GUAMARÉ RN-Paulo Pinheiro alerta para conluio entre Estado e facções


Paulo Pinheiro alerta para conluio entre Estado e facções

Diplomata critica primeiras ações do governo ao negar responsabilidade na chacina, indicando corrupção generalizada
Jornal GGN – O diplomata e especialista em direitos humanos Paulo Sérgio Pinheiro alerta que a postura de membros do governo ante às chacinas nos presídios do Amazonas e Roraima revelam que o Estado Brasileiro age em “conluio com as organizações criminosas”.
Em entrevista ao DW, Pinheiro, que atua como chefe da comissão independente da ONU responsável por investigar violações dos direitos humanos na guerra da Síria, afirma que se ocorressem cinco decapitações na Síria “todo mundo fica horrorizado”.
Ele também criticou fortemente a atitude do presidente Michel Temer de chamar o massacre de Manaus de “acidente”, além das contradições do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, de negar a responsabilidade do poder executivo nas chacinas, revelando um “Estado carcomido e contaminado” pela corrupção e por “acordos não escritos”.
Em entrevista à DW Brasil, diplomata Paulo Sérgio Pinheiro comenta massacres em presídios no Amazonas e em Roraima e reação das autoridades. “Há uma impunidade generalizada em relação às organizações criminosas”, diz.
A reação das autoridades brasileiras às chacinas nos presídios do Amazonas e Roraima, que deixaram um total de 89 mortos, evidenciam o “conluio do Estado brasileiro com as organizações criminosas”, considera o diplomata e especialista em direitos humanos Paulo Sérgio Pinheiro.
A reação inclui a avaliação do massacre em Manaus como “acidente” pelo presidente Michel Temer; as contradições do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao negar a responsabilidade do governo federal nas chacinas; e declarações do governador do Amazonas, José Melo, e do Secretário Nacional da Juventude, Bruno Júlio, que tentaram justificar a morte de presos. Para Pinheiro, tais posturas revelam um “Estado carcomido e contaminado” pela corrupção e por “acordos não escritos” com as facções criminosas que comandam os presídios brasileiros.
“Não interessa ao atual governo, aos empresários e parlamentares comprados por organizações criminosas mudar essa situação”, disse o diplomata em entrevista à DW Brasil. “O que acontece nas prisões é só a ponta do iceberg do tráfico de drogas, da lavagem de dinheiro e da impunidade generalizada em relação às organizações criminosas.”
Pinheiro, que é chefe da comissão independente da ONU responsável por investigar violações dos direitos humanos na guerra da Síria, se surpreende com a reação do Brasil ao fato de que boa parte dos presos mortos foi decapitada. “Ora, por cinco decapitações em Palmira, na Síria, todo mundo fica horrorizado.”
DW Brasil: Como o senhor avalia a posição do governo brasileiro de se eximir da responsabilidade sobre os massacres em Roraima e Amazonas e também de legitimar a morte de presos?
Paulo Sérgio Pinheiro: A posição não poderia ser pior. Esse silêncio do chefe de governo, que esperou vários dias para falar – e para falar bobagem – ocorre porque o governo federal está acuado pelas organizações criminosas. Em muitos estados, as facções fizeram acordos com o governo nas eleições e, depois, para impôr a paz dentro dos presídios. Houve um acordo não escrito com esse circuito criminoso. Hoje, o temor do governo é que, como já está acontecendo, apareçam mais revoltas em outros estados.
No caso de Manaus, o escândalo maior é que, além das execuções, houve 30 decapitações. Ora, por cinco decapitações em Palmira na Síria todo mundo fica horrorizado. Aqui, como no Iraque, jogaram futebol com as cabeças dos presos. E o governador do Amazonas ainda justificou que eles “não são santos”. Que história é essa? Eles não são santos e então mereciam ter sido executados?
Como pode num presídio ter uma placa na cela indicando que ali é a sede do PCC? Quer dizer, quem hoje manda no sistema penitenciário brasileiro são as organizações criminosas. Há um conluio entre o Estado brasileiro e as facções. O que acontece nas prisões é só a ponta do iceberg do tráfico de drogas, lavagem de dinheiro nos bancos e empresas de fachada que não são investigadas. Há uma impunidade generalizada em relação às organizações criminosas. Esse é um dos piores legados da ditadura que permanecem no Brasil, mas que a democracia consolida e aprofunda.
Os governo Federal e estaduais estão acuados pelas organizações criminosas e fazendo acordos com interlocutores criminosos. Como as autoridades podem combater essas facções e tomar de fato o controle sobre o sistema carcerário?
A questão primeira é fazer uma investigação sobre os negócios. A coisa mais simples é adquirir bloqueadores de celular nos presídios e impedir a comunicação dos presos com o mundo externo. Em Manaus não tinha isso, os presos têm celulares à vontade. Em segundo lugar, é preciso investigar o que ocorre fora da prisão. As organizações criminosas financiam mandatos de vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, e o Estado brasileiro sabe de tudo isso, como já mostraram relatórios da Polícia Federal e a CPI do Crime Organizado. Sem contar a possível ingerência das facções no sistema judiciário, influenciando sentenças, absolvições e liminares em favor desses grupos.
Não tem solução mágica. Isso é algo que já está consolidado desde a volta à democracia. Não interessa ao atual governo, aos empresários e parlamentares comprados por organizações criminosas mudar essa situação. O Congresso não tem interesse em denunciar seus apoiares. Boa parte dos mandatos dos políticos são comprados pelas organizações criminosas. Todo o Estado brasileiro está carcomido e contaminado. E essa contaminação é ainda maior devido à ilegimitimidade do atual governo.
Então, não é possível no momento imaginar um sistema carcerário livre de acordos obscuros?
Temos a terceira maior população carcerário do mundo, com quase metade dos presos ainda sem sentença. É algo inadministrável. É preciso esvaziar o sistema carcerário. Agora o ministro incompetente da Justiça está propondo um plano de emergência, que é só para enganar. Uma reforma depende de várias frentes – o Judiciário, a polícia, a administração penitenciária e investigações, principalmente sobre lavagem de dinheiro. E o atual governo não tem nenhuma legitimidade ou autoridade moral para fazer isso. É um governo de réus. Não dá para resolver a questão com um novo plano para o sistema penitenciário quando se delega às organizações criminosas o controle da administração das prisões.
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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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