MACAU RN-A culatra do impeachment, por Marcos Nobre
Jornal GGN – Marcos Nobre, professor de filosofia política da Unicamp, diz que as forças anti-Dilma demoraram para perceber a “mera rejeição generalizada” não seria suficiente para tirar a presidente do poder. Ele diz que, quando se trata de impechment, a corrupção tem “precedência sobre qualquer outro tipo de calamidade”. Em sua coluna no Valor, Nobre também argumenta que as forças pró-impeachment erraram no cálculo ao mirar extensivamente no ex-presidente Lula, tirando o governo do foco, “dando-lhe certo alívio”. Leia mais abaixo:
Do Valor
Marcos Nobre
Alguém precisa levar a culpa por toda a desgraça de 2015. Dilma Rousseff era a candidata natural. Mas as forças anti-Dilma demoraram demais para perceber que, quando se trata de impeachment, corrupção tem precedência sobre qualquer outro tipo de calamidade. Acreditaram que a mera rejeição generalizada seria suficiente para derrubar a presidente, como se as razões e motivações importassem pouco diante do sofrimento presente e futuro. Só que, desde o afastamento de Fernando Collor, parece ter decantado a convicção de que apenas indício de prática manifesta de corrupção justifica o impeachment.
No caso de Dilma, mesmo com a agonia diária, o tempo passava e nenhum indício surgia de que a presidente tivesse envolvida em prática de corrupção. Foi quando os movimentos próimpeachment deslocaram suas energias para atacar Lula. Convenceramse de que o expresidente seria pego na Operação LavaJato, o que equivale hoje a um atestado de culpa no cartório. Essa mudança de alvo principal ganhou ímpeto e força ao reverberar fundo em uma parte do eleitorado que quer ver Lula bem longe do jogo político. Foi quando surgiram os bonecos gigantes. Primeiro, o de Lula. Só depois, o de Dilma, como uma espécie de coadjuvante.
O cálculo das forças pró-impeachment se mostrou duplamente equivocado. Colocar a presidente em segundo plano apenas tirou o governo do foco exclusivo da pancadaria, dandolhe certo alívio. E a Lava Jato não atingiu Lula, o que enfraqueceu a nova linha de atuação. Isso deu chance de o governo se reorganizar, agora sob a direção do próprio Lula. Não bastasse esse duplo equívoco, as forças próimpeachment foram estabelecer uma aliança tática justamente com o único personagem que preenchia os requisitos da opinião pública para sofrer um impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
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