não ter tempo para se dedicar ao clube devido suas ocupações. Acompanhe agora os principais trechos da entrevista do candidato de oposição ao cargo máximo do Alvinegro.

Jean FábioJudas Tadeu – pré-candidato à presidência do ABC

O ABC está perto de sua eleição, se vê um ambiente político conturbado e gostaria de saber se há chance ainda para um entendimento entre as partes?
Já fui convidado para três ou quatro encontros com membros da atual gestão e com a participação de Bira Rocha, um expoente na história do ABC. Considero o chamamento dele uma ordem, então fui a três encontros onde a pauta era o processo eleitoral do clube. As conversas estão progredindo, mas a ideia inicial de uma eleição consensual não foi definida. Levei  a meu grupo todas as propostas de Bira Rocha, Agnelo Filho, Arturo Arruda, Ricardo Rocha, mas não chegamos ao tal consenso. Se por acaso ele não ocorrer, espero que a eleição transcorra de forma tranquila. Eu vou participar do processo eleitoral.

Há chance de o ex-presidente Judas Tadeu não se candidatar?
Isso está sendo discutido com o grupo de doze pessoas que são sócios e também conselheiros do clube. Estamos conversando quase que diariamente buscando uma saída, nesse grupo que me dá apoio eu sinto que a minha candidatura é um consenso e espero que nesses próximos dias possa dar essa resposta definitiva a eles. Estou refletindo e conversando muito com a minha família e amigos próximos, com os conselheiros mais experientes também.

Augusto Azevedo, candidato à presidência do conselho deliberativo pela chapa da situação, disse acreditar que pode se chegar ao ponto de conciliação. O que Judas Tadeu acha?
Nós entendemos que consenso não suporta imposições, o nome já diz e as duas partes têm de ceder em determinados pontos. Infelizmente essa tem sido a maior dificuldade de ambas as partes.

Nestes encontros, você sentiu de certa forma a tendência de veto ao nome de Judas Tadeu para se chegar a um entendimento?
Eu tenho comentado que meu nome não é obrigatório no processo. Fui convocado por um grupo de sócios do ABC insatisfeito com o atual momento do clube para disputar a eleição. Eu já disse isso a eles, mas o grupo já está formulando um plano de gestão, com bastante cuidado e isso já está sendo feito com meu nome encabeçando a chapa. Sinto que se trata de uma decisão irreversível do grupo e não havendo o consenso deverei mesmo disputar a eleição.

Quem seria um nome que poderia deixar o candidato Judas Tadeu fora dessa eleição?
Antônio Gentil! Um empresário vitorioso, tive a oportunidade de acompanhar a carreira empresarial dele e tenho acompanhado também a postura dele como grande abecedista, um conselheiro atuante e se trata de uma pessoa que deseja o melhor para o ABC. Eu conversei com Gentil várias vezes, mas ele está resistente. Esse sim seria um nome de consenso hoje dentro do ABC, acredito.

O nome de Antônio Gentil já foi colocado em alguma reunião com o grupo da situação? E se foi, por qual motivo não foi aceito?
Foi colocado em várias reuniões que participamos, inclusive com a presença do próprio Antônio Gentil no encontro. A gente sente que ele tem boa penetração de ambos os lados, em todos os seguimentos do clube. Mas alegando falta de tempo para cuidar das coisas de um clube como o ABC, Gentil vem declinando do convite. Porém estamos insistindo, acredito que neste momento seria o nome mais preparado para assumir o comando do ABC.

Ocorrendo a eleição, você acredita que será um pleito com fogo cruzado e sem limites ou seriam realizadas discussões apenas em torno dos problemas referentes ao ABC?
Particularmente eu não tenho a menor experiência em pleitos eleitorais. Fui convidado algumas vezes para participar da política partidária e concorrer a uma vaga de vereador, mas nunca aceitei. Também nunca participei de uma eleição no ABC, todas as vezes que cheguei ao poder foi por aclamação, essa será a minha primeira eleição, não participei de campanha nem para grêmio estudantil. Mas se por ventura meu nome for confirmado para essa disputa, espero que seja uma campanha limpa, sem agressões. Uma campanha onde os candidatos possam apresentar propostas para gerir bem o clube. No meu caso pretendo apresentar o plano de gestão que está sendo feito pelo grupo que me apoia e que pretendo seguir à risca com a finalidade de recuperar a autoestima dos torcedores abecedistas, que nos últimos quatro anos não viram o clube ganhar nada.

José Adécio que participou de algumas reuniões no grupo de vocês, saiu de lá atirando e dizendo que vocês se tratavam de uma oposição raivosa e sem propostas para o ABC. Como você encarou essas declarações?
O conselheiro José Adécio está cometendo um equívoco. Ele realmente participou de vários encontros do nosso grupo e dizia que poderia se candidatar à presidência do ABC apenas em 2018. Isso no início desses encontros. De repente ele mudou de opinião e queria ser apontado como o candidato da oposição já. O grupo avaliou que o meu nome seria mais adequado, de qualquer forma respeitamos a opinião do conselheiro e a decisão de concorrer ou não ao pleito será unicamente dele.

Judas Tadeu de alguma forma se sente injustiçado no ABC?
Futebol e o ABC são muito complicados. Cheguei ao clube no final de 1996 oriundo das arquibancadas. Me transformei em sócio, conselheiro, fui vice-presidente de Leonardo Arruda e cheguei à presidência. No período conquistamos oito títulos estaduais, mais três Copas RN, dezenas de títulos nas categorias de base, participamos de nove Taça São Paulo e participamos ativamente da construção do Frasqueirão, tive o privilégio e a satisfação de conduzir a construção do complexo esportivo Vicente Farache. Costumo dizer que o ABC sempre foi grande, mas a vontade de crescer surgiu mesmo a partir do evento Frasqueirão. O ABC é emoção, povo, a massa que é uma torcida exigente e temos de conviver com vitórias, sem ela não haverá reconhecimento. Eu não sei se comigo ocorreu injustiça ou ingratidão. Nós tivemos a ingratidão de alguns personagens que formam a vida do ABC, apenas alguns.

A história da venda de todo potencial construtivo do terreno, é um exemplo disso?
Pode ser sim, nós temos a consciência de que fizemos tudo com a orientação de pessoas abalizadas dentro do clube para realizar a negociação, com autorização do corpo de conselheiros. Formaram uma comissão de obras para acompanhar todo o processo com a coordenação de José Wilson e participação efetiva de Paulo Tarcísio, atual diretor de patrimônio do clube e presidente em exercício, e do próprio ex-presidente Paiva Torres que era também membros da comissão de obras. Portanto estou tranquilo, sossegado, não tenho preocupação. Sei que vão explorar essa situação, mas todos esses personagens participaram da negociação, não foi Judas Tadeu que fez isso de forma aleatória, tenho certeza que nenhum dos componentes citados obtiveram lucro com a negociação. A história seria debatida no conselho, mas não progrediu. Eles não iriam chegar a lugar algum, quem participou pelo lado do ABC dessa transação está acima de qualquer suspeita.

Caso eleito, Judas Tadeu acredita que pegará um ABC melhor ou pior do que você deixou?
No futebol são quatro anos sem resultados expressivos e nós não estamos acompanhando a situação financeira dessa equipe de perto. Nesse momento queira Deus que o ABC fique na série B e que possa recuperar a situação com dinheiro garantido em caixa, caso contrário poderemos perder até 70% das receitas atuais. Então pelo que se acompanha e com uma dívida trabalhista altíssima certamente iremos encontrar um ABC pior do que entregamos.