Foto: Alex Régis/ Tribuna do Norte
Uma paralisação de 24 horas nas atividades da Petrobras está marcada para ocorrer hoje (24) em todo o país. No Rio Grande do Norte, a estimativa do Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras (Sindipetro/RN) é paralisar aproximadamente de 12 mil trabalhadores do setor. As entidades sindicais que organizam a greve são contra a aprovação, pelo Congresso, do Projeto de Lei do Senado nº 131/2015, de autoria do senador José Serra (PSDB), que propõe a redução do papel da Petrobras na exploração do Pré-Sal. A mudança, de acordo com os petroleiros, significaria a geração de prejuízos incalculáveis para a sociedade brasileira. Além disso, os petroleiros são contra o Plano de Negócios e Gestão 2015/2019 publicado este ano pela companhia, que a venda de ativos e a redução do volume de investimentos para amortização das dívidas.
Entre os ativos, estão aproximadamente 80 campos maduros de petróleo explorados no estado potiguar. A venda dos campos, muitos deles descobertos há três décadas, geraria uma crise financeira sem precedentes no Rio Grande do Norte, visto que, a exploração petrolífera é um dos principais oxigenadores da economia local. “Esta movimentação é contra o maior plano de privatização da Petrobras desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E também é uma paralisação contra os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional que prejudicam a Petrobras”, argumentou o diretor de coordenação geral do Sindipetro/RN, José Antônio de Araújo.
O sindicalista comentou que o movimento atual tem viés político em decorrência da pressão que os opositores ao atual Governo Federal fazem aproveitando o momento de fragilidade da Petrobras. Além dos escândalos de desvios bilionários descortinados pela Operação Lava Jato, a Petrobras deve aproximadamente 400 bilhões de dólares a investidores internacionais. “É preciso pensar em renegociação de dívidas e não em venda de patrimônio. Isso é retrocesso. Se as vendas de ativo se configurarem, será um desastre para o RN”, defendeu José Antônio de Araújo. A empresa publicou que pretende, até 2018, amortizar a dívida com a captação de 57 bilhões de dólares em vendas de ativos, mas não detalhou quais.
Além deste procedimento, a Petrobras pretende reduzir 130,3 bilhões de dólares em investimentos até 2019, conforme disposto no Plano de Negócios e Gestão 2015/2019. “Nenhuma empresa de petróleo sobrevive sem investir. A Petrobras está fazendo o caminho inverso. Ao invés de ampliar, quer cortar”, lamentou o diretor geral do Sindipetro/RN. A empresa, conforme detalhado por José Antônio de Araújo, que pretendia ampliar a produção de petróleo para 4,2 milhões de barris/dia nos próximos dois anos e meio, deverá expandir somente para 3,0 milhões/dia. O número, porém, deverá ser superado, visto que em maio passado, conforme publicado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a produção atingiu 2,9 milhões de barris.
Investimentos previstos

O Sindipetro/RN chamou atenção para o volume de investimentos previstos pela Petrobras para o Rio Grande do Norte até 2020. “A Petrobras deverá investir 1,5 bilhão de dólares por ano no estado potiguar até 2020. Deverão ser perfurados mais mil poços, com 600 deles em Alto do Rodrigues”, disse José Antônio de Araújo. Atualmente, oito sondas de perfuração atuam no projeto de abertura de novos poços de exploração de petróleo e gás na Região Oeste e também no mar. Nas proximidades da Praia de Tibau, inclusive, foi descoberto um poço, chamado de Pitú, com grande potencial de exploração. De acordo com o Sindipetro/RN, é o primeiro campo potiguar em águas profundas.
“Qual empresa investirá 1,5 bilhão de dólares por ano no Rio Grande do Norte? A Petrobras não pode ser privatizada. Será o fim de milhares de empregos e o colapso de economias de muitos estados”, reiterou o representante do Sindipetro/RN. A assessoria de imprensa da Petrobras no Rio Grande do Norte foi procurada para comentar a paralisação marcada para hoje, mas não atendeu ou retornou as tentativas de contato telefônico.
Cortes não detalhados

O corte de aproximadamente 130,3 bilhões de dólares em investimentos nos próximos cinco anos, anunciado pela Petrobras no dia 29 de junho causou incertezas no setor petrolífero brasileiro e no mercado potiguar.
De acordo com entidades ligadas ao setor, as perspectivas são “nebulosas” enquanto não houver um detalhamento exato das operações que serão desenvolvidas pela Petrobras – principal operadora atuante no Rio Grande do Norte. Até hoje, porém, o detalhamento não foi divulgado pela empresa. O Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 foi aprovado pelo Conselho de Administração da estatal no dia 26 de junho e divulgado para o mercado três dias depois. Pelo novo planejamento, além do corte de investimentos, que chega a 37% em relação ao plano anterior, e maior foco para novos sistemas de exploração e produção, com foco no Pré-Sal, a empresa prevê vender mais de 57 bilhões de dólares em ativos até 2018, como forma de recuperar a saúde financeira. No mercado potiguar, as mudanças anunciadas pelo Petrobras não estão claras.
Tribuna do Norte