GUAMARÉ RN-A Lava Jato, o Shopping e o deserto do real, por Fábio de Oliveira Ribeiro


A Lava Jato, o Shopping e o deserto do real, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A Lava Jato, o Shopping e o deserto do real, por Fábio de Oliveira Ribeiro

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FÁBIO DE OLIVEIRA RIBEIRO

DOM, 14/05/2017 – 10:17

Imagem: Pixabay

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Antes de começar a ler vide a sugestão no final.

Hoje fui ao Shopping União, em Osasco, sentei-me próximo às escadas rolantes da Praça de Alimentação e fiquei durante quase uma hora vendo o movimento.

Centenas de pessoas desceram e subiram as escadas rolantes ou entraram na praça de alimentação pelo corredor próximo ao local onde eu estava.

Homens, mulheres, crianças. Idosos, adolescentes, brancos, pardos, negros e mulheres de meia idade. Alguns estavam bens vestidos, outros não. Corpos belos e esguios ou deformados e repugnantes, cada qual insulado em seu próprio universo de referências comerciais, emoções bem ou mal resolvidas e preferências políticas. Uma fantástica amostra de heterogeneidade humana desfilou diante de mim.

Sentado em silêncio comecei a divagar sobre a trilogia dos irmãos Wachowski, distopia em que os seres humanos vivem seus sonhos num ambiente virtual enquanto são cultivados como baterias que sustentam a Matrix. Sob o usurpador Michel Temer a Matrix brasileira está sendo destruída, portanto, todas aquelas pessoas estão fadadas a perder sua fonte de sustentação políticas. Alguma delas tem consciência disso, outras não.

Todas falam a mesma língua, duvido muito que elas consigam se entender se começarem a falar sobre futebol, religião e, principalmente, sobre o que deve ou não ocorrer a Lula. Prestes a ser sacrificado como se fosse Neo da trilogia Matrix, o ex-presidente petista deu uma surra no agente Smith da Justiça Federal. Qualquer que seja o destino que Smith imponha a Lula a Matrix brasileira irá inevitavelmente balançar e, eventualmente, reconfigurada. O resultado é incerto tão incerto quanto o destino de Sati ao fim da trilogia.

Durante todo o tempo que fiquei observando o formigueiro humano não vi nenhuma pessoa conhecida. Apesar de cheio de gente, para mim o Shopping é um deserto. O deserto do real.

Educado por Cypher, Neo se torna capaz de ver o que existe por trás da imensa coleção de números e ícones que deslizam em colunas de cima para baixo nas telas dos computadores da nave Nabucodonosor. Alheio ao movimento não consigo mais ver pessoas. Tudo o que vejo são recipientes de urina e de fezes que deslizam escada acima e escada abaixo. A semelhança da composição química do conteúdo de bexigas e intestinos anula qualquer distinção de idade, cor, raça, sexo, religião, ideologia e aparência externa.

Em algum momento todas aquelas pessoas irão ao banheiro e o resultado será o mesmo. Encanamento abaixo toda aquela matéria orgânica chegará inevitavelmente ao Rio Tietê. O que a periferia faz alguns bairros nobres cheiram. Cypher traiu Neo enquanto saboreava uma bisteca. É possível vê-lo trafegando pelos corredores do Shopping União de mãos dadas com o agente Smith de saias que passa falando mal de Lula. Felizmente ela não é capaz de identificar o código sob o qual minha consciência opera.

O deserto do real se torna uma ficção desértica em minha consciência. Não sinto absolutamente nada. Apenas observo o movimento e registro imagens muito diversas daquelas que se apresentam aos meus olhos. Cultivo minha terceira visão para além daquela que foi construída pela televisão. Não vejo mais as lojas que povoam a praça de alimentação. Tudo que vejo é o consumo de propaganda se deslocando escada acima escada abaixo.

Quem realmente precisa comer frango ensopado de óleo no KFC ou tomar um balde de coca-cola no MacDonalds? Com menos dinheiro é possível fazer uma boa refeição em casa. Desgraçadamente,  o lar perde todo seu brilho quando a televisão está ligada e todos querem manter a ilusão acesa. E muitos ficam conectados à Matrix global até quando estão nos seus carros ou num restaurante do Shopping.

No século XIX Marx disse que a religião era o ópio do povo. Se vivesse no século XXI ele provavelmente diria que o povo é entorpecido por uma droga nova droga, pois até a religião se viu obrigada a passar por uma transmutação tecnológica e visual. Neo, a versão cinematográfica de Jesus, enfrenta um Smith que se multiplica ao infinito à medida que toca cada um dos outros personagens.

Lula, este Neo da política brasileira, enfrenta o código destrutivo que diariamente é infiltrado nas consciências de milhões de pessoas pela Matrix global. Sem qualquer freio, o agente Smith da Justiça Federal segue se multiplicando e adquirindo poder para julgar a consciência do réu, para inquiri-lo sobre crimes que não lhe foram atribuídos para condenar Lula porque a inexistência de prova de propriedade do Triplex é evidência inquestionável de ocultação de patrimônio como disse um jornalista da Folha de São Paulo.

Quantos daqueles recipientes de urina e de fezes que deslizam escada acima e escada abaixo gostariam de ser julgados pelos mesmos critérios que estão sendo utilizados contra Lula? Esta pergunta é irrelevante. Todos os que condenam Lula são incapazes de se colocar na posição do réu. Muitos deles são apenas bits que sobem e descem as escadas rolantes de uma Nabucodonosor ancorada na Matrix global que não levará ninguém a lugar algum.

Sugestão de trilha sonora para desfrutar melhor este texto:

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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