MACAU RN-Porque o mercado escolheu Goldfajn


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Por Andre Araujo 

PORQUE O MERCADO ESCOLHEU GOLDFAJN – O Brasil tem as condições ideais para o mercado internacional de apostas financeiras de arbitragem: sólidas reservas em moeda conversível; quase 400 bilhões de dólares; uma economia em crise de produção mas que tem ativos em recursos naturais que garantem a solvência a longo prazo.

Faltava apenas um ingrediente: a previsibilidade das regras cambiais. Este fator foi assegurado pela colocação de um típico homem de mercado como presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cuja primeira démarche já realizada junto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é pedir para que faça tramitar o projeto que garante 4 anos de mandato ao Presidente do Banco Central.
Esse projeto já existe, está parado na Câmara e seu autor é o próprio Rodrigo Maia.
Os leigos vão achar que Ilan Goldfajn foi escolhido por competência, este é o pre-requisito e não fator de escolha. Há no Brasil  duas centenas de economistas-executivos com currículos equivalentes, diploma PUC Rio, mais pós graduação no MIT, Wharton, Chicago ou Carnegie-Mellon, entre as preferidas no circuito Ivy League de escolas de economia que dão grife.
O pêndulo de decisão foi a segurança de previsibilidade. Frente ao BC, Ilan vai se dedicar exclusivamente à estabilidade da moeda através do modelo de metas de inflação,  o melhor entre todos para garantir previsibilidade ao mercado financeiro. Não vai dedicar um minuto de sua ação para estimular crescimento ou emprego, não está no seu radar, aliás ele é honesto e deixa muito claro que seu único compromisso é trazer a inflação para o centro da meta, o que significa juros básicos altíssimos valorizando o Real.
Isso prejudica as exportações e o emprego, mas ajuda a trazer a inflação à sacrossanta meta tão adorada por Ilan e pelo mercado e, com isso, aumenta enormemente  a dívida pública em dólares, o que é prejuízo concreto a cada contribuinte e enorme beneficio aos credores do Brasil.
Quem tinha uma LFT de 10.000 Reais, hoje tem US$3.370 dólares, quando a mesma LFT há três meses foi comprada há 90 dias por US$2.777. Quer dizer que o investidor, sem sair da cadeira, ganhou os juros no período e mais a valorização absurda de quase 600 dólares no papel de apenas R$10.000  com a equivalente perda para o Tesouro brasileiro.
Goldfajn é essencial para esses ganhos extraordinários, portanto é a peça chave para os detentores de papéis da dívida publica brasileira no exterior. Ele é a garantia de ganhos fenomenais para os aplicadores ou os bicicleteiros que tomam dólares emprestados, compram títulos em reais, ganham juros muito superiores ao que vão pagar ao emprestador e ainda ganham um bônus espetacular pela valorização cambial no período. Não há negocio igual no planeta.
Goldfajn vai dar a garantia aos especuladores de que as regras cambiais não mudam enquanto ele estiver no BC mas ele, melhor do que ninguém, sabe que esse jogo vai ser desastroso para o País e que pode ser escorraçado pela sensibilidade dos políticos como foram Gustavo Franco e Chico Lopes, demitidos em meio a super crises cambiais provocadas por apostas erradas na valorização do Real,  enquanto o Pais estourava por conta exatamente desse tipo de jogada de valorização do real.
Ao se valorizar o Real a população precisa ter como algo claro que as dívidas em Real ficam muito mais difíceis de pagar, inclusive a dívida maior do País, a do Tesouro, e ficam também mais difíceis de pagar as dívidas de empresas e famílias.
Quando o Real valoriza todos ficam devendo mais aos bancos, estes ficam muito mais ricos e a população muito mais pobre.
Os “economistas-de-mercado” sempre pregam pela mídia que a inflação baixa é boa para o pobre mas eles só contam matade da história, não dizem que a inflação baixa é péssima PARA QUEM JÁ ESTA DEVENDO e hoje a maior parte das famílias brasileiras está muito endividada e, portanto, a inflação quanto mais baixa mais aumenta a dívida real de cada família e beneficia o lucro dos bancos.
A inflação baixa não tem só um lado bom, o lado perverso pode ser maior. Por que a previsibilidade do Banco Central é boa para os especuladores e péssima para o País? Para os especuladores saber como o Banco Central vai agir NEUTRALIZA UM DOS FATORES DE RISCO que eles não podem controlar. Ficam os riscos da volatilidade financeira internacional que é essência das apostas e ai eles usam sua expertise e suas conexões para combinar as apostas. Vence o mais sortudo.
Para o País, o FATOR SURPRESA é a maior arma de um banco central, NÃO SER PREVISÍVEL É UMA ARMA A FAVOR DO PAÍS e contra a especulação.
Não podendo controlar esse fator, a especulação tem um fator de risco a mais que aumenta muito a incerteza do jogo, tornando-o muito mais perigoso para o especulador. E se o BC impor numa noite o controle de saídas ou a quarentena de entrada, à moda chilena?
Nenhum País importante ABRE MÃO DO FATOR SURPRESA da Autoridade Monetária CONTRA O MERCADO, é uma arma a favor do País. Poder surpreender o mercado é fundamental, é uma carta na manga que o BC sempre pode usar, não é algo de país desorganizado, é um instrumento de poder da Autoridade Monetária, da qual o Pais nunca pode abrir mão.
