MACAU RN-Análise: Ensino brasileiro: muito gasto para pouco resultado Brasil investe percentual maior do que a média dos países desenvolvidos, mas está entre as piores colocações em avaliações de qualidade de ensino


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Dizer que o nosso país investe pouco em educação é ignorar os fatos. O Brasil destina cerca de 6% do PIB à educação, enquanto a média dos demais países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 5,5%. Apesar disso, a posição dos alunos brasileiros no Pisa, programa que é referência mundial em avaliação de ensino, fica pior a cada edição.

Em 2018, o programa contou com a participação de 79 países e coube ao Brasil as seguintes colocações: 59º lugar em leitura, 70º lugar em ciências e 66º lugar em matemática, considerando a média das faixas do país no ranking. Enquanto o investimento aumenta, as colocações dos alunos brasileiros caem.

Segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2009 o governo federal destinou R$ 18 bilhões para a educação e, em 2018, a cifra saltou para R$ 39 bilhões, mais do que o dobro. Ainda assim, 50% dos estudantes de 15 anos no país não chegam a atingir o mínimo esperado de proficiência em leitura no ensino médio. Veja que não estamos falando de que metade dos alunos está abaixo da média, mas sim, que não atingiram nem sequer o mínimo esperado.

Sendo assim, para onde vão os bilhões gastos com educação e por que quanto mais se investe, piores são os resultados? Segundo levantamentos, de cada R$ 100 destinados ao ensino, R$ 85 são gastos com pessoal. Além da folha de pagamento levar 85% da verba, José Marcelino de Rezende Pinto, pesquisador sobre financiamento da educação, afirma que há muitas fraudes no orçamento e que os desvios mais comuns acontecem nas construções e reformas de escolas e nas contratações de transporte e merenda.

Para alguns especialistas, o Brasil teria um “fator histórico”, pois ao não ter investido durante séculos em educação, possui uma demanda maior do que países que erradicaram o analfabetismo há mais de 200 anos. Mas este não parece ser um argumento lógico quando analisamos que o ensino no Brasil vem decaindo a cada ano que passa. Ou seja, não estamos apenas crescendo mais devagar, estamos ficando piores do que já éramos.

Cabe aos pais e aos alunos se conscientizarem de que é preciso buscar conhecimento de forma alternativa e autodidata, pois no que depender do ensino público, estamos como quem enxuga o chão com a torneira aberta. As famílias precisam apostar cada vez mais em outros meios para o aprimoramento do conhecimento, pois, ao que tudo indica, o interesse de boa parte dos gestores está muito mais em se apoderar dos investimentos do que em investir para empoderar os alunos.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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