Em entrevista esta semana a uma emissora de rádio de Natal, o juiz Herval Sampaio Júnior comentou o recente escândalo da Petrobras. Ele disse que o modus operandi do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal já foi tratado no livro do colega Marlon Reis. Herval, que lançará amanhã em Natal seu livro “Abuso do poder nas eleições – Triste realidade da política (agem) brasileira” (veja detalhes abaixo), defendeu que as revelações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras venham a público antes do dia 5 de outubro, para que eventuais implicados que estejam concorrendo nas eleições deste ano sejam avaliados pelos eleitores.

O juiz cobra das autoridades competentes o acesso do público às informações. “Eu defendo o direito do povo saber, o direito do povo definir sem prejudicar ninguém”. Na visão do magistrado, quem está delatando o esquema na Petrobras “não é ninguém teoricamente com interesse de derrubar ninguém, mas um réu que é acusado, alguém que já disse, segundo a imprensa, que tem 23 milhões de dólares a devolver. É um parceiro dentro da atividade criminosa, o que é um absurdo, inclusive com todo o respeito que eu tenho a quem pensa ao contrário”.

Herval diz que não roubar não é qualidade, mas o básico, mas os valores estão distorcidos. Além disso, defende que o momento conturbado da política, com tanta roubalheira, cobra a indignação das pessoas. “Eu não posso ter como qualidade não roubar. Isso não é qualidade nenhuma. Isso é o básico do básico”. “A pessoa tem o direito a presunção de inocência e evidentemente que uma informação dessas, se não for verdade, depois da eleição, algum candidato poderá ser prejudicado, isso é indiscutível. Só que eu entendo que o momento, nesta política brasileira, está tão conturbado, que nós precisamos passar a limpo, precisamos da capacidade de nos indignar”, afirma.

Com a experiência de ter presidido várias eleições, Herval afirma que “está acontecendo muita corrupção e desvio de dinheiro público”. Sua declaração: “O povo brasileiro nunca se revoltou e o que está acontecendo é muita corrupção, muito desvio de dinheiro público e a gente não se indigna. Nós achamos normal ao ponto da grande qualidade desses políticos, nestes horários eleitorais, dizer que não vai roubar. Pelo amor de Deus! Dizer que é honesto deveria ser uma coisa normal. Isso deve ser essência de quem deve exercer o cargo público”.

LANÇAMENTO

Herval lançará nesta sexta-feira o livro “Abuso do poder nas eleições – Triste realidade da política (agem) brasileira”. O livro aborda o problema do abuso de poder em três esferas: econômico, político e midiático e a importância da justiça eleitoral nesse contexto. Na oportunidade haverá também o lançamento do livro “Nobre Deputado – um relato sobre como nasce e se perpetua a corrupção na política brasileira”, do juiz do Maranhão Marlon Reis, que confirma presença.

“O cidadão participa da corrupção eleitoral, mas podemos mostrar a ele que isso é errado. Podemos chegar para ele dizendo ‘meu amiguinho, minha amiguinha deixa de pedir as coisas para você. Vamos pedir mais saúde, vamos pedir mais para quando você estiver doente. Vamos pedir segurança que ninguém aguenta mais. Pedir mais educação”, conclama Herval, que conta com experiência judicante de 15 anos como juiz, já tendo participado de nove eleições consecutivas, incluindo as eleições suplementares em Mossoró este ano.

Segundo o magistrado, uma das grandes dificuldades da atualidade é o cumprimento da lei. “A classe política e o povo insistem em tratar o processo eleitoral como um negócio, quando, segundo a nossa Constituição e leis eleitorais, as eleições se constituem como o momento mais importante de consagração da democracia, no sentido mais amplo possível”, afirma.

No livro, ele relata alguns casos de crimes eleitorais ocorridos no RN. A obra traz ainda explicações de temas como a compra de voto, uso da máquina administrativa, nomeação de parentes de candidatos, da propaganda irregular e troca de favores por interesses eleitoreiros. O livro será lançado amanhã, a partir das 9 horas, na Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.