Foi assim que os EUA deram uma rasteira no mundo ao abolir o lastro ouro do dólar em 1973. O Tesouro americano não garantiu regra nenhuma e essa era regra escrita para Um Banco Central, seja ele dos EUA ou da Inglaterra ou da China, basta está no LADO OPOSTO DO MERCADO, por definição.
O mercado, por definição, aposta contra o Banco Central. A base da fortuna de George Soros, por exemplo, foi sua aposta contra o Banco da Inglaterra, onde ganhou numa só tacada um bilhão de Libras. Se o especulador não sabe como o Banco Central vai agir, fica muito mais cauteloso. Se ele sabe como o BC age, é a festa da uva e quem perde é o País, sempre.
O que o mandato fixo de 4 anos significa para o mercado é algo muito claro: ‘Por quatro anos o Estado não pode confrontar ou controlar o mercado e por 4 anos o mercado pode determinar os rumos da política cambial e monetária do Brasil”.
O “mercado” no caso é aquele comandado de fora do País, por Wall Street e pela City de Londres”. Nem meu amigo Roberto Campos, criador do Banco Central do Brasil, nos seus maiores delírios, pretendeu coisa semelhante. Ele jamais confiaria entregar tal poder de chave na mão para alguém que nem precisa de passaporte brasileiro e que amanhã pode ir morar no Canadá, dizendo “tchau Brazil”.
Portanto ter no Banco Central alguém como Goldfajn, alma, passaporte, cara, currículo de mercado de cambio é o sonho da especulação.
Pode-se prever qualquer ato dele. É o homem  -relógio no BC, só falta assegurar que ele fique grudado na cadeira por 4 anos e é essa sua primeira missão, já falou com Rodrigo Maia.
É uma prioridade dele, quando nem trocou o sabonete do lavatório, mas já quer garantia de que ficará até 2020.
Presidentes de Banco Central em PAÍSES EMERGENTES não tem garantia de mandato. Países emergentes são mais frágeis diante do mercado financeiro internacional, seja Russia, Índia, China, Indonésia, Paquistão, Africa do Sul e o controle do banco central é uma ferramenta crucial de segurança para os Governos. Dar mandato fixo é abrir mão de poder, algo impensável para países nesse importante grupo de potências.
Na Russia o poderoso Governador do Banco Central, Viktor Garashenko quis tentar ser independente demais e foi despachado por Putin, submetendo o BC ao estrito controle do Ministro da Fazenda Sergei Igntiev, controle que continua firme até hoje. A atual presidente do Banco Central da Russia, Elvira Nabiulina, é dócil executora das ordens do governo de Moscow.
O Reserve Bank of India, que fica em Mumbai, opera em coordenação com a política econômica do Governo em Nova Delhi. Esse Banco tem um Board muito mais arejado que o do nosso BC, dos dez membros, seis vem da economia produtiva, não são “economistas de mercado”, como aqui. O presidente é Ragurhab Rajan, assessorado por quatro diretores. Nos estatutos e na prática, o Reserve Bank é um braço da política econômica do Governo da Índia, voltado para o desenvolvimento do País.
Lá, espera-se do BC um papel relevante para impulsionar o crescimento. Isso é parte da historia do Reserve Bank, que começa ainda sob domínio britânico, fundado em 1936. Aliás o banco não é fanático no tema inflação.
Na China nem precisa falar, o People´s Bank of China tem como seu presidente Zhou Xiaochuan, apontado pelo Comité Central do Partido Comunista e pode ser demitido pelo telefone. Portanto nenhum dos países-chave do grupo dos emergentes dá “”mandato”” seguro para o reizinho do BC.
O que Goldfajn quer só existe na cabeça dele e do mercado. Veja-se o caso do próprio Brasil, dois Presidentes do BC foram tirados a força da cadeira em meio a mega crises, Gustavo Franco e Chico Lopes, e não queriam sair mesmo sendo demissíveis.
E se um Presidente do BC quiser uma politica frontalmente oposta a do Governo? E se ele ficar doido?  Governo é governo, “autonomias” são vendidas como coisa boa sem nenhuma prova dessa santidade.
Nos países centrais a lógica é outra mas mesmo nos EUA onde o Chairman do FED tem mandato de sete anos, houve dois casos de demissão no meio do manto, NA MARRA, mesmo não podendo ser demitido. Os casos foram de Eugene Meyer, no Governo Franklin Roosevelt, em 1953, porque Roosevelt queria uma política monetária expansionista com a qual Meyer não concordou.
O segundo caso foi de Thomas McCabe, no Governo Truman, em 1951,  quando o Secretario do Tesouro não concordou com uma pretendida alta de juros pelo FED.
Esses presidentes do FED saíram antes da metade do mandato de 7 anos, “”na porrada””. Essa história de “independência” do BC é para contos como o de Alice no País das Maravilhas, que os economistas brasileiros com curso de PhD nos EUA adoram contar.
Nenhum governo importante abre mão do poder sobre a economia. É função de governo, e não de burocratas, especialmente burocratas parceirizados com o mercado. A dupla Meirelles+ Goldfajn será o epicentro da próxima crise pós impeachment. Dois nomes errados em hora errada, o Governo deve ter uma fórmula simples: os preferidos do mercado devem ser sempre RISCADOS DA LISTA de cargos da equipe econômica.
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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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